Publicado em 29/12/2015 às 08h11.

Incêndio na Estação da Luz afeta transporte de carga para Santos

O bloqueio prejudica também os 200 mil passageiros diários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)

Agência Estado

O incêndio no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, no centro de São Paulo, interrompe há vários dias o transporte ferroviário de cargas entre o Porto de Santos e a produção de São Paulo e Estados do Centro-Oeste. A MRS, empresa de logística que opera o trecho, vem organizando com clientes um esquema alternativo para o escoamento de mercadorias, mas não tem previsão para retomada do serviço.

O bloqueio prejudica principalmente os 200 mil passageiros diários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que usam a Luz. A MRS não informa o número de viagens que deixaram de ser feitas pelos trens de carga – segundo a CPTM, por dia são feitas, em média, 40 viagens de composições de cargas na rede, no horário entre picos (das 10 horas às 16 horas) e durante a madrugada. Ao todo, três linhas têm operação compartilhada entre cargas e passageiros.

A MRS transporta o que o setor chama de carga geral: granéis agrícolas respondem pela maior parte do fluxo, mas há também cimento, bauxita, minério de ferro e produtos industrializados, que são transportados em contêineres.

Segundo o gerente-geral de comunicação da MRS, Marcelo Kanhan, a divulgação dos números poderia prejudicar os clientes. “Somos uma prestadora de serviços. Quando falamos de cargas paradas, podemos ter alguma implicação para nossos clientes. Então, por uma questão de sigilo comercial, ficou combinado que não faríamos a divulgação. Os clientes pediram isso. São empresas muito grandes, normalmente com papéis negociados na Bolsa.”

Outro argumento, segundo o porta-voz, é que a natureza da operação dificulta a contagem. “Embora seja um pouco estranho para quem não conhece a operação de perto, a gente não tem uma regularidade absoluta. A programação dos trens é feita mensalmente, mas ela é organizada praticamente em base diária”, afirma.

Mas Kanhan admite o problema. “Existe um impacto. Estamos impedidos de atravessar a região metropolitana. É significativo, mas dá para gerenciar a situação por mais uns dias. O que estamos fazendo é adequando toda a cadeia da produção, desde o carregamento e o envio de novos trens, e escalonando tudo em um passo mais lento, justamente para não criar um gargalo para os trens ali no pátio da entrada da rede da malha da CPTM, em Jundiaí”, informa. “Os clientes estão todos avisados. Existe essa perspectiva de o fluxo ser retomado na quarta-feira (30) e estamos aguardando. Vamos buscar, depois, algum meio de acelerar um pouco a produção.”

Porto – Na outra ponta da cadeia de distribuição, o Porto de Santos informou que a paralisação ainda não causa congestionamento de navios. Segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), as mercadorias que chegam pela estrada de ferro não vão direto para os navios, ficam nos depósitos do porto. Assim, a previsão é que só ocorra algum tipo de anormalidade caso a paralisação persista por mais dias.

Liberação – O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) exigiu, no domingo (27), novas obras de reforço das estruturas para que o tráfego de composições seja liberado. Além de quatro estruturas de sustentação nas paredes, outras seis precisam ser instaladas para garantir a segurança. Uma nova vistoria do IPT deve ocorrer nesta quarta-feira (30) quando há expectativa, por parte da CPTM, de liberação da circulação tanto de trens de carga quanto de passageiros.

O fogo começou no primeiro andar do Museu da Língua Portuguesa e se espalhou pelo prédio. A suspeita é que um curto-circuito em uma das luminárias tenha sido a fonte das chamas. As vigas de madeira da parte superior do edifício, construído no século 19 e reformado duas vezes, foram destruídas. Um brigadista do museu teve parada cardiorrespiratória decorrente da inalação da fumaça na hora do incêndio.

Ressarcimento – A MRS Logística descarta, a princípio, algum tipo de medida de ressarcimento de prejuízos com a CPTM, segundo o gerente Marcelo Kanhan. “É um evento de força maior”, afirma. “Nesse caso, acho que não (há como cobrar eventuais prejuízos à CPTM). Isso foi um acidente, não havia nada que a CPTM pudesse ter feito para que fosse evitado.”

O tráfego para Santos é feito no mesmo ramal ferroviário aberto no século 19, que hoje é usado por CPTM e MRS por meio de um acordo de operação. A prioridade é o transporte de passageiros, o que empurra o transporte de cargas para horários alternativos

O compartilhamento da via pelos dois tipos de transporte reduz a quantidade de cargas que podem ser transportadas e, ao mesmo tempo, impede a adoção de sistemas de sinalização de trens de passageiros mais eficientes.

A Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos e o governo federal discutem desde 2010 a construção de um ramal para separar os dois tráfegos. O “ferroanel” tem traçado projetado ao lado do trecho norte do Rodoanel Mario Covas, na zona norte da capital, mas incertezas quanto ao financiamento emperram a empreitada.

A assessoria de imprensa da CPTM foi questionada sobre eventual responsabilidade com a MRS e seus clientes, mas não enviou nenhuma resposta.

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