Alexandre Augusto estreia na fotografia com exposição ‘Mulheres de Pedra’

A vida dos trabalhadores de campo é algo pouco tratado no cenário do Brasil atualmente. O jornalista e escritor Alexandre Augusto traz essa realidade na sua primeira exposição fotográfica, intitulada “Mulheres de Pedra”. Durante uma viagem à Chapada Diamantina, mais precisamente em Itatim e Itaetê, ele conheceu mulheres que quebram blocos de pedras gigantescos como forma de sustento em troca de R$ 55 a cada mil paralelepípedos talhados. A intimidade ocasionada pela convivência gerou a exposição, que será aberta no Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves – Centro), no próximo dia 24, às 19h, para convidados e no dia 25, para o público.

O projeto Mulheres de Pedra reúne 21 fotos das cidadãs com um sentimento em comum: dignidade. Muitas delas, como a octagenária Dona Umbelina, herdam os ofícios dos pais e os homens são os encarregados por carregar as rochas da região. Alexandre conta que numa pesquisa feita na internet, encontrou a pintura “Stone Worker”, feita em 1943 por Diego Riviera, na qual um operário esculpe um bloco de pedra. O jornalista evidenciou que hoje, mais de 70 anos depois, eles ainda usam as mesmas ferramentas.

Sobre a inspiração para criar suas obras, ele disse: “Meu primeiro sentimento foi achar aquilo tudo uma exploração. Foi quando uma das senhoras mais velhas da pedreira me disse: ‘Moço, meu pai foi cortador de pedras e eu faço isso desde menina. Agradeço a Deus todos os dias pela pedra. Foi com a pedra que criei meus filhos. É com a pedra que hoje eles criam meus netos’”. E continuou: “As mulheres da Chapada trabalham de sol a sol para botar comida na mesa. Mesa que de noite elas vão arrumar para os maridos e filhos. É isso que quero mostrar com as minhas fotos. Foi isso que os meus olhos viram. A dignidade dessas mães, esposas e filhas. Mulheres de Pedra tanto no sentido mais literal quanto no mais poético. Força, beleza, aridez, delicadeza… tudo junto”.

Em seu primeiro projeto como fotógrafo profissional, Alexandre se lançou com a bagagem de quem escreveu a biografia do sambista carioca Moreira da Silva (“O Último dos Malandros”, 1996) e produziu uma série de reportagens durante os cinco anos que viveu em Angola. A familiaridade com as lentes se aprofundou quando morou em Londres, onde comprou equipamentos e frequentou vários cursos. Admirador de Pierre Verger e Sebastião Salgado, diz que o mais importante é saber contar histórias e prefere não rotular seu estilo.

Na exposição, os visitantes serão convidados a fazer uma trilha visual por cidades perdidas. A chuva não cai e as cores no cinza quem dá são as mulheres com camisas enroladas no corpo, esmaltes nos pés descobertos e combinações de roupas que soariam fashion em qualquer editorial de moda despojado. As crianças e os homens figuram a cena por fazer parte da família, assim como a casa com seus quartos, mosquiteiros e altares com imagens de santos e Yemanjá.
“Mulheres de Pedra” é dedicada à avó de Alexandre. “A mulher mais forte que conheci. Sertaneja que morou numa colônia rural do Incra, na cidade de Santa Brígida, nos anos 60. Teve de ficar quase uma década morando longe dos filhos. Lembrei dela muitas vezes durante esse projeto. As mulheres têm importância extrema na minha vida. Além da minha avó, tenho o exemplo da minha mãe. Viúva que criou os cinco filhos sozinha. Ela foi mãe, pai, chefe de família. É mais uma mulher de pedra na minha vida”.

A jornalista Josélia Aguiar, escritora e atual curadora da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), escreve o texto de apresentação da mostra.

SERVIÇO

O QUE:  Exposição Mulheres de Pedra, de Alexandre Augusto

QUANDO: Abertura dia 24/5, às 19h, para convidados. Visitação de terça a domingo, das 14 às 19h. Até 30/7.