Publicado em 15/07/2016 às 11h15.

Morre aos 89 anos o crítico de teatro Sábato Magaldi

Ele ocupava a cadeira 24 da ABL e foi um ávido estudioso da obra do escritor Nelson Rodrigues

Rebeca Bastos
Foto: Daniel Teixeira/ Agência Estado
Foto: Daniel Teixeira/ Agência Estado

 

Morreu na noite de quinta-feira (14) em São Paulo, o crítico de teatro Sábato Magaldi, aos 89 anos. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Samaritano desde o dia 2 de julho. Magaldi apresentava um quadro de choque séptico e comprometimento pulmonar.

Magaldi ocupava a cadeira 24 da ABL, que já foi de Manuel Bandeira, desde 1995. Mineiro, o crítico nasceu em 9 de maio de 1927, em Belo Horizonte.
Magaldi era um colaborador histórico do jornal O Estado de S. Paulo: foram centenas de colunas e artigos longos no Suplemento Literário, a partir de 1956, e também mais de 3 mil críticas de teatro no Jornal da Tarde, entre 1966 e 1989.

Boa parte do trabalho foi reunida no recente “Amor ao Teatro: Sábato Magaldi”, livro organizado por Edla Van Steen (que também é sua mulher) e publicado pela editora Sesc.

Nelson Rodrigues-  Os estudos de Sábato Magaldi sobre a obra de Nelson Rodrigues são incontornáveis para quem tem – e também para quem não tem – planos de encenar peças do autor. É possível arriscar que todas as recentes montagens dos textos de Rodrigues foram guiadas pela divisão formal, em categorias, estabelecida por Magaldi, autor de um ensaio seminal sobre a presença do mito na dramaturgia do autor pernambucano (carioca por adoção).

Em seu livro Teatro da Obsessão, Magaldi chama a atenção, por exemplo, para a antológica montagem de Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno (1981) por Antunes Filho e o Grupo Macunaíma, feita sob o impacto da leitura do historiador e mitólogo romeno Mircea Eliade: a emergência de uma nova vida após o caos, o aniquilamento, a destruição do núcleo familiar. Nunca antes, na história do teatro brasileiro, Nelson Rodrigues fora visto dessa maneira, sendo quase sempre reduzido a um dramaturgo vulgar, sem vínculos com a tradição teatral erudita.Magaldi dividia o teatro de Nelson Rodrigues em três categorias: peças míticas, psicológicas e tragédias cariocas. Ao prefaciar o Teatro Completo de Nelson Rodrigues, o crítico explica que adotou o critério cronológico para facilitar ao leitor a tarefa de entender os procedimentos dramáticos do autor, mostrando como a irrupção no território mítico com Álbum de Família (1945) levou Rodrigues a evocar a tragédia grega e mergulhar no inconsciente primitivo.

Ao agrupar as tragédias cariocas, talvez o núcleo com as peças mais populares de Rodrigues (A Falecida, Boca de Ouro, O Beijo no Asfalto, Toda Nudez Será Castigada, entre outras), Magaldi escreveu o ensaio definitivo sobre ele, equiparando-o em ao teatro de Shakespeare.

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