Publicado em 22/11/2018 às 10h37.

Escola Sem Partido é ‘intimidação’ a professores, diz Caetano Veloso

Em texto compartilhado nas redes sociais, compositor admitiu que fica "angustiado" com o projeto: "Estudantes devem ser estimulados a pensar por conta própria"

Luiz Felipe Fernandez
Foto: Arquivo Pessoal/Instagram
Foto: Arquivo Pessoal/Instagram

 

O músico Caetano Veloso publicou um texto no Instagram em que se posiciona contra o projeto de lei Escola Sem Partido, no qual se diz “angustiado” com a iniciativa, uma das bandeiras do governo Jair Bolsonaro para a educação. Para ele, a autonomia dos professores não pode ser ameaçada por “ondas obscurantistas”, que podem se configurar em “intimidação” dentro das salas de aula.

“Isso não pode ser ameaçado por ondas obscurantistas que sugerem uma intimidação dos mestres e uma suspeita permanente na alma dos alunos. Só um desejo violento de partidarizar o ensino poderia conceber ideias como as que aparecem no projeto de lei apelidado ‘Escola Sem Partido'”, defendeu Caetano. Na última terça-feira (20), a votação do projeto foi mais uma vez suspensa, após duas horas de atraso e muito bate-boca.

” Os professores são vários e seus modos de ensinar devem poder variar. Estudantes devem ser estimulados a pensar por conta própria. Tratar o tema a partir de restrições e estímulo a delações é desrespeitar algo sagrado. A escola é experiência que não deveria faltar a ninguém”, completou.

Caetano publicou fotos do seu tempo de estudante, assim como de uma professora sua, Dona Candolina, homenageada no texto e a quem o cantor se refere como “soteropolitana negra e extrovertida, embora muito discreta e rigorosa”. O artista santamarense lembrou que Candolina e tantos outros, “abriram” os seus “olhos” para a “literatura” e para o “mundo”.

Por fim, Caê encerra com um apelo: “Até aqui, nenhum governo, nenhum dos poderes do Estado posterior à redemocratização orientou ou limitou o ensino. Que não seja agora, na segunda década do século 21 que mitos absurdos ameacem o ofício do professor”.

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Fico angustiado ao ler sobre o projeto que chamam “Escola Sem Partido”. Quando muito jovem, sonhei em ser professor, só pela importância que professores tiveram na minha formação. Apenas para começar a conversa, destaco Dona Candolina, a professora de português cujas aulas assisti nos dois dos três anos do segundo ciclo do secundário. Candolina era uma soteropolitana negra e extrovertida, embora muito discreta e rigorosa. Ela era temida pelos alunos desleixados e celebrada pelos atentos ao tema do uso da língua. Eu estava entre estes últimos. Mas mesmo os que a temiam reconheciam-lhe o valor. Fico pensando na dedicação daquela mulher ao preparar-se para a missão de ensinar. Muitos professores me abriram os olhos para o mundo, para a literatura e para a vida. Candolina é um símbolo dessa grandeza. Isso não pode ser ameaçado por ondas obscurantistas que sugerem uma intimidação dos mestres e uma suspeita permanente na alma dos alunos. Só um desejo violento de partidarizar o ensino poderia conceber ideias como as que aparecem no projeto de lei apelidado “Escola Sem Partido”. Os professores são vários e seus modos de ensinar devem poder variar. Estudantes devem ser estimulados a pensar por conta própria. Tratar o tema a partir de restrições e estímulo a delações é desrespeitar algo sagrado. A escola é experiência que não deveria faltar a ninguém. Em homenagem a Dona Candolina, convido a quem me lê a observar com cuidado esse problema. Até aqui, nenhum governo, nenhum dos poderes do Estado posterior à redemocratização orientou ou limitou o ensino. Que não seja agora, na segunda década do século 21 que mitos absurdos ameacem o ofício do professor. – Ouça “Neide Candolina”, canção em homenagem à minha professora, disponível na #PlaylistDoCaetano: http://spoti.fi/2rXsYb1 – #MeuProfessorQuerido #MinhaProfessoraQuerida #342Artes #CaetanoVeloso #NeideCandolina

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