Publicado em 30/01/2017 às 11h54.

Autor do PDDU rebate críticos de sombreamento: ‘Não têm estudo sério’

"Quando nós fomos e alteramos o horário de sombreamento, as pessoas mais preparadas do país participaram desse processo", diz Silvio Pinheiro

Evilasio Junior
Foto: Mateus Soares/ bahia.ba
Foto: Mateus Soares/ bahia.ba

 

Novo presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o baiano Sílvio Pinheiro (PSDB), ex-secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e um dos autores do Plano Diretor de Salvador (PDDU), rebateu as críticas de ambientalistas, que reclamam da permissão de um suposto sombreamento na orla.

Em entrevista ao bahia.ba, o ex-titular da Sucom assegura que a lei foi minunciosamente estudada para evitar tais impactos ambientais e desafiou que os opositores ao projeto provem o contrário. “Você tem ao longo da nossa orla, trechos absolutamente distintos com relação à posição do sol. Então quando nós fomos e alteramos o horário de sombreamento, as pessoas mais preparadas do país participaram desse processo. A maior especialista do país, Roberta Kronka, foi quem elaborou os mapas e fez os estudos. Tanto que ninguém questionou os estudos e, aqueles que questionaram, nunca fizeram qualquer estudo sobre o tema. Não tem um estudo sério. Isso é aritmética”, disse Pinheiro.

Sobre o seu novo segmento de atuação, apontado pela Controladoria Geral da União (CGU), como principal alvo de corrupção, o gestor afirmou que a constatação é “exagero”. “Pode haver, mas não diretamente com dinheiro do FNDE. Para liberar cada fase, tem que cumprir alguns pré-requisitos, tem que prestar contas devidamente. A gente está lá com uma consultoria. Estamos também com forte núcleo de revisão de processos para melhorar, diminuir o fluxo, fazer com as coisas sejam mais simples. Com tantas tecnologias disponíveis, a gente acredita que pode melhorar”, completou.

Apesar de estar filiado à sigla tucana, ele atribuiu o cargo ao “Democratas da Bahia”. “Minha relação pessoal é com o prefeito ACM Neto, e ele é o grande líder do grupo que envolve PSDB, PMDB, DEM, SD, PV e PPS. Quando falo DEM, é porque o ministro Mendonça [Filho] é do DEM, tem relação histórica com Neto”, argumentou.

Confira a entrevista na íntegra:

Foto: Mateus Soares/ bahia.ba
Foto: Mateus Soares/ bahia.ba

 

Bahia.ba – Desde que o senhor foi nomeado, há uma expectativa de maior ajuda do FNDE a Salvador. O que há de novidade?

Silvio Pinheiro – Na verdade, eu não prometi ajudar mais a Bahia ou Salvador. Tenho que dar atenção ao país inteiro. Logicamente, por ser baiano, por ser de Salvador, sempre que eu enxergar alternativa, oportunidades para ajudar a Bahia e Salvador, farei. Nesses 32 dias, desde que assumir o FNDE, sempre que identifiquei algum assunto referente à Bahia, como uma pendência de um município baiano que estava impedido de liberação de recursos, ou algum projeto parado, sempre liguei para os prefeitos, pedi à assessoria que orientasse como proceder. Como a gente faz com todos os municípios, a dinâmica do Fundo passa quase diariamente atendendo prefeitos de todo pais. O FNDE tem ação em todos os municípios. O meu dia-a-dia tem sido esse. Meu papel lá tem sido de facilitador, tentar fazer com que as coisas ocorram da forma mais simples, mais rápida. Esse momento de transição nos municípios, a gente vê muitos prefeitos reclamando do processo de transição, que não recebem as informações necessárias, não sabem os projetos e processos que estão em curso no FNDE, no Ministério da Saúde, no Ministério das Cidades, e ficam meio perdidos. Nesse início, a gente tem procurado orientar, mapear o que tem na Bahia, o que tem em Salvador. Lógico que quando nós somos procurados por outros estados o tratamento é o mesmo, mas por ser baiano o atendimento é mais rápido. Os deputados, prefeitos ligam diretamente para o meu celular, que não mudou. As pessoas ligam pedem uma informação, um atendimento. A gente tem procurado assim realizar. Há poucos dias nós conseguimos garantir no orçamento desse ano, junto com o planejamento e o empenho do ministro Mendonça Filho, assegurar recursos para conclusão das obras que já estão iniciadas. Obras de creches e escolas que já estão iniciadas terão recursos para concluir até 2018, assim como quadras e quadras cobertas. Um dos poucos orçamentos da União que não sofreram corte foi o da educação. Em números aproximados, saímos de R$ 130 bilhões para R$ 140 bilhões no Ministério da Educação. O que demonstra um compromisso do governo com o projeto da educação e, também, os resultados que o ministro Mendonça tem dado levam a essa confiança, junto ao Planejamento e ao presidente da República.

.ba – Já deu para identificar quais são os principais problemas do FNDE e o que precisa ser modificado?

SP – Temos três grandes desafios lá. Primeiro é reestruturar o órgão. Nos últimos 10 anos órgão elevou seu orçamento em 10 vezes. O orçamento há 10 anos era de R$ 6 bilhões, hoje é de R$ 64 bilhões, podendo chegar a quase R$ 70 bilhões, a depender das emendas parlamentares. Não houve um acompanhamento do aumento da estrutura de pessoal, de servidores. Esse é um grande desafio, nesse cenário de recessão, de impossibilidade de concursos públicos, a gente precisa redesenhar projetos e processos de modo a fazer que, com o mesmo número de pessoas, a gente consiga fazer um trabalho melhor. O segundo desafio é que há um histórico de prestação de contas desses projetos. Cada um desses projetos você manda dinheiro para cada município e o prefeito tem que prestar contas. O FNDE precisa analisar a prestação e se o recurso foi aplicado conforme determina a lei. Nós encontramos no estoque 250 mil processos. A cada ano temos 30 mil processos novos. A gente tem se dedicado a criar uma forma de trabalho que diminua o volume desses processos, mate esse passivo e não gere um novo passivo. Esse é um novo desafio que vai melhorar os projetos, vai sobrar mais dinheiro, vai ser melhor aplicado e passa a ter fiscalização mais efetiva. Eu tenho usado esse exemplo: o sujeito paga o Imposto de Renda todo dia 30 de abril do ano. Não é porque ele é bonzinho. É porque ele sabe que, se não pagar, vai ter uma série de consequências. A Receita Federal evoluiu tanto que passou a ter acesso a diversas informações que levam a isso. O dinheiro é público e tem que ser aplicado rigorosamente no projeto, seja para merendas, transporte escolar, construção de creches e escolas, enfim dentro dos diversos programas. Essa é a segunda tarefa. E a terceira, que acho que é um problema sério, que todo mundo fala, é o Fies [Fundo de Financiamento Estudantil]. É um problema muito importante, cresceu muito. Precisa ser gerido melhor. Pelas proporções que tomou, temos 2,5 milhões de estudantes contemplados, muito dinheiro envolvido. Precisamos ajustar a máquina pública para funcionar melhor. Então, são esses desafios grandes ao longo desses dois anos.

.ba – Saiu um estudo da Controladoria Geral da União que aponta que a maioria dos casos de corrupção no Brasil, cerca de 70%, é justamente com recursos da saúde e da educação. É claro que o desvio não é responsabilidade do Fundo, mas dos municípios, mas como a verba é repassada pelo MEC, no FNDE, o senhor pensa em adotar mecanismos de controle para que a aplicação seja mais segura?

SP – Nós temos hoje contratadas no MEC e também estamos em processo de contratação no FNDE uma consultoria que é especializada em gestão, melhoria do gasto com a atenção especial a estes projetos. O MEC desenvolve os projetos. O Pnae, que é o Programa Nacional de Alimentação Escolar, é mundialmente conhecido. Ele é case de sucesso no mundo, inclusive o ministro foi chamado para uma conferência na China, no dia 22 de fevereiro, para falar sobre o case de sucesso do Pnae. O FNDE não tem condições de fazer aquisição de gêneros e mandar para as escolas. O que fazemos: mandamos recursos, as secretarias fazem as aquisições, mandam para as escolas e depois prestam contas. O fato de o FNDE não ter capacidade de responder às prestações no prazo curto leva à sensação de impunidade. Aí volta: por que o sujeito paga logo o Imposto de Renda? Pois sabe que logo vai ter punições. Por que o sujeito diminui a velocidade na estrada? Porque sabe que vai ter punições. A gente estuda onde tem falhas e mandamos direto para a escola. Tem o PDDE, que é o Programa Dinheiro Direto na Escola. O gestor da escola e o conselho fazem pequenas reformas, tem coisas no dia-a-dia que são custeadas com esse dinheiro. Então, existe um sistema e essa prestação de contas leva um tempo. Pelo volume da atuação do órgão, acho que isso é muito pequeno. No entanto, acho que o dinheiro público, seja um real ou R$ 1 bilhão, o tratamento tem que ser o mesmo. Diante de um ministério que tem ações em todos os municípios do país, tem transferência de recursos diretos… Quando você transfere dinheiro para escola, o município vai fazer licitação, vai contratar empresa, a empresa tem que executar, prestar contas ao município e o município prestar contas para a gente. A cadeia é muito extensa. Pelo volume de recursos envolvidos, ainda acho que há certo exagero quando se diz: ‘corrupção na educação’. Pode haver, mas não diretamente com dinheiro do FNDE. Para liberar cada fase, tem cumprir alguns pré-requisitos, tem que prestar contas devidamente. Há como melhorar o processo. É isso que a gente está fazendo. A gente está lá com essa consultoria. Estamos também com um forte núcleo de revisão de processos para melhorar, diminuir o fluxo, fazer com as coisas sejam mais simples. Com tantas tecnologias disponíveis, a gente acredita que pode melhorar.

“Minha relação com o PSDB é excelente. Quando falei sobre o DEM, minha relação pessoal é com o prefeito ACM Neto e ele é o grande líder do grupo que envolve PSDB, PMDB, DEM, SD, PV e PPS.”

.ba – A sua ida para o FNDE foi especulada por alguns meses antes de ser concretizada. O senhor acredita que o prefeito preferiu que não acontecesse no momento da campanha eleitoral para não fortalecer o vínculo de ACM Neto com a gestão de Temer?

SP – Não acredito desta forma. Primeiro, houve muitas especulação logo após o impeachment. Depois houve a nomeação de novos ministros. Houve uma natural especulação em torno de nomes baianos que poderiam ocupar cargos federais quando os cinco secretários de ACM Neto [além de Pinheiro, Guilherme Bellintani, João Roma, Luiz Carreira e Bruno Reis] saíram para a campanha. A imprensa passou a especular, só que, desde o inicio, o compromisso com ele, desde o dia em que fechamos Bruno Reis (PMDB) para vice, eu também já estava apalavrado para tocar a administração financeira de campanha. Foi muito mais a conspiração do bem, dos amigos, de ter um baiano. Tínhamos Geddel no ministério, mas o Democratas da Bahia não havia sido contemplado. Logicamente, a dinâmica de nomeação de um cargo desse passa por uma série de negociações em Brasília. O meu antecessor foi deputado [Gastão Dias Vieira] durante cinco mandatos, com muitas relações em Brasília. Tudo isso fez com que as coisas acontecessem no momento certo. Para mim foi muito bom, primeiro porque pude ajudar na campanha e concluí aquela fase. Pude descansar um pouco e assumir o FNDE em um período de recesso parlamentar. Isso permitiu que eu me assenhorasse das coisas no momento em que Brasília está mais calma, em que a demanda é muito grande. Essa agenda, se eu entrasse no período parlamentar, eu teria mais dificuldade para pegar o time da coisa. Terminou casando na hora certa.

.ba – O senhor disse que o Democratas da Bahia não tinha sido contemplado, mas é do PSDB. A indicação é do prefeito ACM Neto? O PSDB não pode contabilizar como cargo do partido, correto?

SP – Minha relação com o PSDB é muito boa. Gualberto [João, deputado federal e presidente da legenda na Bahia], Jutahy [deputado federal], Imbassahy [deputado federal], com Adolfo [Viana, deputado estadual]. Ontem eu recebi Augusto Castro [deputado estadual] com vários prefeitos. Minha relação com o PSDB é excelente. Quando falei sobre o DEM, minha relação pessoal é com o prefeito ACM Neto e ele é o grande líder do grupo que envolve PSDB, PMDB, DEM, SD, PV e PPS. Quando falo DEM, é porque o ministro Mendonça é do DEM, tem relação histórica com ACM Neto. Então, dentre os nomes, dos cinco: Roma, Carreira, Guilherme, Silvio e Bruno, se falou por diversos momentos que Carreira iria para a Codeba, Guilherme iria para Iphan… Dentro dessa dinâmica, quando falo DEM, gira em torno de ACM Neto.

.ba – Mas está filiado ao PSDB, né? Vai continuar?

SP – Eu não sou candidato. Nós não temos eleição em 2017. Então, até 2018, possivelmente eu também nem tenha como garantir que serei candidato. Não sendo candidato, a minha filiação estar ligada ou não ao PSDB não viria ao caso. Há convites, inclusive lá em Brasília, onde eu tenho grandes amigos no Democratas, e vez por outra alguém diz: ‘você tem que voltar’. Eu, originariamente, fui democrata, mas nesse momento estou muito mais lá [no FNDE] como executivo, como gestor, do que como político. Então, a minha filiação não é algo relevante nesse momento.

Foto: Mateus Soares/ bahia.ba
Foto: Mateus Soares/ bahia.ba

 

.ba – A secretária Paloma Modesto é do PSDB e o senhor está no PSDB. Facilita o processo de ligação do FNDE com o município de Salvador pelo fato de a pasta da Educação ser do mesmo partido?

SP – Quando o prefeito vai lá ou o secretário de Educação, eu não pergunto qual é o partido. O que facilita é ela ser de Salvador, ser soteropolitana e eu também ser soteropolitano. O telefone dela é 071 e o meu também é 071. Então, eu liguei para ela logo quando ela tomou posse e me coloquei a disposição. Disse que estava lá para ajudar Salvador, como fiz com os secretários de Educação de outros municípios. Estive com Severiano Alves [presidente do Instituto Anísio Teixeira, do governo do Estado], e ele levou um projeto. Achei a ideia muito boa, mas infelizmente não está ainda dentro da alçada do FNDE. Teremos que iniciar no MEC, mas conversei com ele e ele também já tinha uma agenda no MEC. A professora Maria Helena, que é secretária-executiva, tinha estado com ele também e a gente está lá ansioso de que a coisa ande e que ele possa tirar do MEC para o FNDE, visto que no FNDE eu, com certeza, terei todo o interesse do mundo.

.ba – Um tempo atrás foi especulada  a sua candidatura, tanto como deputado para o próximo pleito quanto mais recentemente para vereador, e isso não se concretizou. Ainda está no seu radar? Embora diga que hoje não é candidato, o senhor ainda pretende concorrer a um mandato no Legislativo?

SP – Há quatro anos, quando o prefeito me chamou para trabalhar, eu fui o primeiro a quem ele chamou para ajudá-lo na transição. Sou advogado, fui advogado dele, conheci um pouco da máquina pública por ser usuário da máquina pública e ele me pediu que eu integrasse a equipe de transição. Naquele momento, jamais havia me passado pela cabeça ingressar na administração pública. Depois da transição, ele me chamou e eu entrei na administração pública, acho que cumpri meu papel corretamente. Meus principais produtos dentro da Sucom eu consegui entregar, a exemplo do novo Plano Diretor e da nova Louos [Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo], que pese ter sido sancionada após a minha saída, mas eu terminei tendo uma participação ativa durante todo o processo, consegui melhorar muito a imagem do órgão. Havia muitos questionamentos sobre a Sucom quando assumimos e acho que conseguimos virar a página e transformá-la em uma secretaria respeitada, que hoje está ainda mais robusta e sendo muito bem entregue a um dos caras mais brilhantes que conheço dessa geração, que é Guilherme Belintani. Então, eu acho que, voltando à questão política, a vida pública e política é tão dinâmica que, se eu disser a você que não tem chance alguma de eu ser candidato em 2018, eu posso ser pego daqui a um ano por vocês: ‘olha, você disse que não iria ser’. Então, eu prefiro não dizer que não pode acontecer, mas não passa hoje no meu radar, não estou trabalhando nesse sentido. Eu estou lá para atender ao país e à educação, e isso como gestor. Eu fui indicado não por ser um bom político e sim porque as pessoas que me indicaram enxergam em mim qualidades como gestor, e é esse o meu papel lá.

“Qualquer dos outros nomes seria melhor do que o meu. Roma, Carreira e Guilherme têm qualidades e predicados que justificariam a escolha, a indicação e a nomeação.”

.ba – Mas em 2018 você pensa em deixar o FNDE para ter uma atuação na campanha de ACM Neto ao governo do Estado?

SP – Olha, nós estamos em janeiro de 2017. Primeiro, o prefeito não disse que é candidato. Então essa pegadinha você não vai tirar de mim [risos]. Em momento algum o prefeito disse que é candidato e ele disse que tem muito trabalho por Salvador e em Brasília para podermos chegar em 2018 com um cenário muito melhor. A nossa expectativa é de que possamos ter em 2017 e 2018 um cenário na economia do país e na geração de empregos muito melhor. O que conversamos no Ministério é que alguns indicadores apontam que a gente já começa a ver o bico do avião inverter um pouquinho. Já há uma melhora e, se alguns indicadores que enxergamos lá se confirmarem, a gente pode ter um 2018 melhor. E em um ano melhor, todo mundo vai sentar e avaliar. Está muito cedo. Neto ganhou a eleição com 74% porque as pessoas acreditavam em um trabalho dele, um trabalho que transformou a cidade, e ele ainda tem um compromisso com a cidade de continuar transformando. Então, 2017 é um ano de trabalho e 2018 também. A gente só vai falar em eleição lá em junho ou julho, dependendo da legislação eleitoral, lá no meio de 2018.

.ba – No grupo de quem trabalhou na campanha do prefeito, o senhor, Guilherme, João Roma, Carreira, foi discutida a possibilidade de algum desses ir para esse cargo no FNDE? A gente sabe que Roma tem uma relação muito boa em Brasília, Carreira já foi deputado federal…

SP – Qualquer dos outros nomes seria melhor do que o meu. Roma, Carreira e Guilherme têm qualidades e predicados que justificariam a escolha, a indicação e a nomeação. Essa nomeação passa por uma série de fatores, de momento da vida de cada um, da disponibilidade da vida, afinal não é fácil você abrir mão da família e ir para lá. São nomes que poderiam ter ocupado e que podem ocupar qualquer função do poder público municipal, estadual ou federal, sem dúvida alguma.

.ba – O senhor falou que Bellintani é um dos homens mais brilhantes dessa geração. Mas não dá uma ponta de ciúme ver a Sucom ter se transformado em uma supersecretaria e ser ele hoje a tocar o projeto?

SP – De jeito algum. Primeiro porque com amigo a gente não tem nem ciúme nem inveja. A gente fica feliz com o sucesso dos amigos, pelo menos eu sou assim. Durante o processo de discussão da nova Sucom, atual Sedur, eu participei, visto que eu estava na transição, ajudando aquele grupo de pessoas que estavam envolvidas no redesenho da reforma administrativa, e enxergava justamente o potencial que a Sucom tinha, independentemente do nome que estivesse lá. Eu já sabia que não ficaria, pois já havia falado a Neto que não era o meu desejo continuar na gestão da Sucom. Acho que já havia encerrado um ciclo quando saí e achava muito ruim voltar, mesmo com toda essa estrutura. Guilherme, quando foi secretário de [Cultura, Turismo e] Desenvolvimento Econômico, ele ia para São Paulo atrás de uma empresa que investisse na Bahia. Aí o cara se animava e perguntava se era ele quem dava a licença, mas quem dava a licença era a Sucom. Aí Guilherme tinha que trazer o cara, sentar, conversar e essa dinâmica do dia-a-dia nos levou a ver que, em uma cidade como Salvador, a gente não pode perder tempo. Tem que ser o mesmo cara que senta com o empresário para negociar a vinda, discutir incentivo, área, facilidades, que tem que licenciar. Quando nós começamos a discutir isso, foi em razão dessa necessidade. E aí, casou com o fato de ter na equipe uma pessoa como Guilherme, que veio da área de desenvolvimento, é um cara que me ajudou muito na elaboração do Plano Diretor e, em razão disso, nós saímos na frente de outras cidades, por termos uma legislação muito moderna. A gente tem instrumentos para ir à rua atrás de investidores. Guilherme ainda fez um doce, dizendo que não sabia se ia ficar e eu disse a ele que essa secretaria foi montada pensando nele. Guilherme hoje é um amigo que eu tenho, fomos colegas na Faculdade de Direito e eu gosto de ver meus amigos bem.

“Estou muito seguro de que tudo o que fizemos no Plano Diretor e na Louos só irá melhorar o nível de desenvolvimento na cidade, gerar empregos e transformar a nossa orla.”

.ba – Há uma discussão sobre o sombreamento nas praias, em que, da legislação anterior para a legislação atual, houve um acréscimo de duas horas. Com a elaboração do PDDU e da Louos, a prefeitura pretende que Salvador tenha qual norte? Que se pareça com o quê? Que cidade será Salvador?

SP – Salvador é uma cidade incomparável. E não estou aqui fazendo política não. Salvador, pela natureza, pela localização, pela posição geográfica e pela topografia, ela é diferente de qualquer outra. Você tem, ao longo da nossa orla, trechos absolutamente distintos em relação à posição do sol. Então, quando nós fomos e alteramos o horário de sombreamento, as pessoas mais preparadas do país participaram desse processo. A maior especialista do país, Roberta Kronka, foi quem elaborou os mapas e fez os estudos. Tanto que ninguém questionou os estudos e, aqueles que questionaram, nunca fizeram qualquer estudo sobre o tema. Não têm um estudo sério. Isso é aritmética. Eu coloco aqui um polígono, localizo o sol pela carta solar, que é um instrumento usual, e você vê qual é a altura. Nós fizemos todas essas simulações de modo a garantir o não sombreamento do solo dentro daquela hora. Aí falam que houve redução de espaço e de fato houve. Só que essa redução impacta nos meses de junho e julho, em um número de dias que que representa apenas 3% a 4% dos dias totais do ano. Aí você me pergunta se é razoável. Não se incentivar a ocupação da nossa orla, que é uma das mais belas do ponto de vista natural e do ponto de vista urbanístico é uma das mais desgastadas. Não havia incentivo urbanístico para que se desenvolvesse a orla. A orla está daquela forma: do Aeroclube para lá, não tem nada. Isso porque a nossa legislação era muito arcaica. A nossa Louos era de 1984 e ninguém nunca teve coragem de enfrentar o problema. Aí cai no discurso de que iria sombrear a praia e blá blá blá. Nós garantimos o não sombreamento da praia durante quase a totalidade do ano. Segundo, nós ampliamos os recuos entre os prédios, recuos ainda maiores na orla do que no resto da cidade, ou seja, adotamos todos os cuidados para garantir que a nossa orla não seja parecida com nenhuma outra. Não queremos que Salvador seja parecida com Copacabana ou com o Leblon. Salvador sempre será Salvador. Os arquitetos baianos são muito qualificados e saberão desenvolver projetos adequados para a nossa realidade, o nosso clima, a nossa temperatura, a nossa ventilação, e a legislação contempla tudo isso. Estou muito seguro de que tudo o que fizemos no Plano Diretor e na Louos só irá melhorar o nível de desenvolvimento na cidade, gerar empregos e transformar a nossa orla.

.ba – No último Bonfim, nós sentimos falta de Paulo Câmara no desfile. Como você está o ambiente no PSDB. Todo mundo do PSDB está bem e satisfeito com o prefeito?

SP – Olha, que eu saiba sim. O prefeito tem dado todo o apoio à nomeação do deputado Antônio Imbassahy [como ministro-chefe da Secretaria de Governo] e tem sido um dos grandes defensores. Eu tenho estado pouco com o prefeito porque a minha agenda está indefinida em Brasília, mas a todo momento que tenho estado com o prefeito tenho visto ele e Imbassahy se falando bastante. A relação com Jutahy e Gualberto também é maravilhosa. Paulo Câmara indicou uma pessoa da absoluta confiança dele para uma das secretarias mais importantes [Marcus Vinícius Passos, na Ordem Pública], então eu acho que Paulo estava viajando. Vi no Instagram que ele estava fora com a família. Como não é um ano político, muitos políticos terminam viajando. Eu também não pude estar aqui depois de 20 anos que vou ao Bonfim. Acho que isso aí [relação aranhada] é zero. Inclusive no Instagram de Paulo, no aniversário do prefeito [26 de janeiro], ele colocou uma foto com o prefeito. Se tivesse qualquer tipo de rusga entre os dois, ele não estaria demonstrando publicamente um gesto como esse.

Foto: Mateus Soares/ bahia.ba
Foto: Mateus Soares/ bahia.ba

 

.ba – O senhor espera ele em Brasília, né?

SP – Eu espero que de fato se concretize a nomeação do deputado Imbassahy, que é um grande quadro, tem todos os predicados para continuar o bom trabalho que estava sendo feito pelo ministro Geddel. Paulo é uma pessoa de absoluta confiança do deputado, então eu imagino que Imbassahy indo, Paulo também irá e será mais um baiano que estará lá para ajudar o país e também a Bahia.

.ba – Você é advogado, amigo pessoal do prefeito, está no PSDB, agora no FNDE. Isso te credencia a voltar para Salvador, talvez em um status de secretário estadual de educação?

SP – Voltar para Salvador como secretário estadual de Educação? O prefeito ACM Neto é prefeito da cidade e a cidade está muito bem entregue. Paloma Modesto tem todas as qualificações e o município está muito bem entregue a ela. Não há plano para isso (risos).

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