Publicado em 13/06/2016 às 07h16.

PIB potencial cai de 3,5% na década passada para 1% em 2016

A desaceleração da China, o momento do mercado de commodities, a má gestão da macroeconomia doméstica e a falta de reformas são as causas

João Brandão
A fórmula para o cálculo leva também em conta a variação do Produto Interno Bruto (PIB). (Foto: Marcos Santos/USP Imagens/Fotos Públicas)
(Foto: Marcos Santos/USP Imagens/Fotos Públicas)

 

A capacidade do Brasil de crescer sem gerar inflação caiu a menos de um terço do observado há poucos anos. Estudo realizado pelo economista para o Brasil do banco espanhol BBVA mostra que o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial caiu de uma média de 3,5% entre 2004 e 2010 para cerca de 1% em 2016. A desaceleração da China, o momento do mercado de commodities, a má gestão da macroeconomia doméstica e a falta de reformas são citadas como causas para a queda significativa do PIB potencial do Brasil.

“A deterioração geral da economia brasileira nos últimos anos produziu uma redução significativa na capacidade do País de crescer sem gerar distorções”, diz o economista do banco espanhol para o Brasil, Enestor dos Santos. O estudo cita que o PIB potencial de 2015 ficou em 2,2%. Portanto, o indicador de 2016 caiu para menos da metade.

O PIB potencial é uma projeção feita por analistas sobre a capacidade da economia de um país de crescer sem gerar distorções, especialmente aumento da inflação. Quanto maior esse indicador, mais espaço a economia tem para avançar sem provocar gargalos.

No estudo do BBVA, Enestor dos Santos cita que o PIB potencial do Brasil caiu como resultado da conjunção de fatores internos e externos. “A desaceleração da China, a consequente queda no preço das commodities, a má gestão das políticas econômicas locais, a falta de reformas para estimular a produtividade interna, entre outros fatores, têm contribuído para a queda do PIB potencial”. Com esse quadro, o economista cita que cada um dos componentes do PIB potencial tem mostrado deterioração: o capital, o trabalho e a produtividade global.

Santos dá como exemplo três grandes movimentos que aconteceram nos últimos anos. No investimento, a formação bruta de capital fixo caiu cerca de 25% entre 2013 e 2015. “Isso reduz a contribuição do capital físico para o crescimento”, diz. No mercado de trabalho, o desemprego subiu de menos de 5% em 2014 para mais de 8% no início do ano. “Tornando menos relevante a contribuição do trabalho para o crescimento doméstico”. Por fim, o economista nota que o Brasil perdeu posições em indicadores de produtividade, como o ranking do Banco Mundial sobre a facilidade de fazer negócios.

Década – O estudo mostra que o PIB potencial deve continuar próximo do atual patamar no médio prazo. Para o período entre 2016 e 2020, o BBVA prevê média de 1,1%. Antes, o economista previa 2,2% para o período. Santos explica que a perspectiva de PIB potencial mais baixo para o restante da década é resultado “não só da deterioração registrada nos últimos anos, mas também por perspectivas menos positivas para o futuro”.

Para além de 2020, Santos diz que “alguma melhora é provável” e o número deve subir para 2%. Apesar dessa reação na próxima década, o indicador não retornaria para a média observada na década passada.

“A convergência mais rápida para um nível de crescimento potencial mais elevado poderia ser alcançado com a adoção rápida de reformas econômicas relevantes, como do sistema político, do sistema de Previdência Social, do mercado de trabalho e do sistema fiscal”, cita. Santos nota, porém, que essa onda de reformas “parece improvável”.

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