Publicado em 14/02/2017 às 12h18.

Melhor cachorro-quente de Salvador completa 30 anos em 2017

Fundada em 1987 no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, a lanchonete Travessa's tem no hot dog o seu carro chefe e vende uma média de 3 mil unidades por semana

James Martins
Foto: Izis Moacyr / bahia.ba
Foto: Izis Moacyr / bahia.ba

 

Tudo começou quando dona Ridalva Erhadt, hoje com 64 anos, formada em Panificação pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) dos Dendezeiros, decidiu pedir demissão da Petrobras, onde cuidava da alimentação do Pólo Petroquímico de Camaçari, para abrir uma lanchonete na quase escondida esquina da Rua dos Ossos com a Travessa dos Perdões, no tradicional bairro de Santo Antônio Além do Carmo.

Loucura? Mais loucura ainda quando ficamos sabendo que, inicialmente, o estabelecimento só venderia cachorro-quente, quibe e coxinha. Era maio de 1987 e muitos apostavam que o negócio quebraria antes mesmo do São João. Porém, dona Ridalva confiava em seu taco. Ou melhor, em seu cachorro. Não apenas quente, mas sobretudo delicioso, com o pão feito por ela mesma. Hoje, 30 anos depois, o hot dog do Travessa’s é considerado por muitos como o melhor da cidade e vende mais de 3 mil unidades por semana!

“Esse cachorro-quente é maravilhoso! Eu descobri através de amigos, há uns cinco anos e, desde então, não deixei mais de comparecer. É muito diferente, macio… tem um tchan especial”, declara o engenheiro Ramon Fontes. Aberto diariamente das 9h até meia-noite, chova ou faça sol, o Travessa’s começou na garagem da casa dos proprietários, uma portinha apenas, e foi crescendo, crescendo, ganhou outro vão na casa, até obrigar a família Erhardt a se mudar para ceder o espaço à primazia do sabor.

Cliente da lanchonete desde quando tinha apenas 12 anos, Jaqueline Carolina Santana, hoje com 42, fazia parte do grupo jovem da igreja de Santo Antônio quando começou a frequentar o local. Hoje traz seu filho, Gustavo, com os mesmos 12 anos que ela já teve, também fã do cachorro-quente balzaquiano. “O tempero é de qualidade, especial. É tudo bem cuidado. Por isso nunca deixei de vir aqui, já é como uma família para mim. Já comi em vários lugares, mas esse é realmente o melhor”, diz a cliente fiel.

E qual seria, afinal, o segredo do hot dog? Para Anna Franco, gerente e funcionária do Travessa’s desde o início, há 30 anos, o trunfo é o carinho empregado. “O segredo mesmo eu não vou te contar, até porque não sei (risos). Aí é com Ridalva, a criadora. Mas com certeza as pessoas voltam porque tudo aqui é de primeira, não usamos nada peba, e é tudo fresquinho. Por exemplo, não servimos nada dormido. No final do dia, tudo é descartado”, diz. E Reginaldo Brito, que já está na equipe desde 2000, completa: “Outra coisa é que mantemos o padrão. Os mesmos ingredientes: azeite Gallo etc. Então, os clientes sabem que o sabor não cai, como em outros lugares, independente de crise, de qualquer coisa”.

Pão caseiro é um dos segredos do sanduíche (Foto: Divulgação).
Pão caseiro é um dos segredos do sanduíche (Foto: Divulgação).

 

Já para o engenheiro Guilherme Piropo, baiano radicado em São Paulo, mas que sempre na volta a Salvador faz questão de comparecer àquela esquina especial no Centro Histórico, o pão caseiro merece destaque: “É macio, leve, delicioso. Só tem lá”, derrete-se. A maionese também é apontada por muitos como um diferencial. Em São Paulo, Guilherme conheceu a publicitária Mariana Cordeiro e foi flechado por ela. Nas férias do casal, em Salvador, no início de janeiro, ele fez questão de apresentá-la ao melhor cachorro-quente de sua cidade natal. E ela provou e aprovou: “Gostei demais! São Paulo tem lanches muito bons, mas um desses por lá faria sucesso, com certeza”, diz.

E por falar em expansão das fronteiras, uma cliente, Carol, que preferiu não ser fotografada, conta que levou até ali uma amiga do Rio de Janeiro para conhecer o pão famoso. Pronto! A amiga foi fisgada e, resultado: quando Carol foi visitá-la no Rio, teve que levar um carregamento de pão do Travessa’s para aplacar o desejo da carioca. “Tem um grupo de argentinos que vem ao Brasil de dois em dois anos. Eles gostam tanto daqui que levam até as camisas dos funcionários, como recordação”, conta Anna Franco. “Eu morro de saudades. É uma dos lugares que mais me fazem falta”, confessa o músico Miro Igor, que há seis anos vive na Alemanha. São muitos e muitos casos.

Anna Franco trabalha no local desde a fundação e destaca clima familiar (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).
Anna Franco trabalha no local desde a fundação e destaca clima familiar (Foto: Izis Moacyr / bahia.ba).

 

Mas, nem só de cachorro-quente vive o Travessa’s: risole, quibe, coxinha, enroladinho, pão delícia, brigadeiro, beijinho, cocada… as opções vão de guloseimas a pratos mais encorpados, como sarapatel e carne de sol com pirão de aipim. “E é tudo muito bom. Além do ambiente agradável”, garante Fabiane Safira, que conheceu o lugar quando estudava no então Cefet (hoje Ifba). “E o preço também é bastante em conta, muito atrativo”, completa. Ela diz ainda que já marcou muitas reuniões de turma no estabelecimento dirigido por Seu Egídio – o marido de dona Ridalva, que também merece menção.

E por falar em bom ambiente para a clientela, Anna acredita que o mesmo é um reflexo do bom ambiente interno. “Aqui somos 17 funcionários, todos registrados em carteira e tratados com muito respeito. O pagamento sai sempre em dia, Egídio faz questão. Final de ano todo mundo ganha cestas de natal. Eu mesma, quando fiz 50 anos, sabe o que ganhei? 10 mil salgados!”, explica. Os salgados, inclusive, são feitos sob encomenda e saem bastante para aniversários, casamentos, formaturas e afins, colaborando para o sucesso do local e a manutenção dos empregos.

O carro-chefe, no entanto, em todas essas três décadas, é mesmo o cachorro-quente, com seu pãozinho em que o leite substitui a água para dar aquela maciez. “Eu como de tudo, depende do dia, mas o hot é de lei, não dá para não traçar pelo menos um. É como ir a Roma e não ver o Papa”, diz o pedreiro Elieser Santos, que sai de Cosme de Farias só para saborear o sanduíche, tomar uma cervejinha ou um refresco (“o de maracujá é show!”) e ficar de boa, curtindo o final da tarde no Santo Antônio.

Em uma cidade onde tradições se perdem com a mesma facilidade com que se criam, e em que padrão é quase sempre apenas um modo arcaico de falar uniforme de futebol amador, o cachorro-quente do Travessa’s, mantem o mesmo e maravilhoso sabor há 30 anos e merece uma celebração especial. O Iphan podia aproveitar o local e tombar. É um patrimônio!

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