Publicado em 27/06/2017 às 10h06.

Jornalista lança livro sobre cobertura da abolição da escravatura

"Raízes do conservadorismo brasileiro", de Juremir Machado, reúne textos dos jornais da época, assim como discursos de políticos

Redação
Foto: Divulgação
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O jornalista e historiador Juremir Machado, após cinco anos de pesquisa, lança “Raízes do conservadorismo brasileiro” (448 páginas, R$ 54,90), pela editora Civilização Brasileira, em que responde a perguntas fundamentais para entender o país, a exemplo de: “Como o Brasil acordou na segunda-feira, 14 de maio de 1888, um dia depois de promulgado o fim da escravidão?”.

Baseado em grande documentação, que inclui não apenas matérias de jornal, mas também discursos de políticos, empresários e jornalistas antes e depois da lei que libertou os escravos, mas não previu nenhuma política de acolhimento nem de inclusão dos negros na sociedade, Machado mostra como os discursos e estratégias dos atores sociais da época são semelhantes ao conservadorismo da sociedade brasileira de agora.

“O que mais me chamou atenção nesse universo de políticos, fazendeiros, barões do café, jornalistas e outros é o quanto as suas visões de mundo se refletem no agronegócio de hoje, no cinismo dos políticos atuais, na hipocrisia de certos jornais e na insensibilidade com a dor alheia. A retórica conservadora é praticamente a mesma, sempre baseada na chantagem e na disseminação do medo”, declarou o autor, em entrevista ao blog da editora.

O autor destaca, na conquista da abolição, o papel da imprensa independente e também a importância da luta dos próprios escravos, que costuma ser relegado na história do processo. “A abolição foi uma conquista dos negros e dos seus aliados que se deu em três frentes: a rua, o parlamento e a imprensa. Por uma vez na vida, tivemos, em paralelo com a imprensa conservadora, uma profusão de jornais abolicionistas que conseguiram disseminar os valores da abolição numa sociedade de maioria analfabeta. Foi uma façanha”, diz.

E completa: “Não houve concessão da Coroa nem abolição por exclusiva pressão inglesa ou por imposição pura da dinâmica capitalista. A luta dos homens e das mulheres foi decisiva para desmontar um discurso de naturalização da escravidão”. O livro traz à tona o papel de abolicionistas menos conhecidos e elogia intelectuais abolicionistas famosos como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa.

Ao transcrever os discursos dos políticos, mostra como o romancista José de Alencar, que votou contra a Lei do Ventre Livre, era um “conservador renhido, escravocrata convicto, sempre pronto a sofismar em nome da sua crença”. Em um dos trechos mais chocantes, reproduz trechos da “Lenda da criação do negro”, ficção publicada em um jornal do Espírito Santo cheia de clichês racistas, que ainda persistem no imaginário brasileiro racista.

“Raízes do conservadorismo brasileiro” mostra que ainda estamos longe de reconhecer e pagar a dívida com a escravidão. “Nesse sentido, ainda somos os mesmos e vivemos como no século XIX”, conclui o autor.

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