Publicado em 17/11/2016 às 11h08.

‘Demarcação Já’: canção reúne artistas em torno de causa indígena

Projeto de Carlos Rennó já tem participações de Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro e deve ter ainda Elza Soares, Bethânia e outros

James Martins
Montagem: Bahia.ba
Montagem: Bahia.ba

 

O letrista Carlos Rennó, que lançou com Chico César a música “Reis do Agronegócio” (2015), volta de novo sua inspiração a uma canção de protesto, agora em um projeto de maior vulto, que reúne diversos artistas e prevê a gravação de um videoclipe em parceria com o Greenpeace. “‘Demarcação Já’ é uma longa canção indigenista, tratando focalmente da questão mais cara aos nossos indígenas hoje, a da terra. Com mais de 100 versos divididos em 21 partes, ela deverá ser -está sendo- gravada por 21 cantores e ser lançada simultaneamente com um vídeo, do jovem diretor de filmes socioambientalistas André D’ Elia. A produção musical é do Apollo Nove (Rita Lee, Yuka, Seu Jorge etc.)”, diz ele ao bahia.ba. A longa letra foi musicada, mais uma vez, por Chico César.

“Já que diversos povos vêm sendo atacados, / Sem vir a ver a terra demarcada, / A começar pela primeira no Brasil / Que o branco invadiu já na chegada: // A do tupinambá – // Demarcação já! / Demarcação já!”, diz um trecho da composição, que, segundo Rennó, pretende “propagar a causa indígena na sociedade brasileira e exercer pressão sobre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para impedir a adoção da maldita PEC 215, que quer transferir do Executivo para o Congresso a decisão de demarcar as terras (ou seja, para os ruralistas e donos do negócio da mineração tomarem as terras dos índios que restam). E também para retomar e impulsionar o processo de demarcação e homologação (determinado pela Constituição de 1988 e nunca posto em prática direito)”, explica.

A dupla Carlos Rennó e Chico César, em Brasília, após defenderem "Reis do Agronegócio". (Foto: Acervo pessoal).
A dupla Carlos Rennó e Chico César, em Brasília, após defenderem “Reis do Agronegócio”. (Foto: Acervo pessoal).

 

A faixa, que vai durar 14 minutos, já foi gravada por Arnaldo Antunes, Nando Reis, Zélia Duncan, Tetê Espíndola, Zeca Baleiro, o próprio Chico César, Lirinha, Djuena Tikuna, o diretor teatral Zé Celso Martinez Correa e a atriz Letícia Sabatela. E já tem confirmadas as participações de Elza Soares, Ney Matogrosso, Criolo, Maria Bethânia e Lenine. Além deles, Rennó espera que topem a parada Gilberto Gil, Liniker e Daniela Mercury. A produção conta com a parceria das instituições Greenpeace e Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), e também, evidentemente, dos próprios artistas, que participam “graciosamente, pela causa”. Uma das maiores líderes indígenas do país, Sonia Guajajara, e o professor universitário Casé Angatu Xukuru Tupinambá também já travaram contato com “Demarcação Já” e creem que a música ajudará a acender a discussão no seio da sociedade brasileira e nos holofotes da imprensa. E a sensibilizar, que é o mais importante.

Com o livro "A Queda do Céu", de Davi Kopenawa e Bruce Albert. (Foto: Acervo pessoal).
Com o livro “A Queda do Céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. (Foto: Acervo pessoal).

 

Sobre o momento em si, o compositor destaca que “a situação dos índios, que já era horrorosa durante o governo Dilma, ficou ainda pior agora. A ofensiva retrógrada não vai parar. A bancada ruralista (a BBB – do boi, da Bíblia e da bala) é a maior no congresso. E Temer precisa dela. É isso que o plano dessa canção-vídeo indigenista quer contribuir para impedir”, diz ele, que é militante há muito tempo das causas ambientais. Leia abaixo a estrofe que será cantada por Elza Soares:

“Já que tal qual o negro e o homossexual,
O índio é “tudo que não presta”, como quer
Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
E já que o que ele quer é o que é dele já,

Demarcação, tá?
Demarcação já!”.

E aqui a que já foi gravada por Letícia Sabatela:

“Por um mundo melhor ou, pelo menos,
Algum mundo por vir; por um futuro
Melhor ou, oxalá, algum futuro;
Por eles e por nós, por todo mundo,

Que nessa barca junto todo mundo tá,

Demarcação já!
Demarcação já!”.

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