Publicado em 13/01/2017 às 13h03.

‘Adalgisa mandou dizer que o Bonfim tá vivo ainda lá’; veja Fotos!

Mesmo sem atrações tradicionais, como as carroças e bicicletas enfeitadas, a Lavagem do Bonfim se mantém e renova

James Martins
Criança faz pose durante cortejo. Renovação (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Criança faz pose durante cortejo. Renovação (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).

 

A única festa do Senhor Morto, em todo o mundo, que tem caráter eminentemente feliz e alegre é a famosa Lavagem do Bonfim de Salvador. Isso graças à confluência com as Águas de Oxalá, à influência do elemento negro, afrobaiano. Afinal, se “a tristeza é humana, a alegria é africana”, como disse o poeta Capinan. Porém, a Lavagem do Bonfim não é mais a mesma, conforme lamentam muitos, sobretudo os mais velhos. Certamente não é. E talvez tenha de fato perdido elementos fundamentais, base de sua alegria e esplendor.

Mas o fato é que a festa continua, novas tradições e alegorias se criam e, combinadas às antigas que permanecem, criam uma nova festa, em consonância com os dias atuais. “Não tem mais carroça, mas têm os carrinhos de DJs, que também são enfeitados, microtrios inspirados nos carrinhos de café. Isso é uma novidade”, diz o eletricista Carlos Arouca. E completa, zombeteiro: “Como existe a expressão ‘jega de lavagem’, no futuro vão falar nos DJs de lavagem, como exemplo de extravagância”.

O carrinho enfeitado do DJ Paulo, a nova 'jega da lavagem' (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
O carrinho enfeitado do DJ Paulo, a nova ‘jega da lavagem’ (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).

 

E mesmo costumes arcaicos, elementos estruturantes da própria celebração, como as baianas, ganham a adesão de jovens que poderiam muito bem estar batendo perna nos shopping centers da vida, mas fazem questão de curtir a festa. É o exemplo de Cláudia e Mariana, moradoras de Itapuã, que há três anos vêm devidamente paramentadas à Conceição da Praia, de manhã cedinho, de onde seguem até a Colina Sagrada. “Não pretendo deixar de vir nunca mais, só se acontecer alguma coisa para me impedir”, diz Cláudia, de 22 anos.

Mais velho que elas, mas também parte da renovação do Bonfim, o artesão Aldonildo, conhecido como “O Rei da Palha”, já é figura carimbada na festa há quase 20 anos. “Tem ano que é mais forte, tem ano que é mais fraca, mas eu sempre faço questão de participar. Só não vim uma vez, quando caí doente, mas, desde que comecei a trançar, sempre estive aqui, de lei”, diz.

Cláudia e Mariana vêm de Itapuã com prazer e devoção (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Cláudia e Mariana vêm de Itapuã com prazer e devoção (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Há quase 20 anos expondo na festa, O Rei da Palha já é figura certa (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Há quase 20 anos expondo na festa, O Rei da Palha já é figura certa (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).

 

Sem falar nas figuras mais que folclóricas, malucas mesmo! A Bahia é pródiga em produzi-las e, se algumas das mais marcantes já não podem mais ser vistas nas festas de largo, sempre surgem novas, como a drag Paulete, que vem de Praia do Forte só para perturbar todo mundo que passa. “Eu quero é arranjar um bofe para ir daqui até lá no Bonfim montado no lombo dele”, brinca.

Paulete procura um bofe (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Paulete procura um bofe (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Ainda Paulete: Detalhe bafônico! (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Ainda Paulete: Detalhe bafônico! (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).

 

Uma perda realmente difícil de substituir é a das barracas decoradas, cada uma com seu tema, pintadas por artistas populares. Hoje elas só podem ser vistas nas fotos de Adenor Gondim e outros guardiães de nossa memória visual. No lugar delas, barracas padronizadas, distribuídas por cervejarias, enfeiam as ruas. Em compensação, o pessoal do Carnajão Elétrico cobriu um carro com um tecido florido, despadronizando o fordismo.

Por falar nisso, é quase unânime que a proibição dos trios elétricos só fez bem à festa. Hoje, a prática são carros pequenos, minitrios, no máximo, como os que os blocos afro, Ilê Aiyê e Muzenza, entre outros, trazem ao cortejo. Vovô, presidente do Ilê, ressalta que a agremiação já participa do Bonfim há mais de 35 anos.

A seguir, separamos algumas cenas da festa desta quinta-feira (12). Todas as fotos são de Izis Moacyr:

A vendedora de catavento resiste à era dos smartphones e tablets infantis.
A vendedora de catavento resiste à era dos smartphones e tablets infantis
Famosa na Praça da Sé, a estátua viva também veio renovar a fé no Senhor do Bonfim.
Famosa na Praça da Sé, a estátua viva também veio renovar a fé no Senhor do Bonfim
O famoso Capitão Amé... quer dizer, Capitão BBMP!
O famoso Capitão Amé… quer dizer, Capitão BBMP!
É o Capitão Jack Esparro?
É o Capitão Jack Esparro?
Batendo o feijão, miserê!
Batendo o feijão, miserê!
A Rainha Momo e seu irmão.
A Rainha Momo e seu irmão: chocolat suisse!
o cabeleireiro Oliver...
o cabeleireiro Oliver…
...e a sambista Gal do Beco. Celebridades!
…e a sambista Gal do Beco. Celebridades!
"O Mais Belo dos Belos".
“O Mais Belo dos Belos”.
Muzenza - Guerrilheiro!
Muzenza – Guerrilheiro!
"Belezas são coisas...
“Belezas são coisas…

meninos no bonfim

a galera

agua

casal

preta

senhor elegante

...acesas por dentro".
…acesas por dentro”.

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