Publicado em 27/10/2017 às 19h00.

Criolo condena ração de Doria: ‘É só tristeza mesmo’

O rapper canta com Liniker e Russo Passapusso no Festival Sai da Rede, neste sábado (28), na Concha Acústica do TCA; leia a entrevista

Clara Rellstab
Foto: Divulgação
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Kleber Cavalcante Gomes, menino do Grajaú, filho de cearenses, ficou conhecido pela alcunha de Criolo e pelas rimas afiadas em seus raps. Não é de se admirar, portanto, que quando lançou sem aviso prévio o disco de samba “Espiral de Ilusão” (2017), tenha surpreendido e causado estranhamento no seu público – mesmo que uma música do gênero estivesse presente em cada um dos seus dois últimos álbuns: a faixa “Fermento pra Massa”, em Convoque Seu Buda (2014), e “Linha de Frente”, no Nó da Orelha (2011).

“É natural que essas sensações aconteçam. Mas eu tive muita influência do meu bairro, dos meus pais e de muita coisa que eu vivi e fiz”, justificou, em entrevista ao bahia.ba. Em Salvador, onde dividirá o palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA) com Liniker e Russo Passapusso, no Festival Sai da Rede, neste sábado (28), o artista conversou sobre a influência da paixão do pai por Martinho da Vila, Moreira da Silva e Elza Soares refletida no álbum e sobre a falta de controle que tem sobre o próprio processo criativo. Quando o assunto foi o show, fez mistério: “Vamos aguardar para ver, né?”.

“A alma flutua, leite a criança quer beber”, canta na canção Cartão de Visita, em homenagem à famosa entrevista que deu a Lázaro Ramos, que deu o que falar na internet, em 2014. Questionado sobre a ração humana oferecida à população de situação de rua, sugerida pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), a resposta foi bem mais curta do que ao programa do Canal Brasil: “Realmente não tem outra palavra não, é só tristeza mesmo”.

Os ingressos para o espetáculo – que foram trocados por latas de leite em pó para doação aos hospitais Aristides Maltez e Martagão Gesteira– esgotaram em um dia de venda.

Confira a entrevista na íntegra:

Foto: Divulgação
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Bahia.ba – Com vai ser o esquema do show com vocês três?

Criolo – Ainda não sei, vamos aguardar aqui para ver, né? Mas são duas pessoas cheias de luz, maravilhosas, que eu sou fã e admiro demais.

.ba – Em Espiral de Ilusão (2017) você deixou de flerte e finalmente engatou um namoro com o samba. Por que você acha que o álbum surpreendeu tanta gente, sendo que os dois ritmos, o rap e o samba, bebem de uma mesma fonte?

C – É muito forte… Desde 87 escrevendo rap e agora em 2017 fazer esse álbum de samba. É natural que essas sensações aconteçam. Mas eu tive muita influência do meu bairro, dos meus pais e de muita coisa que eu vivi e fiz. O samba se faz presenta na vida da gente desde pequenininho, né? Então aconteceu.

.ba – Tem muita coisa diferença no processo de composição entre o rap e o samba?

C – Eu acho que o jeito que vem – da emoção – é o mesmo. O jeito que te move para escrever a canção… É tomada de uma emoção muito forte e a força que eu sinto é a mesma. Acho que a diferença é mais quando vem esse vulto de criação, é que ele é quem escolhe o ritmo, não sou que escolho. Quando vem samba é um samba, quando vem um rap é um rap. Eu meio que não sou dono disso.

.ba – Eu reconheci muito de Adoniran Barbosa no disco, tô certa? Quem mais influenciou o álbum?

C – É esse sotaque de São Paulo, né? Esse jeito maravilhoso de Adoniran que sempre vai ser influência e inspiração. Mas tem muito do gosto musical do meu pai nesse disco, na verdade. Ele ama Martinho da Vila, Moreira da Silva, Elza Soares… O tanto que minha mãe é apaixonada pelo Ney Matogrosso, o meu pai é loucamente apaixonado pela Elza. Então tem um tanto do gosto musical dele e um tanto do gosto musical da minha mãe também.

.ba – Depois da turnê onde você cantou Tim Maia e desse disco, você acha que se estabeleceu, além de MC, como cantor mesmo?

C – Eu acho que ainda vai levar um tempinho. Eu tenho muito para aprender, para crescer, para evoluir, me melhorar. Eu acho que daqui a pouquinho a gente consegue isso.

.ba – Muitas pessoas têm criticado a “ração” proposta pelo prefeito de São Paulo, João Doria, por ser um desrespeito a hábitos alimentares saudáveis. Ele, no entanto, diz que “pobre não tem hábito alimentar”. O que você acha disso?

C – (hesitação) É triste, muito triste. Realmente não tem outra palavra não, é só tristeza mesmo.

Foto: Divulgação
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.ba – Nos seus raps você faz algumas referências à cultura pop. Eu queria saber o que você tem consumido de filme, série?

C – Eu gosto muito de filme, gosto muito de ficar vendo as coisas e tal. Aí tudo acaba se juntando em algum momento. Eu gosto muito de música, de teatro, de cinema… Gosto demais de tudo!

.ba – Você é corintiano, certo? Jogando bola, você tá mais pra Casa Grande, no ataque; para o Dr. Sócrates, na meiuca; na defesa que nem Dicão; ou é Coringa que nem Biro-Biro?

C – Acho que eu tô mais para gandula. Para reserva de gandula (risos). Mas sou corintiano sim, é uma paixão enorme que eu tenho, um carinho absurdo. É uma coisa que eu herdei do meu pai, esse amor pelo Corinthians. E é bom demais a gente curtir juntos, uma das coisas que a gente mais curte junto é torcer pelo Timão.

.ba – E vai sair título esse ano?

C – Espero que sim, espero que saia sim. O Corinthians perdeu pro Bahia agora, né? 2 x 0.. Cê viu só? Futebol é assim, gente (risos). Não dá pra saber, futebol é assim. São aqueles 90 minutos e é danado.

.ba – No single do seu último disco, você diz que “Meninos mimados não podem reger a nação”. Quem é o mais mimado dos meninos mimados?​

C – Olha, eu tinha que… (suspiro) Eles ficam competindo entre eles quem é mais, não dá para saber não. Eles se superam a cada dia.

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