Publicado em 16/11/2016 às 17h45.

‘Rifle’, de Davi Pretto, é monótono como os pampas gaúchos que retrata

Vencedor de melhor roteiro do Festival de Brasília, o filme é bem-sucedido ao contar a história de um personagem que é, ao mesmo tempo, animal e predador

Clara Rellstab

“Rifle”, de Davi Pretto, exibido no Panorama Internacional Coisa de Cinema neste domingo (13), mostra o ato de resistência que é para os pequenos agricultores e pecuaristas, permanecer nos pampas gaúchos em tempos das grandes plantações de soja. O segundo filme do diretor, no entanto, fica longe da excelência alcançado no estreante “Castanha” (2014), que teve sua primeira exibição no Festival de Berlim, na Alemanha.

Realizado com atores não profissionais, escalados nos locais de filmagem, o longa gira em torno de Dione, um jovem ex-soldado do exército empregado em uma pequena fazenda. Introvertido e apaixonado pela rotina bucólica, ele é surpreendido com a ameaça da venda das terras onde trabalha. Talvez pela falta de experiência dos artistas, a compreensão dos diálogos – por conta do forte sotaque e da dicção sofrível –, fica bastante prejudicada. A má compreensão do som falado não se reflete, entretanto, na qualidade da captação do som ambiente, que talvez seja o ponto mais forte da obra. O barulho ensurdecedor do silêncio interiorano chega a incomodar, mas de um jeito bom.

Sem perspectiva, o rapaz decide resolver a situação da maneira que aprendeu durante os anos em que serviu à pátria: na bala. Acompanhado de seu rifle, ele atira, às vezes de maneira aleatória, em toda e qualquer ameaça que surge em sua jornada. Ao ler esta descrição, provavelmente a narrativa soa como a de um filme de western das antigas. Talvez fosse melhor assim, porque toda a ação está subentendida, o que atrapalha de maneira radical a velocidade da trama.

Vencedor de melhor roteiro do Festival de Brasília, “Rifle” é bem-sucedido ao contar a história de um personagem que é, ao mesmo tempo, caça e caçador. De resto, passa despercebido.