Publicado em 27/11/2015 às 15h00.

Deputados pedem solução para o Estaleiro do Paraguaçu

Crise decorrente da falta de pagamento pela Sete Brasil já levou à demissão de 5 mil operários e praticamente paralisou as atividades

Elieser Cesar
Estaleiro do Paraguaçu, em Maragogipe-BA/Arquivo Secom (Manu Dias) Foto: Manu Dias/GOVBA
Estaleiro do Paraguaçu, em Maragogipe-BA/Arquivo Secom (Manu Dias)

Os 63 deputados estaduais da Bahia assinaram um documento intitulado “Carta à Bahia” em que defendem a retomada das obras do Estaleiro do Paraguaçu, no município de Maragogipe, no Recôncavo baiano. As obras, que chegaram a absorver 7,2 mil trabalhadores na fase de pico, estão praticamente paralisadas em virtude de uma dívida acumulada pela Sete Brasil, que contratou a empresa para construir seis navios-sonda para a exploração da camada pré-sal do petróleo. Em decorrência da crise, a Enseada Indústria Naval, proprietária do estaleiro, demitiu mais de 5 mil operários, desde o final do ano passado. Por enquanto, mantém somente 150 trabalhadores em atividade na Bahia, que se revezam apenas em atividades administrativas e segurança patrimonial. Se a pleno vapor estivesse o estaleiro estaria gerando hoje cerca de 6 mil empregos diretos.

Na Carta, protocolada no Palácio da Governadoria, no Palácio do Planalto, na Casa Civil da Presidência da República e enviada à Petrobras, os parlamentares baianos dizem esperar o engajamento dos governos estadual e federal para a solução do problema, “que atinge milhares de trabalhadores, empreendedores e moradores do Recôncavo baiano, que depositavam no Estaleiro Enseada do Paraguaçu a esperança de redenção econômica da região”.

estaleiro (reduzida)
Bons tempos: visita do então governador Wagner ao estaleiro/Arquivo

Autor da iniciativa suprapartidária, o deputado Hildécio Meireles (PMDB), presidente da Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo da Assembleia Legislativa, acredita que “a soma desses esforços poderá resgatar um dos maiores empreendimentos da indústria naval brasileira”. Ele destacou que o Estaleiro Enseada do Paraguaçu chegou a concluir 82% das obras de engenharia civil, num investimento de R$ 2,6 bilhões de um total previsto de R$ 3,2 bilhões.

Frustração – O gerente de Comunicação da Enseada Indústria Naval, Marcelo Gentil, informou ao bahia.ba que a frustração de caixa da empresa é, hoje, de R$ 1,8 bilhão, decorrente da dívida da Sete Brasil e do atraso da liberação da segunda parcela do financiamento do Fundo da Marinha Mercante, no valor de R$ 600 milhões. A primeira parcela, da ordem de R$ 1 bilhão, foi liberada e integralmente utilizada na implantação do moderno estaleiro baiano.

O atraso levou a Enseada Indústria Naval a demitir em massa, inclusive um seleto grupo de 82 trabalhadores que haviam sido capacitados no Japão pela Kawasaki, empresa acionista e responsável pela transferência de tecnologia, e deveriam replicar o conhecimento adquirido. O treinamento contou com a visita do então governador Jaques Wagner, o que demonstrou a importância estratégica do investimento para a Bahia.  Caso operasse a todo vapor, o estaleiro baiano estaria, atualmente, com 5,9 mil empregados, conforme Marcelo Gentil. E, ainda mais, o primeiro navio-sonda, o Ondina, previsto para ser entregue em 2016, já estaria com mais de 65% das obras realizadas.

Oficina do estaleiro: quase parada/Divulgação
Oficina do estaleiro: quase parada/Divulgação

Fornecedora da Petrobras para a exploração do pré-sal, a Sete Brasil encomendou 28 navios-sonda a cinco estaleiros brasileiros que venceram a licitação para a fabricação dos equipamentos. Citada na Operação Lava Jato, que apura o escândalo de desvio de verbas na Petrobras, a empresa tem tentado, sem sucesso, um empréstimo de R$ 3,7 bilhões junto ao BNDES e o Fundo da Marinha Mercante. A Sete Brasil já avisou à Petrobras que não tem condições de entregar o pacote de 28 embarcações, mas algo entre 15 e 19. Para tanto, precisa reestruturar o contrato com a petrolífera e, o que é mais importante, ter dinheiro em caixa para pagar aos estaleiros. “Não podemos fazer nada, enquanto isso não acontecer, pois não temos a garantia dos contratos”, diz Marcelo Gentil.

Enquanto o impasse permanece, os trabalhadores demitidos do estaleiros ficam, literalmente, a ver navios.

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