Publicado em 24/04/2017 às 12h35.

Série em homenagem ao cineasta Guido Araújo será lançada no Glauber

"O Senhor das Jornadas", dirigida por Jorge Alfredo Guimarães, traça um retrato humanístico de um dos maiores incentivadores e ativistas do cinema nacional

James Martins
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

A série “O Senhor das Jornadas”, que recria a trajetória do cineasta e agitador cultural Guido Araújo, o grande criador da lendária “Jornada Internacional de Cinema da Bahia”, será lançada nesta terça-feira (25), às 20h, no Cine Glauber Rocha.

Dirigida por Jorge Alfredo Guimarães (“Samba Riachão” – 2001), a série tem cinco episódios de 26 minutos cada e acompanha Guido, hoje com 83 anos, desde o início em Castro Alves (BA), onde nasceu e viu, ainda no início dos anos 1950, a uma exibição de “Ivan, o Terrível”, de Eisenstein, na sala escura, até os dias atuais, passando por lugares, filmes e amigos que marcam sua vida de dedicação ao cinema enquanto arte de transformação. Ou, como diz Nelson Pereira dos Santos em uma cena do primeiro episódio, ao cinema como “consequência de uma grande atividade cultural, verdadeira, profunda”.

Militante pela memória, fruição e construção da sétima arte entre nós, Jorge Alfredo, criador do “Caderno de Cinema”, já tinha realizado uma mostra com filmes de Guido Araújo, em 2014, mas nesta série ele propõe um mergulho mais profundo na atuação do cineasta, cineclubista e professor.

“O Senhor das Jornadas” tem participações de nomes como Silvio Tendler, Alba Liberato, André Luiz Oliveira, Bertrand Duarte, Clarindo Silva, Lu Cachoeira, Edgard Navarro, Roque Araújo e Orlando Senna. “Guido, para mim, era um provocador. Um provocador da política, da cultura… Ele botava no ar as discussões”, diz Roque, também no primeiro episódio. Por toda a série fica clara a concepção de cinema como ferramenta para muito além do mero entretenimento, uma arte humanista, na atuação do homenageado.

“Em 2012, quando lancei o Caderno de Cinema, pedi um artigo a Guido. Para minha surpresa, três dias depois ele me enviou. E isso teve uma repercussão enorme no Brasil! Aí fui fazer uma visita a ele no seu escritório, em Ondina. Daí em diante, nos encontrávamos todas as terças pela manhã. Começou um namoro mesmo (risos). Eu voltava cheio de recortes de jornais, cartazes, DVD’s, textos, catálogos das quatro décadas de ‘Jornada’… E foi aí que percebi que Guido tinha deixado em segundo, terceiro plano, sua obra cinematográfica para se dedicar integralmente à ‘Jornada’. Consegui uma grana através da Dimas, Funceb, para telecinar sete dos seus curta-metragens e disso resultou o livreto e o DVD Mostra Guido Araújo”, explica Jorge Alfredo, em entrevista ao bahia.ba, a gênese da relação que culmina na série que ora lança.

Jorge responde ainda à pergunta sobre a motivação para empreender essa tarefa e evocar a figura de Guido Araújo, desconhecido das novas gerações, para quem cinema muitas vezes é sinônimo de entretenimento: “A importância de evocar Guido e a ‘Jornada’ é por que eu tinha consciência do papel dele para o cinema independente latino americano, principalmente para o curta-metragem, a animação e o documentário. A ‘Jornada’ foi a principal e, às vezes, única janela para a exibição dessas filmografias. Na ‘Jornada’ também surgiu a ABD [Associação Brasileira de Documentaristas] e era durante suas edições que rolavam os debates, as conversas entre cineastas de toda parte, com um veio político muito intenso”.

A trilha sonora de “O Senhor das Jornadas”, assinada por Yacoce Simões, instaura um clima que, em confluência com as imagens de arquivo e tomadas atuais, recheadas de encontros, faz emocionar mesmo os que não têm grande intimidade com a trajetória do cineasta. Curiosamente, aquele artigo encomendado por Jorge Alfredo a Guido Araújo e que foi o gatilho para todo o processo, fala justamente do “Ponto Final da Jornada Internacional de Cinema da Bahia“. Ou seja, na trama entretecida espontaneamente pelo roteirista do acaso, a “lei natural dos encontros”, tirou do fim o começo, a concepção. “Eu quis chamar a atenção para todas essas coisas, através da série. A Bahia é muito ingrata consigo mesma e com seus filhos. Pra mim, soava nonsense um evento pioneiro, com quatro décadas de tradição, acabar por falta de patrocínio, de apoio, e logo durante um ‘governo progressista’. Logo a ‘Jornada’, que nasceu no pior momento da Ditadura Militar, em 1972, e enfrentou todas as dificuldades para todo ano realizar suas edições que marcaram para sempre várias gerações de cineastas brasileiros”, conclui o diretor.

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