Publicado em 17/05/2017 às 11h00.

Armandinho: ‘O bandolim de 8 cordas está com os dias contados’

O músico revela como inventou o instrumento de 10 cordas, que, mesmo sem ficar bom, serviu de inspiração para Hamilton de Holanda, seu principal difusor

James Martins
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

O projeto “Vozes do Bandolim”, que reúne Armandinho e Hamilton de Holanda, dois dos maiores virtuoses do instrumento no mundo, acontece em Salvador entre os próximos dias 25 e 27, no Espaço Caixa Cultural (Rua Carlos Gomes), sempre às 20h. No sábado (27) acontece ainda uma apresentação extra, às 18h. Os ingressos serão vendidos a preços populares a partir do dia 25, às 9h, na bilheteria da própria Caixa Cultural.

Em entrevista ao bahia.ba, Armandinho lembra a criação do bandolim de 10 cordas, instrumento concebido por ele e difundido mundialmente por Hamilton. “Ele conheceu o meu, porque eu fiz um bandolim de 10 cordas, mas não ficou muito bom e eu o deixei guardado. Aí Hamilton foi passar uns dias lá em casa, durante o carnaval, e conheceu o bandolim de 10 cordas. E eu nem sabia que ele tinha gostado… ele também não falou nada… mas, um tempo depois, ele estava lançando o dele, de 10 cordas. E passou a ser o representante, não é? Porque ele é um menino estudioso, um músico maravilhoso. Ele é a evolução do bandolim!”, diz.

Ainda sobre isso, Armando Macedo, que aos 15 anos se destacou nacionalmente no manejo do instrumento, ao vencer o concurso do programa “A Grande Chance”, de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi, traça uma linha evolutiva que sai de Jacob do Bandolim, passa por ele e chega até Hamilton: “Eu tive uma evolução pós-Jacob, uma evolução ligada à guitarra, ao rock, à música pop. E o Hamilton já é mais ligado com o jazz, já leva a música instrumental a outro patamar”.

Questionado sobre as intenções estéticas que o conduziram ao bandolim de 10 cordas, ele revela também o que não deu certo em seu projeto pioneiro: “Eu queria tirar a sonoridade do acústico, natural, mas o menino que fez aqui, o Jorge Itacaranha, não tinha habilidade com instrumento acústico. Então ele fez um semiacústico. Não teve aquele som natural do bandolim, que era o que eu buscava”.

Antes ainda, o artista já tinha estabelecido modificação semelhante no instrumento símbolo de sua família, a guitarra baiana. “Mas eu já tinha feito, muito tempo antes, a guitarra baiana de cinco cordas. A partir de [19]83 eu comecei a fazer essas guitarras e foi aí que mudou… todo mundo começou a fazer igual”. E completa: “Essa coisa de uma corda a mais é a mesma coisa de você ter um piano deste tamanho e fazer um maior. Você tem mais recursos, vai mais nos graves… Tudo isso é uma busca de recursos melódicos, harmônicos… e essa busca que eu fui tendo, no caso do cavaquinho, para aproximar ele da guitarra, em uma banda, eu precisava ter mais graves e botei essa quinta corda. Difícil é voltar atrás depois que você experimenta a corda a mais. Eu acho que o bandolim de oito  cordas está com os dias contados”, diz.

Armandinho lembra ainda que não conseguiu viabilizar facilmente, em escala industrial, seus sonhos sonoros: “E o bandolim a mesma coisa. Só que ia na fábrica e ninguém queria fazer, porque precisava toda uma estrutura para fazer um único bandolim pra mim. Ninguém imaginava que isso aí ia ser uma coisa que ia ser consumido por outros instrumentistas. E hoje em dia o Hamilton de Holanda espalhou, difundiu o bandolim de 10 cordas para o mundo inteiro”.

Ele conclui, com justo orgulho: “Graças a isso o Brasil é pioneiro nesses instrumentos: bandolim de 10 cordas e guitarra baiana de cinco cordas! A Fender já vem fazendo as guitarras baianas de cinco cordas. Tudo a partir daí, das modificações que nós implantamos”.

Workshop – Na sexta-feira (26), das 15h às 16h, Armandinho e Hamilton ministram uma oficina em que abordam a história, criação, técnicas e a arte da improvisação no uso do bandolim de 10 cordas. Podem participar músicos que toquem qualquer instrumento. Os interessados devem se inscrever a partir das 14h do próximo dia 25, na recepção da Caixa Cultural, mediante entrega de 1 kg de alimento não perecível. Serão selecionados os 30 primeiros inscritos.

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