Publicado em 01/02/2018 às 16h28.

Bell Marques diz usar ‘podres poderes’ para ganhar processo na Justiça

Gravação de conversa entre ex-integrante da banda e o cantor, obtida com exclusividade pelo bahia.ba, é peça de processo na 12ª Vara do Trabalho de Salvador

Redação

 

Foto: divulgação
Foto: divulgação

 

Em outubro de 2015, o músico Ricardo Erick de Andrade (à esquerda na foto) entrou na Justiça contra Bell Marques requerendo direitos trabalhistas que alega não terem sido cumpridos durante o período de um ano e meio em que fez parte da banda do cantor. Mas o que poderia ser mais um caso comum na Justiça do Trabalho ganha aspecto que chama atenção para o caso. O violoncelista gravou conversas durante o período de negociação com Bell Marques. O material foi transcrito e anexado ao processo de 558 páginas.

Em um dos trechos transcritos do áudio gravado durante conversa entre o músico e o cantor, antes do início do processo, Bell Marques sugere que teria influência no judiciário.

Ricardo:  “Ah!, a Justiça funciona assim, né? A Justiça é demorada, a gente sabe”.

Bell: “Não é que a Justiça seja demorada. A Justiça é até rápida, mas os poderes é que são demorados. Faz com que as p**** ‘tira’ dessa gaveta, bota nessa, tá na mão do juiz, ‘cê’ já conhece o juiz, o juiz vai lá, joga naquela… pronto. É isso que faz a Justiça”.

Para justificar essa afirmação, Bell Marques relembra o caso do Cacique Johnny, ex-integrante da banda Chiclete com Banana que também entrou na Justiça contra o cantor.

Bell:  “Eu levei com Johnny 8 anos. Ganhei todas. Não fiz acordo. Ganhei todas. […] Porque Johnny, quando me botou na Justiça, ele ligou depois dizendo assim: ‘Rapaz, foi o advogado que me induziu’. […] Cara, ‘cê’ ia f**** com a minha vida e agora diz que o advogado lhe induziu? Agora que você tá perdendo a questão, você tá querendo fazer um acordo comigo? Aí é sacanagem”.

PODRES PODERES

Em outro trecho da conversa, o violoncelista Ricardo de Andrade fala da possibilidade de acionar a Justiça. É quando Bell Marques utiliza uma letra de Caetano Veloso e fala do que pode fazer para conseguir o resultado em seu favor no final do processo.

Ricardo: “Mas entenda por que eu falei em Justiça…”

Bell: “Não, rapaz, eu ‘tô’ me colocando aqui, sempre dizendo a você o seguinte: É assim… Me desculpe, porque você tá certo. Eu é que estou errado. Mas na hora que o cara diz assim pra mim: ´Vou fazer isso’…”.

Ricardo: “Não é questão de certo ou errado. É questão do que funciona e do que não funciona, né?”

Bell: “Isso. Aí eu disse: ‘Pô, eu não quero fazer isso com Ricardo. Se ele fizer isso comigo eu não tenho o dinheiro pra pagar ele. A minha única saída na Justiça é eu bloquear ele’. E aí eu uso meus todos podres poderes e fico lá brincando com você”.

Ricardo: “Certo.”

[…}

Bell: “Então, é isso que eu ia lhe dizer. Você tem a opção, Ricardo… e se você levantasse daqui dizendo: ‘Bell, eu vou lhe botar na Justiça’, Juro por Deus, eu não estaria contra você”.

Ricardo: “Unhum”.

Bell: “Tá certo? A única coisa que eu ficaria doente, seria pra dizer assim p****, eu vou ter que me defender.”

Ricardo: “Unhum”.

Bell: “E pra eu me defender, eu vou lhe sacanear”.

Ricardo: “Entendi”.

BELL MARQUES ALEGA PROBLEMAS FINANCEIROS PARA NÃO PAGAR A EX-MÚSICO

No áudio, anexado ao processo, Bell Marques reconhece a dívida e a legitimidade da ação, mas justifica o não pagamento a dificuldades financeiras. O músico fala que teria cachês atrasados a receber e em seguida o cantor fala do momento de dificuldades.

Ricardo: “Eu ‘tô’ há meses sem receber”.

Bell: “Se eu tivesse o dinheiro agora, diz assim: ‘Quanto é? Tome, tome, tome’. Pagaria isso sem pestanejar, pagaria sem pestanejar. Eu não tenho dinheiro pra lhe pagar”.

O músico pediu reconhecimento de vínculo empregatício, além de cachês e ensaios não pagos, horas extras e demais verbas trabalhistas. A juíza Kátia Virgínia, da 12ª Vara do Trabalho, negou o vínculo empregatício pretendido, reduzindo bastante o valor da causa que, somando indenização e danos morais, chega a R$ 1.600.000,00 (um milhão e seiscentos mil reais). O valor da sentença ficou em R$ 30.374,57 (trinta mil, trezentos e setenta e quatro reais e cinquenta e sete centavos). No dia 24 de janeiro os advogados do músico recorreram da decisão da juíza e o processo seguirá para julgamento em segunda instância no Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região.

“ACHO QUE O JUDICIÁRIO PERDEU UMA GRANDE OPORTUNIDADE DE FAZER JUSTIÇA”

Em entrevista ao bahia.ba, Ricardo se mostrou decepcionado com o desfecho da ação trabalhista. “Um processo desse tipo se resolve em até duas audiências. No meu foram sete audiências. É grande a minha indignação com o resultado do processo. Os elementos que nós anexamos, as gravações, tudo é muito contundente. Acho que o judiciário perdeu uma grande oportunidade de fazer justiça”, desabafa o violoncelista que afirma passar por um desconforto muito grande com toda a situação. “Eu respeito muito o artista Bell Marques. Respeito muito Bell como pessoa. Sempre tivemos uma boa convivência. Mas eu precisava me defender e garantir o recebimento do que é justo”.

O bahia.ba aguarda o retorno dos contatos realizados com as assessorias do cantor Bell Marques e do TRT.

Ouça aqui a gravação da conversa.

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