Embaixador grego buscava reaproximação com Brasil; Temer lamenta morte
Presidente enviou um memorando ao primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, e outro ao presidente Prokopis Pavlopoulos
O presidente Michel Temer (PMDB) afirmou, em carta enviada a autoridades gregas, que as circunstâncias da morte do embaixador da Grécia no Brasil, Kyriakos Amiridis, estão sendo objeto de “cuidadosa investigação” por parte do governo brasileiro. Temer enviou um memorando ao primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, e outro ao presidente Prokopis Pavlopoulos.
“As autoridades competentes estão conduzindo rigorosa investigação para esclarecer as circunstâncias do ocorrido e julgar os responsáveis. O governo brasileiro reafirma sua disposição de colaborar ativamente com a parte grega”, diz a carta enviada ao presidente. Ao primeiro-ministro, Temer afirmou que “o Brasil associa-se à Grécia nesta hora de luto” e que a morte do embaixador lhe causou “profunda tristeza”.
O corpo do embaixador grego foi encontrado num carro carbonizado e abandonado no Arco Metropolitano, anel viário da Região Metropolitana do Rio, na entrada de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Segundo a Polícia Civil, a motivação do crime teria sido passional.
O delegado responsável pelas investigações já pediu à Justiça a prisão de quatro pessoas que teriam planejado o assassinato, entre elas a mulher brasileira do diplomata, a embaixatriz Françoise de Sousa Oliveira Amiridis, e o policial militar Sérgio Gomes Moreira Filho. O policial teria um relacionamento amoroso com Françoise.
Projeto – O embaixador Kyriakos Amaridis tinha como principal projeto em Brasília a reaproximação com o meio político brasileiro, algo que não ocorria há pelo menos uma década. Ao assumir o posto, tinha a ideia de retomar as relações com ministros, deputados e senadores.
“Ele queria achar um chão político e estreitar os laços com pessoas importantes da Esplanada, mas acabou viajando muito e não conseguiu implementar isso como queria”, disse o presidente da Comunidade Grega de Brasília, Dionyzio Klaudianos.
Amaridis se inspirava na atuação de um de seus antecessores, Efstratios Doukas, embaixador na capital federal entre 2000 e 2003. Doukas mantinha uma agenda ativa com políticos: durante sua gestão, reuniu-se com ministros – como o do Esporte e Turismo, Caio Luiz de Carvalho (2002), e o da Cultura, Gilberto Gil (2003) – e fez visitas a parlamentares do Congresso Nacional e a reitores de universidades.
O embaixador grego assassinado almejava retomar essa agenda. Nos últimos meses, estava preocupado com as comparações das crises econômicas brasileira com a de seu país. Chegou a escrever uma carta para o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), depois de o político afirmar que o Brasil “estaria caminhando a passos largos” para se tornar uma Grécia, que enfrenta crise financeira desde 2010. O jornal “O Estado de S. Paulo” não conseguiu contato com o senador para esclarecer o conteúdo do documento.
Outra de suas intenções era reconquistar ajuda financeira para a embaixada, freada desde que se aprofundou a crise econômica na Grécia. Segundo Klaudianos, ele era considerado uma figura “carismática, prestativa e de excelente caráter”.
A natureza da relação dele com a esposa, a brasileira Françoise Amaridis, não era muito conhecida pela comunidade grega brasiliense. Apesar de ela ter ajudado na organização da Feira das Embaixadas, tradicional evento anual da cidade, não se fazia presente na maioria dos principais momentos solenes do marido. Na missa dominical que ele costumava frequentar, ela não o acompanhava.
Família – O embaixador, 59 anos, era casado com Françoise havia 15 – e com ela tinha uma filha de 10 anos. Conheceram-se quando ele chegou ao Brasil para assumir o cargo de cônsul-geral da Grécia no Rio de Janeiro, onde permaneceu até 2004. “Ele era tido como solteiro por toda sociedade carioca. (…) Foi o bachelor oficial dos jantares elegantes, (…) escoltando senhoras e jovens senhoras desacompanhadas. Muitas tentaram namorá-lo, porém sem sucesso. (…) Elegantemente, Kyriakos não dava esperanças a elas. Era um homem fiel a Françoise”, escreveu em seu blog a jornalista Hildegard Angel, “amiga de muitos anos” do embaixador.
Às vésperas de ser transferido do Rio de Janeiro para a Holanda, em 2004, o casal Amaridis teve sua casa invadida por um assaltante que, ao ser preso, admitiu ter matado os norte-americanos Todd e Michelle Staheli (ele, diretor de Gás e Energia da Shell), que moravam no mesmo condomínio do grego, na Barra da Tijuca. O caso, à época, comoveu o País.
Hildegard, filha da estilista Zuzu Angel, compartilhou um e-mail que recebeu de Kyriokos em 8 de janeiro, pouco antes de ele assumir como embaixador da Grécia no Brasil. Na mensagem, ele diz que retornar ao País seria uma “satisfação” e uma “alegria”, já que o Brasil lhe proporcionou “lindas memórias” e “fortes amizades”. A jornalista relata que, ao conhecer Françoise, percebeu que ela era simpática, mas “não tinha o traquejo e a postura usuais em mulheres de diplomatas ou habituadas ao convívio social”.
Kyriakos nasceu na cidade grega de Véria, na Macedônia, em 1957. Graduou-se em Direito no mesmo país e se especializou em Direito Penal Internacional em Paris. Sua carreira diplomática iniciou em 1985, em Atenas, quando começou a trabalhar para o Ministério de Relações Exteriores.
Sua primeira posição internacional veio três anos depois, quando foi deslocado para Belgrado, na Sérvia. Passou ainda por Bruxelas e pela Líbia. No Brasil, tomou posse como embaixador em janeiro, quando a presidente ainda era Dilma Rousseff, e recebeu a credencial oficial do Palácio do Planalto em maio, de Temer, à época interino. A conversa entre ambos foi “protocolar” e durou cerca de 3 minutos.
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