Publicado em 18/08/2017 às 08h47.

Livro de Luiz Mott sobre ‘santa’ escrava vai virar filme

"Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil" é um biografia da escrava, que viveu como prostituta, e se tornou motivo de culto no Rio de Janeiro

James Martins
Foto: montagem bahia.ba
Foto: montagem bahia.ba

 

O livro “Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil”, do historiador Luiz Mott, biografia da escrava africana, que viveu como prostituta e se tornou fundadora de um convento de recolhidas no Rio de Janeiro, vai se tornar um filme do diretor Felipe Hirsch – um dos convidados especiais da Flip deste ano.

Paulistano radicado em Salvador, ex-seminarista e fundador do Grupo Gay da Bahia, Mott falou ao bahia.ba sobre a trajetória da “santa escrava”: “A história de vida de Rosa Egipcíaca é fantástica, de escrava, prostituta, torna-se fundadora de um convento de recolhidas no Rio de Janeiro, chamada pelo alto clero de ‘flor do RJ’, adorada de joelhos por seus devotos”.

Ele continua, com a análise da complexidade da sociedade colonial no Brasil: “Rosa é a prova de como a sociedade colonial brasileira era complexa e cheia de brechas, pois, uma escrava africana pode ser considerada ‘a maior santa do céu’ e Santa Tereza D’ávila, a doutora da igreja, era sua moleca de recados”.

O poder sobrenatural de Rosa Egipcíaca, que também inspirou o romance “Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz: a incrível trajetória de uma princesa negra entre a prostituição e a santidade”, de Heloisa Maranhão, se manifestou inicialmente em uma sessão de exorcismo, em que afirmou estar possuída por sete demônios e ser, ela mesma, o próprio Lúcifer.

Chegou ao Rio comprada por um padre apelidado de Xota-Diabos e, ali, fundou um culto místico que servia aos fiéis biscoitos feitos com sua própria saliva. Presa pela inquisição e levada a Lisboa, Rosa escreveu um livro intitulado “Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas”, parcialmente destruído. Sua morte permanece um mistério, já que o processo inquisitorial foi interrompido em 1765, não sendo identificada a pena aplicada.

A pesquisa de Mott foi feita na Torre do Tombo, em Lisboa. Segundo ele, Rosa é, graças a esse trabalho, a personagem negra do século 18 com o maior volume documental disponível. “É certamente a mulher negra africana do século 18, tanto em África como na diáspora afro-americana e no Brasil, sobre quem se dispõe mais detalhes documentais sobre sua vida, sonhos, escritos e paixão”.

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