Publicado em 02/01/2017 às 15h41.

Nilo: ‘Das seis eleições, essa talvez seja a mais fácil de ganhar’

Postulante à sexta eleição da presidência da AL-BA, Marcelo Nilo (PSL) é generoso com seus adversários, mas garante já ter votos necessários

Evilasio Junior
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

Candidato pela sexta vez à presidência  da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) Marcelo Nilo (PSL) assegura que tem a vitória nas mãos e que só busca a posição mais uma vez por causa dos “apelos dos colegas”. Em entrevista concedida ao bahia.ba, o deputado se mostrou confiante nas suas escolhas e conversou sobre os seus projetos políticos, os apoios que diz já ter garantidos e sobre a candidatura dos seus adversários no pleito, Ângelo Coronel e Luís Augusto (PP), aos quais atribui “força política e condições de vencer”. Todavia, o atual chefe da AL-BA segue confiante na sua vitória e diz que “não passa pela cabeça perder as eleições”. “Terei no mínimo 45 votos. Se eu tiver 44 será uma surpresa. […] Claro que, se eu perder, vou exercer o meu papel de deputado para o qual o povo me elegeu, mas na minha visão e pela minha experiência e vida, eu acho que é quase impossível politicamente eu perder essas eleições”, avalia.

Para conseguir o feito, ele acredita ter o apoio do governador Rui Costa (PT), com quem afirma ter “uma relação profunda e diária”, mais “31 apoios declarados” de parlamentares. Determinado, o parlamentar elenca os seus triunfos políticos, baseados na sua “experiência e relações institucionais fortes com os três poderes” e com todos os grupos que compõe a AL-BA, seja da base ou da oposição.

Com um futuro político ainda incerto, para 2018, ele vislumbra a Câmara Federal ou ainda o Senado como possibilidades, nega que irá usar a sua candidatura à presidência como moeda de troca e rejeita as especulações de que desistiria da tentativa de presidir a Casa pela sexta vez, o que lhe daria 12 anos ininterruptos no posto.

Resolutivo, Nilo ainda listou as conquistas que busca para o PSL, partido ao qual é filiado e preside desde março de 2015. Uma das metas é galgar mais espaço na gestão, já que o partido tem apenas uma secretaria [Ressocialização Penitenciária, sob o comando de Nestor Duarte]. “Acho que merecemos um melhor espaço. Temos oito deputados, somos a segunda maior bancada. Um partido novo, que é pequeno, mas começou grande na Bahia”, justifica.

Cuidadoso com as palavras, Nilo garante que não guarda mágoas do episódio em que foi preterido ao cargo de vice-governador da Bahia, função ocupada pelo pepista João Leão, e que “pensa no futuro” e o “futuro é a Assembleia”.

Confira a entrevista na íntegra: 

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

bahia.ba – O senhor anunciou a decisão de desistir a de concorrer ao Senado dois anos antes da eleição. Por que tão cedo? Isso é definitivo?

Marcelo Nilo – Eu disse apenas o seguinte: Vou criar apenas uma nova alternativa para mim. Eu não posso chegar em março de 2018 com apenas essa alternativa do Senado, que, se por acaso não der certo, eu vou fazer o quê? Voltar a ser deputado estadual? Ficar fora da política? Então eu criei mais essa alternativa, porque na política é preciso ter plano A e plano B. E o meu plano é ir para o Senado ou ser deputado federal. 

.ba – Então o senhor recuou? Porque o senhor disse que não era mais candidato ao Senado…

MN – Não, eu não recuei. Eu agora tenho mais uma alternativa para 2018, porque em 2010 eu fui convidado por Wagner (PT) para ser senador, em 2014, eu fui convidado pelos adversários para ser senador e ser vice, mas como não consegui criar condições para participar da chapa majoritária fui obrigado a voltar a ser candidato a deputado estadual, o que me honra muito. Mas agora eu quero ter duas alternativas políticas.

.ba – Então o senhor pode voltar a ser candidato ao Senado?

MN ­­– Não, porque a candidatura ao Senado pertence aos partidos e depois ao povo. Já a candidatura a deputado federal pertence apenas ao povo. Portanto, para levar a candidatura adiante eu não preciso de apoio dos partidos: é só pertencer a um partido e colocar o meu nome para o povo decidir. No Senado eu preciso ter apoio dos partidos, para depois ter apoio do povo. Então, eu quero ter duas alternativas políticas. Se eu não criar as alterativas políticas para a chapa majoritária, eu tenho a alternativa de ser candidato a federal, que é diferente de ser candidato estadual. Para estadual eu tenho 150 mil votos, para federal eu começo com o meu voto, porque eu tenho que criar as condições.

.ba – Em 2014, quando o senhor tentou sair candidato a vice, e o candidato escolhido, ao final do processo, foi João Leão (PP). O senhor ficou chateado na época com os critérios que foram utilizados. Em 2018, o PSD já tem um senador e o PP deve manter o vice. Ficar de fora em 2018 seria também uma injustiça, na sua opinião? 

MN – Em 2014 eu me senti injustiçado porque decidiram que João Leão seria vice no Carnaval e só me comunicaram no São João. Em 2018, o coordenador do processo é Rui Costa (PT). É ele quem vai decidir qual é o melhor na formação de sua chapa. Ele é candidato a governador e Jaques Wagner a senador, sobram duas vagas: vice e Senado. Existem cinco ou seis pretendentes: eu, Lídice da  Mata (PSB), Walter Pinheiro (sem partido), o PSD, do senador Otto Alencar, e o PP de João Leão  Roberto Muniz também deve pleitear e o PCdoB, que também deve pleitear. Então, são sete. Quem vai decidir é Rui Costa e eu acho que politicamente tenho as condições objetivas para participar da chapa, mas eu não quero ser um obstáculo para o governador.

“Meu objetivo agora é ser presidente da Assembleia, depois, se eu conseguir ser presidente, eu vou ver politicamente o que é melhor para o nosso grupo político.”

.ba – Se tiver uma nova decepção, como a de 2014, o senhor pode ir para uma chapa oposicionista, possivelmente a de ACM Neto (DEM)?

MN – Olhe, eu quero subir degrau por degrau, o meu objetivo agora é ser presidente da Assembleia, depois, se eu conseguir ser presidente, aí eu vou ver politicamente o que é melhor para o nosso grupo político.

.ba – O senhor não descarta então ser integrante da chapa de ACM Neto?

MN – Eu não disse isso, eu só disse que estou preocupado agora em ser presidente da Assembleia.

.ba – Mas o senhor “carta ou descarta”?

MN – Eu só estou preocupado em ser presidente da Assembleia.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – Em 2014, ainda naquela definição da chapa, o senhor deu entrevista para o jornal A Tarde e disse que a única pessoa que defendia João Leão como vice era o então vice-governador Otto Alencar, hoje senador. Essa rusga, com Otto e com João Leão, é de longa data?

MN – Eu gosto do senador Otto Alencar e gosto muito do vice-governador João Leão. Quando estava a disputa Marcelo Nilo ou Mário Negromonte (PP), Otto Alencar me disse que foi ele que sugeriu a Wagner João Leão. Eu respeito muito a posição política dele, que foi a vitoriosa, e eu respeitei. Mesmo assim, eu trabalhei muito para ele ser senador, e não me arrependo, porque acho que ele está fazendo um ótimo mandato. Eu tenho uma relação muito próxima com ele, que inclusive é casado com uma prima minha, e eu tenho respeito e admiração muito grande por ele. Não existe nenhuma mágoa ou ressentimento, porque política é pensar para o futuro. Otto é um dos maiores currículos da Bahia, três vezes secretário, duas vezes vice-governador, presidente da Assembleia, governador [substituto], conselheiro e senador. Ele conquistou isso com muito trabalho e eu admiro muito as pessoas que trabalham. Não existe, por isso, nenhum tipo de mágoa, ressentimento ou tristeza por hoje ele não estar me apoiando para presidente [da Assembleia]. Em política a gente tem que pensar para o futuro, e futuro, neste momento, é o presente, e o presente é ser presidente da Assembleia.

.ba – Já que o seu objetivo é ser presidente da Assembleia, mas a base conta com as candidaturas de Luís Augusto e Ângelo Coronel. O governador disse que ia intervir para evitar dissidências. O senhor declarou acreditar que Rui Costa vá interceder a seu favor, até porque o PT foi o primeiro partido a apoiar a sua candidatura. Caso isso não aconteça, o senhor acredita que a base poderá sair rachada do processo? 

MN – Primeiro que eu nunca disse que eu acredito que Rui Costa vai interferir a meu favor. Eu acho que Rui Costa me apoia. Vocês que conhecem política, se o PT me apoia é porque Rui Costa me apoia. Já conversamos juntos. No dia que eu almocei com ACM Neto, jantei à noite no Palácio de Ondina com o governador. Veja como eu estou forte, né? Almoço com o prefeito e janto com o governador (risos). É brincadeira, viu (risos). Ele [Rui] já conversou comigo e disse de público que vai conversar com os outros dois candidatos. O consenso só pode ser em torno de quem está na frente. Eu tenho 31 apoios declarados. O PP tem cinco, que são de Luís Augusto. O Coronel tem sete e a oposição tem 20. Então, hoje, todo o consenso é em torno de quem tem a maioria. Quem tem 31 não vai ceder para quem tem cinco, por exemplo. Se eles quiserem me apoiar, eu fico muito feliz. Estou conversando muito com a oposição, já estive com eles, no mínimo, individual ou em grupo, umas vinte vezes. E eu tenho certeza que também vamos caminhar juntos. Mas oposição é oposição. A oposição sempre quer ver o mar pegar fogo para comer peixe frito. Isso é o normal e natural. Quando eu era deputado de oposição, eu também fazia esse jogo político. Agora eu tenho uma relação muito forte com os deputados de oposição porque eu sempre os respeitei e os tratei com muito respeito ao contraditório. Nunca a oposição esteve tão forte politicamente quanto esteve na minha gestão. Nada se aprova lá sem passar pela oposição. Eu sempre disse brincando que, depois do presidente, os dois homens mais fortes lá são os líderes da oposição e do governo. Quando eles não chegam a um acordo, eu entro para ajuizar e tomar a decisão política em favor do regimento e da Constituição.

“Terei no mínimo 45 votos. Se eu tiver 44 será uma surpresa. […] Claro que, se eu perder, vou exercer o meu papel de deputado para o qual o povo me elegeu, mas na minha visão e pela minha experiência e vida, eu acho que é quase impossível politicamente eu perder essas eleições.”

.ba – Uma pessoa da cúpula de um dos dois partidos que estão na disputa da Casa chegou a me dizer que, caso Rui Costa tenha uma decisão em favor do senhor, teria que fazer uma manifestação pública contra o governador. Do outro lado, caso Rui arbitre e diga ‘Nilo, você já tem 10 anos no comando da Assembleia, está na hora de ceder para outra pessoa’, não vai ter um desgaste de qualquer forma? O senhor não pode vir a romper com o governo?

MN – Primeiro que eu não acredito que o governador vá me pedir que desista. Quando eu conversei com ele, ele incentivou a minha candidatura. E quando ele conversou com os outros deputados, tanto Coronel quanto Luís Augusto, eu acho que ele fez corretamente, porque os dois são grandes concorrentes. Eles são muito assíduos, vivem o Parlamento, chegam lá 8h da manhã e saem às 10 da noite, todos os dias estão discursando, elaborando projetos, emendando projetos, fazendo relatoria. Vocês que cobrem o Parlamento sabem da assiduidade deles. Todos os dias estão na tribuna, discutem, debatem, defendem o governo, e é por isso que eu estou trabalhando 24h por dia.

.ba – E qual seria diferencial do senhor em relação a eles, já que são grandes concorrentes?

MN – Porque eu sou experiente e tenho relações institucionais com os outros poderes. Eu não gostaria mais de ser presidente. Achei que meu ciclo já tinha encerrado, mas vários deputados, tanto da base quanto da oposição, me pediram para eu ser candidato neste momento de crise, neste momento de grandes dificuldades. Segundo eles, eu deveria continuar porque sou mais experiente, porque tenho mais relações institucionais com os poderes Judiciário e Executivo, com o Ministério Público e com a imprensa. Eu fui escolhido por vocês em uma votação secreta pela 12ª vez consecutiva. Eu vou repetir: 12ª vez consecutiva, algumas vezes sem ser presidente, porque eu só tenho 10 anos como presidente. E nesses 10 anos eu ganhei dois troféus como destaque parlamentar. Então, eles me pediram e seria uma covardia da minha parte não atendê-los, já que eles me fizeram diversas vezes presidente de um poder. Eu apenas saí candidato porque os deputados acharam que tinham que colocar uma pessoa experiente, que viva a Casa, que tenha relações institucionais, que saiba que ali é a Casa do povo. Eu abri a Casa para receber todos os movimentos sociais da Bahia: os negros, os homossexuais, os índios, os empresários, os sem-terra… Editamos e reeditamos 211 livros de personalidades que fizeram a história da Bahia. Lá é um poder fiscalizado 24h por vocês da imprensa e são 10 anos sem ter nenhuma denúncia. Se teve denúncia foi de caso específico, ou de servidor, ou de deputado fora da Assembleia. A Casa viveu 10 anos dentro da sua normalidade. Nesse momento grave da situação do Brasil, segundo os deputados, seria um risco colocar uma pessoa que não seja experiente e que não tenha relações institucionais.

.ba – Uma vez que vários deputados vieram te pedir que no momento de crise o senhor se mantivesse na presidência, em uma eventual derrota, o senhor acredita que o governo teria mais dificuldade na Casa? 

MN-  Primeiro que não passa pela minha cabeça perder essas eleições. Veja bem, eu estou dizendo a vocês aqui, no dia 27 de dezembro [dia da entrevista], que terei no mínimo 45 votos. Se eu tiver 44 será uma surpresa, e olhe que eu conheço de eleição para presidente da Assembleia. Hoje o quadro é eu ter mais de 45 votos. Não existe na minha cabeça nenhuma possibilidade de perder. Claro que, se eu perder, vou exercer o meu papel de deputado para o qual o povo me elegeu. Mas, na minha visão e pela minha experiência e vida, eu acho que é quase impossível politicamente eu perder essas eleições. Lá a traição é muito pequena, sempre foi menor do que 5%, e eu sempre vou ter de público 50 votos que vão estar comigo até a eleição.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – Mudando a pergunta então, caso o senhor não aceitasse o pedido dos deputados e não saísse candidato, o governo teria mais dificuldades com um novo presidente? 

MN – Primeiro que que não sei quem seria esse novo presidente. A depender do próximo presidente, aí teria que ter habilidade do governo com o futuro presidente, se eu não tivesse saído candidato ou se perder a eleição. Eleição se ganha e se perde quando se apura os votos. Eu respeito muito o voto secreto e respeito a decisão dos pares, agora isso aí vai ser um problema que eu não sei do presidente com o governador. Eu sei uma coisa, eu sou muito próximo ao governador Rui Costa, mas eu respeito muito a oposição. Tanto é que, em cinco mandatos, a oposição me lançou em quatro. As últimas três eleições eu fui lançado pela oposição. O PT, nas três últimas eleições, em duas veio me apoiar na véspera e na última saiu do plenário. Se eu hoje estou sentado na cadeira de presidente, eu devo muito a oposição. Agora, sentado na cadeira, pode ter certeza que eu sou independente e harmônico com os poderes.

.ba – A última disputa mesmo foi com Elmar Nascimento (DEM), em 2007, quando ele ainda era do PR e a minoria o lançou candidato. Ângelo Coronel disse que ele tem os votos da oposição, que são 21 deputados. Caso a bancada lance em bloco um apoio a Ângelo Coronel, até em uma arrumação com a eleição da UPB [União dos Municípios da Bahia], ou sob a liderança de ACM Neto, o senhor acha que a eleição tende a ser vencida por quem receber os votos da oposição? Vai ser um processo mais difícil? 

MN – Eu tenho 31 votos declarados. Ângelo Coronel tem sete declarados e Luís Augusto tem cinco. A oposição tem 20. Eu preciso apenas, em tese, de dois ou três votos da oposição. E quem conhece a Casa, sabe que pessoalmente eu me dou melhor com os deputados da oposição do que com os deputados da base. Se eu saio para tomar um whisky , um vinho, geralmente eu saio com os deputados da oposição.

.ba – O senhor garante então que a oposição vai com Marcelo Nilo?

MN – Não, eu não garanto! Eu espero. A oposição é muito competente. Eu espero tê-los ao meu lado mais uma vez. Porque eles sabem que eu, sentado na cadeira, crio as condições objetivas e políticas para eles exercerem os mandatos conforme o regimento da Constituição.

“Ele [Rui Costa] sabe que eu não largaria uma candidatura [a presidente da AL-BA] em troca de ser secretário. Seria um desrespeito com os 31 deputados que me apoiaram […] É mais fácil você ser papa do que eu retirar a minha candidatura. Não existe a menor possibilidade.”

.ba –  Caso a tensão permaneça durante o próximo mês e, para pacificar as coisas na base, o PSL for atendido no pedido de ampliação de espaço no governo, o senhor toparia ser secretário? 

MN – Claro que não! Primeiro que o governador Rui Costa não me ofereceu nenhuma secretaria. Ele sabe que se oferecesse eu não aceitaria, porque hoje eu sou candidato do Poder Legislativo. Não existe. Ele sabe que eu não largaria uma candidatura em troca de ser secretário. Seria um desrespeito com os 31 deputados que me apoiaram. Eu tenho uma relação profunda com o governador Rui Costa, ele sabe que, me convidando para ser secretário neste momento, seria uma coisa que eu não aceitaria, por desrespeito aos que me apoiam. Quando eu tomei a decisão de ser candidato, a primeira pessoa com quem eu conversei foi o governador Rui Costa e ele me incentivou muito a ser candidato. Inclusive tem um discurso na Assembleia do senador Otto Alencar, de quando ele recebeu a Comenda 2 de Julho, praticamente me lançando candidato.

.ba – Mas Otto agora apoia a candidatura de Ângelo Coronel… 

MN – Mas eu compreendo. Ângelo Coronel é do seu partido, quer ser presidente. Otto Alencar está fazendo papel dele de presidente do partido. Eu compreendo muito a situação de cada um. Eu continuarei respeitando e admirando ele, que é um grande senador, e foi inclusive a favor da vaquejada, que é um projeto cultural nosso, de todos os nordestinos. A relação dele com Ângelo Coronel é muito forte. Como Ângelo Coronel é um candidato fortíssimo  muito assíduo, discursa muito, relata muito, se você for na Assembleia vai ver que ele é ativo nas comissões, anda com os projetos debaixo do braço, estudando, debatendo então ele tem todas as condições de ser presidente, porque vive a Casa.

.ba – Mesmo ressaltando as qualidades de Ângelo Coronel e de Luís Augusto, o senhor descarta completamente em determinado momento retirar a sua candidatura e apoiar um dos dois? 

MN – É mais fácil você ser papa do que eu retirar a minha candidatura. Não existe a menor possibilidade. Eu conversei hoje com o governador Rui Costa, o que fazemos cerca de duas vezes por dia. Também nos encontramos umas duas ou três vezes por semana e fazemos viagens oficiais juntos. Por isso Rui sabe que é impossível eu retirar a minha candidatura, porque seria um desrespeito com os deputados, à Casa, ao meu passado, meu presente e meu futuro. Eu sou o único deputado na história da Bahia que ficou 16 anos na oposição. Por duas vezes fui o deputado mais bem votado, fui governador interino cinco vezes, sete vezes deputado estadual. Antes de ser presidente, fui o deputado que mais discursou. Entrei na Embasa estagiário e saí presidente. Então, eu não cheguei onde cheguei para quando faltar 20 ou 30 dias desistir. Ganhar ou perder faz parte do jogo, mas quem ganha tem que ganhar pela porta da frente. Quem perde também tem que sair pela porta da frente. Se eu desistisse hoje eu sairia pela porta do fundo. Não vou desistir por vários fatores. Primeiro, dessas seis eleições, essa talvez seja a mais fácil de eu ganhar, porque eu vou ter mais de 45 votos em uma votação. Quando Elmar saiu [candidato], ele era o deputado mais próximo a mim e, de uma hora para outra, ele saiu candidato. Eu ganhei, salvo engano, de 42 a 21. E a oposição estava toda unida em torno dele. Na época, o Geddel [Vieira Lima, PMDB], que era da nossa base, apoiava ele. E eu ganhei. Eu já sou experiente na disputa e nessa, pode ter certeza, pelas condições colocadas, eu vou ter mais de 45 votos.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba –  Ângelo Coronel soltou uma nota em que disse que o senhor gosta muito de fazer bravata, chantagem e que está adotando um tom… 

MN – Olhe, o deputado Ângelo Coronel jamais vai me ouvir fazendo nenhuma crítica a ele e nem à candidatura dele, que é um candidato fortíssimo. Se antes eu tinha que trabalhar 12h por dia agora eu trabalho 15h para vencê-lo, porque ele tem todas as condições de vencer. São dois grandes parlamentares que vão fazer uma grande disputa política.

.ba – Ele falou que o primeiro projeto dele é acabar com a reeleição, o senhor acha que isso pode render votos a ele e apoio da opinião pública? 

MN – Primeiro o seguinte, em fevereiro, eu vou ouvir os pares e só vou acabar com a reeleição se a maioria quiser acabar com a reeleição. Até agora não acabou porque a maioria nunca quis.

.ba – Porque que a maioria nunca quis? O senhor está na presidência da Casa há 10 anos, qual é o segredo? 

MN – Até a última eleição, a maioria esmagadora não quis acabar com a reeleição. Em fevereiro eu vou fazer uma nova avaliação com os pares e, se eles decidirem, nós vamos acabar com a reeleição. Quem decide lá é a maioria, não é o presidente. Hoje eu sinto que a maioria quer acabar com a reeleição.

“Se eu não me reeleger, vou voltar a ser deputado com muita honra. Vou utilizar aquela tribuna – diga-se de passagem, já estou até com saudade – e defender as necessidades da sociedade baiana. Não tem nenhum problema de voltar a ser deputado estadual, certo? Se ser presidente me ajuda a ser senador ou deputado federal, isso para mim é secundário.”

.ba – O senhor é presidente desde 2007 e até pouco tempo falava que gostava da vida política na Bahia e que não pensava em Brasília, mas já mudou o discurso e agora já pensa em Senado e Câmara Federal. Há uma dificuldade de Marcelo Nilo se sentar de volta na cadeira de um deputado comum ou o senhor acha que, para se projetar ao Congresso, precisaria ter uma posição de destaque no Parlamento? 

MN – Primeiro, o seguinte: se eu não me reeleger, vou voltar a ser deputado com muita honra. Vou utilizar aquela tribuna – diga-se de passagem, já estou até com saudade – e defender as necessidades da sociedade baiana. Não tem nenhum problema de voltar a ser deputado estadual, certo? Se ser presidente me ajuda a ser senador ou deputado federal, isso para mim é secundário. Eu tive 150 mil votos como deputado, não como presidente, porque quando eu coloco meu nome é a deputado, não para presidente. Então, quando eu digo que quero ser presidente, eu estou atendendo a um apelo dos colegas. Eu tenho apoio de deputados do PT, do PC do B, do PSB PDT, do PTN…

.ba – O PDT disse que não…

MN – Os deputados que me apoiam?

.ba – O presidente Félix Mendonça Júnior…

MN – Primeiro que o presidente não vota, quem vota são os deputados. Dos dois [Roberto Carlos e Sargento Isidório], já assumiram que votariam. Para mim, o que vale é a palavra.

.ba – Tanto Isidório quanto Roberto Carlos?

MN – Não tenho a menor dúvida! Quem conhece política sabe que os dois estão comigo. Inclusive, Roberto Carlos fez questão até de me dar o apoio por escrito. Quem conhece política sabe que o Isidório é o maior ‘marcelista’ da Casa. Quando ele pede um aparte, quando ele fala para a imprensa, fala com muita clareza. Agora, ele [o deputado Pastor Sargento Isidório] é o maior marqueteiro que eu já conheci na vida. Eu tento compreender o papel dele. Agora, o voto de Isidório é mais certo que o meu. Eu posso ficar nervoso na hora, me atrapalhar e errar. Ele com certeza não vai errar.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – O senhor acredita que o PSL teve um crescimento menor do que o senhor imaginava?

MN – Não, de jeito nenhum! O PSL tinha um prefeito, passou para 15. Agora, o nosso grupo político tem 42 prefeitos.

.ba – Mas esse pessoal vai para o PSL? O senhor anunciou que muitos iriam. Quando isso vai acontecer?

MN – Fevereiro, março muitos virão…

.ba – Quantos?

MN – Eu acho que vou elevar o PSL para 50 prefeitos. O que vale para mim é o compromisso do prefeito com nosso grupo político. Temos muitos e muitos prefeitos de outros partidos, inclusive do PSB, PP, PSD… Até do DEM tem prefeito que é vinculado ao nosso grupo político. Tem do PSDB… Então, isso é normal na política baiana. Tem prefeitos que estão em outros quadros porque o PSL foi fundado faltando 10 dias para o fechamento do prazo [de filiação partidária e troca de partido]. Eu me preocupei em colocar deputados e não prefeitos. Nós somos a segunda maior bancada, tanto é que nós estamos pleiteando mais uma secretaria. Tem partidos lá que têm cinco deputados e duas secretarias. Nós temos oito e só temos uma secretaria. Então, nós estamos pleiteando, agora precisamos do governador.

.ba – Ele já te chamou para conversar? Certa vez o senhor disse ‘ah, eu tinha que ser presidente para decidir os meus rumos’. Agora o senhor já é presidente de um partido e tem uma reforma administrativa a ser anunciada pelo governador. O PSL atualmente só tem Nestor Duarte na Secretaria de Assuntos Penitenciários. Já foi conversado alguma coisa com o governador sobre ampliação de espaço?

MN – Já conversamos, os oito deputados reunidos com o governador, nós pleiteamos um maior espaço no governo e ele ficou de pensar. Agora, se ele disser que não vai dar, tem que respeitar. Não vai ficar nenhum ressentimento nem nenhuma mágoa. Agora eu acho que o PSL, pela sua força no Parlamento, pela sua força com os prefeitos, merece uma secretaria de ponta. Nós temos a Secretaria que é a Penitenciária. Qual é o convênio que nós estamos fazendo com os prefeitos? Podemos fazer uma escola? Podemos fazer um posto de saúde? Uma estrada, um calçamento? Uma praça? Não.

“O governador fala muito pouco. Ele ouve mais do que fala. […] O tempo é dele. Foi ele quem foi eleito governador. Se ele disser que não vai dar, paciência. Mas eu acho que nós merecemos.”

.ba – Qual seria essa secretaria de ponta?

MN – Ora, qualquer uma que possa fazer parcerias com as prefeituras. Ajudar a sociedade baiana com a participação do partido.

.ba – O governador se comprometeu com algo?

MN – Não, ele ficou de pensar. O governador fala muito pouco. Ele ouve mais do que fala. Então ele ouviu e ficou de pensar. Mas não existe nenhuma faca no pescoço, porque nós temos que respeitar o timing. O tempo é dele. Foi ele quem foi eleito governador. Se ele disser que não vai dar, paciência. Mas eu acho que nós merecemos.

.ba – Qual seria o principal objetivo?

MN – Ter mais [poder de] decisão política perante os prefeitos, os vereadores, as lideranças comunitárias. Tem partidos que têm menos deputados, certo? E têm mais secretarias. É questão de justiça, mas a decisão é dele.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – Em uma reunião com o PP, semana passada, segundo o pessoal da sigla, o governador garantiu que não haverá aumento de espaço para nenhum partido. O PSL fica descontente com essa decisão, se for confirmada?

MN – Não, de jeito nenhum! Temos que respeitar aquele que foi eleito para ser governador. Ele que é o governador, ele é quem tem que decidir! Nós temos que pleitear. Você pleiteia, mas a decisão é dele. O pleito é feito, mas a decisão é dele. Temos que respeitar, afinal de contas, ele é o governador. Temos de acatar a decisão dele. Acho que merecemos um melhor espaço. Temos oito deputados, somos a segunda maior bancada: um partido novo, que é pequeno mas que começou grande na Bahia. Acho que não é justo que tenhamos apenas a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização, em que não podemos fazer parcerias com os municípios. Pelo contrário, se você for colocar uma penitenciária em um município, os prefeitos não querem. Então, não tem como ajudar os prefeitos e principalmente a sociedade. Acho que merecemos um espaço político melhor.

.ba – Josias Gomes está para cair agora…

MN – Você que está dizendo…

.ba – Se fala muito, e o senhor dá provas disso com 10 anos de comando da Assembleia, que Marcelo Nilo tem uma ótima articulação com prefeitos, deputados, etc e tal. Se o governador dissesse ‘está bem, eu vou dar o espaço para o PSL, mas eu quero você para fazer as relações institucionais’. Nem isso seduziria Nilo a ser secretário?

MN – Jamais seria secretário de Articulação Política… Articulação Política teria que ser uma pessoa muito próxima ao governador.

.ba – E o senhor não é?

MN – Eu sou, mas não sou da ‘cozinha’ do governador. Quem é da cozinha do governador são as pessoas que convivem com ele há 30 anos, 40 anos, como é o caso de Jaques Wagner, Nelson Pelegrino, Josias [Gomes]. Eu conheço o governador Rui Costa há 10 anos. Eu conheci Rui Costa quando me elegi presidente da Assembleia e ele era o secretário de Articulação Política. Eu não sou da cozinha dele, eu não convivo com ele no seu dia-a-dia privado. Eu convivo com ele politicamente. Me dou muito bem com ele, mas politicamente. Hoje até me considero amigo, mas não sou uma pessoa de antigas relações. Para ser de Articulação Política tem que conhecer o governador, sem ele falar, entender o seu pensamento. É isso que Josias, que tem uma relação com ele de muitos e muitos anos, Jaques Wagner, Pelegrino, Afonso Florence, são pessoas que têm uma relação muito, muito antiga. Eu conheci ele praticamente no mesmo dia em que me elegi presidente. Jaques Wagner, comecei a ter relações com ele no dia em que ele se elegeu governador. Eu conhecia apenas de jornal, de televisão, mas eu não tinha o convívio diário com ele. Eu acho que eu sou de confiança, mas não tenho a relação que outros do PT têm.

“Garanto [apoio a Rui Costa em 2018], não tem dúvida nenhuma. Eu não vou aguardar para tomar decisão posterior não, decido agora. Claro que a política é dinâmica e eu me dou pessoalmente com o prefeito ACM Neto, com quem tenho uma relação de muito respeito.”

.ba – Para terminar, o senhor garante que, em 2018, vai estar com Rui Costa na campanha?

MN – Garanto, não tem dúvida nenhuma. Eu, você sabe, e a Bahia sabe, que fui convidado para ser senador na chapa adversária e, na época, Paulo Souto (DEM) tinha 46% e Rui Costa tinha quatro pontos [em pesquisas de intenções de voto], e eu não pensei duas vezes. Eu decido hoje o que vou fazer em 2018. Eu não vou aguardar para tomar decisão posterior não, decido agora. Claro que a política é dinâmica e eu me dou pessoalmente com o prefeito ACM Neto, com quem tenho uma relação de muito respeito. Nós nunca tivemos um problema pessoal. Quando eu fui candidato a presidente contra Clóvis Ferraz (DEM), ACM Neto me deu a palavra que não apoiaria ele. Quando o avô, Antônio Carlos (Magalhães) fez o acordo com Paulo Souto para ser Clóvis Ferraz, eu peguei o telefone e liguei para ACM Neto. Eu disse: ‘olha, eu gostaria de dizer que você está liberado do nosso acordo’, e ele me disse ‘deputado, sou muito grato de você me liberar do acordo, porque eu não gostaria de começar minha vida com problemas. Sou muito grato a essa decisão’. Você entendeu? Vou repetir: quando eu fui candidato contra Clóvis, autorizado pela oposição, eu sentei com ACM Neto no consultório de Vespasiano Neto para chegarmos a um acordo de um candidato a presidente da Assembleia. E ele me garantiu, naquele dia, que jamais apoiaria Clóvis Ferraz e eu garanti que jamais desistiria da candidatura. Posteriormente, o líder era Antônio Carlos Magalhães e fez um acordo com Paulo Souto: Clóvis para governador e Paulo Azi (DEM) para líder. Eu peguei o telefone e liguei para ele. Então, desde aquele dia, nós nos respeitamos muito. Nós pensamos diferente, nós estamos em lados opostos, não votei nele, não trabalhei para ele, nunca votou em mim e nunca trabalhou para mim, mas eu trato ele com muito respeito. Tanto é que eu fui na casa de Paulo Azi e tivemos mais de duas horas de conversa política. Os contrários também têm que conversar. Respeito muito o contraditório, por isso que eu sou presidente há tanto tempo. Na política, você também tem que respeitar as pessoas que pensam diferente. Se a oposição me apoiar, eu fico grato. Se a oposição não me apoiar, eu respeitarei a posição da oposição. Afinal de contas, a oposição quer ver o mar pegar fogo para comer peixe frito e eu aprendi muito a ser oposição quando eu fui [minoria] 16 anos naquela Casa.

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