Publicado em 12/09/2016 às 15h15.

‘Pequeno Segredo’ é o filme brasileiro indicado para disputar o Oscar

"Aquarius", que era o favorito para a indicação e apontado por todos os críticos, integrou a seleção do Festival de Cannes, o maior do mundo

Clara Rellstab
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

“Pequeno Segredo”, de David Schurmann, foi indicado para ser o filme brasileiro a disputar o Oscar 2017. Cada país seleciona uma produção para uma pré-lista que concorrerá na categoria “filme estrangeiro” – semifinalistas serão conhecidos em dezembro, e os cinco indicados finais são anunciados no dia 24 de janeiro. A cerimônia de premiação do Oscar ocorre no dia 26 de fevereiro de 2017. O anúncio foi feito pela comissão especial indicada pelo Ministério da Cultura (MinC) que analisou os 16 filmes inscritos.

Composta por nove profissionais de diferentes setores da cadeia produtiva do audiovisual, a comissão especial contou, neste ano, com Adriana Scorzelli Rattes, Bruno Barreto, Carla Camurati, George Torquato Firmeza, Luiz Alberto Rodrigues, Marcos Petrucelli, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello e Sylvia Regina Bahiense Naves.

Polêmica – “Aquarius”, que era o favorito para a indicação e apontado por todos os críticos, integrou a seleção do Festival de Cannes, o maior do mundo. No Brasil, ao mesmo tempo, iniciou-se o processo que culminou, depois, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

A equipe de “Aquarius” aproveitou a visibilidade – o festival é um dos eventos mais midiatizados do mundo – para protestar nas escadarias do “Palais des Festivals”, onde o filme foi produzido Há todo um protocolo a seguir no tapete vermelho de Cannes. O diretor Mendonça Filho, a produtora Emilie Lesclaux e os atores (Sonia Braga, Maeve Jinkins etc) atropelaram esse protocolo e sacaram cartazes com palavras de ordem do tipo “Um golpe está acontecendo no Brasil.”

As imagens foram exportadas para o mundo todo e, na sequência, a coletiva de Aquarius virou, pelo menos parcialmente, um acontecimento político.

Começou ali, também, por parte do governo, uma série de trapalhadas na área da cultura. O presidente, que ainda era interino, ameaçou extinguir o Ministério da Cultura, e voltou atrás. Interveio na Cinemateca Brasileira, e voltou atrás. A todas essas, no quadro de polarização que dividia a sociedade brasileira, as redes sociais demonstraram apoio e repúdio ao que o diretor Mendonça Filho definiu como “um gesto”, não propriamente um protesto, de sua equipe (e dele próprio). Mais tarde, estourou como uma bomba a impropriedade do filme até 18 anos – que depois, também, foi revista pelo governo.

Diretores importantes, como Gabriel Mascaro, de “Boi Neon”, e Anna Muylaert, de “Mãe Só Há Uma”, anunciaram que estavam retirando seus filmes da disputa em solidariedade, ou respeito, ao filme de Kleber Mendonça Filho, reconhecendo sua superioridade.

Toda essa exposição transformou “Aquarius” numa espécie de manifesto. Em Gramado, a exibição foi precedida de gritos de “Fora, Temer”, que prosseguiram durante todo o festival. Efetivado o impeachment de Dilma Rousseff e empossado o presidente, o filme, já estreado – em 89 salas, no dia 1.º de setembro –, seguiu no centro do furacão.

No primeiro fim de semana, faturou mais de 50 mil espectadores e com a média de 600 espectadores por sala se converteu na segunda maior bilheteria brasileira do ano, atrás somente de “Os Dez Mandamentos”, sobre o qual pesa a suspeita de fraude – os ingressos massivamente vendidos, as salas teoricamente lotadas chocavam-se com as imagens dos cinemas vazios, ou quase.

Para a segunda semana, e com o circuito aumentado para 110 salas – o público da primeira semana ficou em 95 mil espectadores –, “Aquarius” não apenas teve casas lotadas como passou a ser aplaudido em cena aberta e no final das sessões, quando o grito de guerra de “Fora, Temer” colou definitivamente ao filme. 

Neste domingo, 11, o filme estreou na mostra “Contemporary World” do Festival de Toronto. Nos Estados Unidos, estreia em 14 de outubro, com direito a abertura solene dia 13 no “Angelika Film Center”, de Nova York.

Concorrentes

Veja os indicados por outros países para o Oscar 2017:

Alemanha – Toni Erdmann

Arábia Saudita – Barakah Meets Barakah

Armênia – Earthquake

Austrália – Tanna

Áustria – Stefan Zweig: Farewell to Europe

Bélgica – D’Ardennen

Bósnia e Herzegovina – Death in Sarajevo

Coreia do Sul – The Age of Shadows

Croácia – On The Other Side

Cuba – El Acompañante

Egito – Clash

Espanha – Julieta

Finlândia – Hymyilevä Mies

Geórgia – House Of Others

Holanda – Tonio

Hungria – Kills On Wheels

Iraque – El Clásico

Japão – Nagasaki: Memories of My Son

Luxemburgo – La Supplication

Marrocos – A Mile in My Shoes

Nepal – Kalo Pothi

Noruega – The King’s Choice

República Dominicana – Flor de Azúcar

Romênia – Sieranevada

Sérvia – Diary of a Train Driver

Suécia – A Man Called Ove

Suíça – Ma Vie de Courgette

Tunísia – The Flower of Aleppo

Ucrânia – Ukrainian Sheriffs

Venezuela – De Longe te Observo

Brasileiros inscritos

Veja a lista dos 16 filmes brasileiros que estavam inscritos na disputa:

A Bruta Flor do Querer, de Dida Andrade e Andradina Azevedo

A Despedida, de Marcelo Galvão

Aquarius, de Kleber Mendonça Filho

Até Que a Casa Caía, de Mauro Giuntini

Campo Grande, de Sandra Kogut

Chatô – O Rei do Brasil, de Guilherme Fontes

Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo, de Afonso Poyart

Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil, de José Belisário Franca

Nise – O Coração da Loucura, de Roberto Berliner

O Começo da Vida, de Estela Renner

O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum

O Roubo da Taça, de Caíto Ortiz

Pequeno Segredo, de David Schurmann

Tudo Que Aprendemos Juntos, de Sérgio Machado

Uma Loucura de Mulher, de Marcus Ligocki Júnior

Vidas Partidas, de Marcos Schetchman

Edições passadas – Os filmes brasileiros selecionados para concorrer à indicação nas últimas seis edições do Oscar foram: “Que Horas ela Volta?”, de Anna Muylaert (2016); “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro (2015); “O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho” (2014); “O Palhaço”, de Selton Mello (2013); “Tropa de Elite 2: o Inimigo agora é Outro”, de José Padilha (2012); “Lula, o filho do Brasil”, de Fábio Barreto (2011); e “Salve Geral”, de Sérgio Rezende (2010).

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