Publicado em 21/02/2017 às 09h15.

1° filme de Godard, dado como perdido, aparece inteiro no YouTube

“Une Femme Coquette” é uma produção de 1955, baseado em um texto de Guy De Maupassant e antecipa a revolução sexual dos anos 1960

James Martins
Foto: Divulgação
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Num poema recente, “TVGRAMA 4 – Erratum“, Augusto de Campos revê uma afirmação feita no início da série. Se no primeiro “TVGRAMA” ele assegurava ao francês Stéphane Mallarmé que tudo existia “pra acabar em tv”, neste “tudo existe / pra acabar em youtube”. Pois mais uma vez o poeta está certo. Um dos filmes mais raros do mundo, dado como desaparecido, apareceu completo no site.

É nada menos que “Une Femme Coquette” (‘Uma Mulher Faceira’, em tradução livre), o primeiro curta metragem de ficção de Jean-Luc Godard. A produção de 1955 é filmada em preto e branco e, em seus 9 minutos, já demonstra a energia e rebeldia que marcariam “À Bout de Souffle (‘Acossado’)”, seu primeiro e revolucionário longa, bem como a nouvelle vague como um todo, antecipando inclusive a revolução sexual dos anos 1960.

Baseado em uma história escrita por Guy De Maupassant, o curta mostra as tentativas de uma jovem de flertar com um estranho. Agnès (Maria Lysandre), uma jovem burguesa de Genebra, escreve, e narra, uma carta para uma amiga contando como acabara de trair o marido. Fascinada pelos gestos e atitudes adotados por uma prostituta para atrair seus clientes, Agnès decide imitá-la e seduz o primeiro homem que vê (Roland Tolma), em um banco de jardim.

A produção traz uma aparição do próprio Godard, então com 24 anos, e foi readaptada no clássico longa-metragem “Masculino-Feminino” (1965). Curiosamente, o diretor é creditado com um pseudônimo, Hans Lucas, que Godard usava para escrever críticas.

Outra curiosidade é que, quanto à temática, o primeiro filme de Godard mantém relações com o primeiro de Glauber Rocha, “Cruz na Praça”, de 1959. Este sumido de fato. No entanto, o filme do brasileiro (que, por sinal, aparece em uma película de Gordard, “Le Vent d’Est”, onde cita versos de “Divino, Maravilhoso” – de Caetano & Gil), vai ainda mais longe na quebra de barreiras sexuais. “Cruz na Praça” trata de um flerte, um romance homossexual, vivido entre Anatólio de Oliveira e Luiz Carlos Maciel.

Temas: Cinema , curta , youtube , godard

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