Publicado em 21/08/2016 às 21h00.

Brasil, campeão em garra e superação

Atletas brasileiros dão exemplo de raça ao driblarem a falta de apoio oficial e conquistam 19 medalhas na Rio 2016

Jaciara Santos
Foto: Marcello Dias/ Futura Press/ Estadão Conteúdo
Foto: Marcello Dias/ Futura Press/ Estadão Conteúdo

 

Foram 17 dias de múltiplas emoções. Êxtase, superação, dor, alegria, autoafirmação e amor em suas mais variadas formas de manifestação. Diga-se o que se quiser, mas não há como negar, a história do Brasil se divide em dois momentos: o antes e o depois dos Jogos Olímpicos do Rio. Sim, a crise econômica, o caos político, a indefinição quanto ao futuro não sumiram como num passe de mágica, mas o brasileiro já pode olhar pelo retrovisor aquele seu histórico complexo de vira-latas. Afinal, vamos combinar, somos bons, sim. Certo que ficamos na 13ª posição no quadro geral de classificação, entretanto, cada uma das nossas 19 medalhas tem sabor de ouro. Foram vitórias construídas a sangue (literalmente, não é Robson?), a suor (hein, Rafaela?) e lágrimas, muitas lágrimas (os ginastas Diego e Nory, que o digam).

No quesito autoafirmação, daqui do Nordeste, mandamos um recado para o Sul/Sudeste do país: a Bahia é raça, é força, é ouro, prata e bronze. Salve, Isaquias – quem vai dizer que nunca ouviu falar em Ubaitaba, a terra das canoas? Axé, Mr. Robson (dá-lhe Boa Vista de São Caetano!). E o bairro de Massaranduba, que produziu o medalhista Wallace, do futebol? Claro que poderíamos ter feito melhor. Isso se o incentivo ao esporte constituísse um programa regular de Estado e não vivesse de apoios espasmódicos como os que o governo do Estado acaba de anunciar ao boxe, no calor da vitória do nosso pugilista olímpico.

Aos eternos insatisfeitos que lamentam a modesta quantidade de medalhas deixadas em casa, um lembrete: a boa performance de atletas orientais, europeus, norte- americanos, canadenses e até de alguns países das Américas não é fruto apenas de talento. No estudo “Políticas para o esporte de alto rendimento” , o mestre em Ciência do Esporte Raimundo Luiz Ferreira apresenta uma análise comparativa de alguns sistemas esportivos nacionais e mostra algumas das razões pelas quais continuamos nadando, nadando… e morrendo na praia em competições internacionais.

Foto: Tarso Sarraf/ Estadão Conteúdo
Foto: Tarso Sarraf/ Estadão Conteúdo

 

Não basta ser bom   Para início de conversa, não basta apenas ser bom/boa. É preciso desenvolver as aptidões atléticas em programas de governo, como acontece, por exemplo, na Alemanha, Austrália, China, Cuba, Espanha, França e Rússia, entre outros países. Do alto do quadro geral de medalhas da Rio-2016, com um total de 120 condecorações – 45 de ouro, 37 de prata e 38 de bronze – , os Estados Unidos “ (…) é a única nação de todos os países pesquisados que não possui um órgão máximo esportivo governamental voltado para o esporte de alto rendimento”, diz o estudo de Ferreira.

Mas – e aí está o pulo do gato! – na Terra do Tio Sam, a iniciativa privada leva o esporte a sério. A função de gerir a atividade esportiva é assumida pelo Comitê Olímpico Americano (Usoc) e “o financiamento resulta de patrocínios e doações da iniciativa privada através de uma lei de isenção de impostos que data de 1950”, constata o estudioso.

Já no Brasil… “(…) Em comparação com todos os outros países pesquisados, os recursos financeiros do Estado para o esporte são bastante reduzidos. Existe também pouca valorização do esporte de alto rendimento e o controle político é secundário. Existe ainda uma restrita cooperação entre as instituições esportivas governamentais e não governamentais, além de poucos investimentos em infraestruturas para o alto rendimento a nível nacional.”. Então, senhores críticos de plantão, aplaudam de pé nossos atletas. Eles são exemplos de superação e foco. Com as armas com que lutaram, foram quase heróis.

Foto: Fábio Motta/ Estadão Conteúdo
Foto: Fábio Motta/ Estadão Conteúdo

 

OS CAMPEÕES

Atletismo – ouro – Thiago Braz – São Paulo

Boxe – ouro – Robson Conceição – Bahia

Canoagem de velocidade – prata (2) e bronze – Isaquias Queiroz /Erlon Souza – Bahia

Futebol – ouro

Ginástica Artística – prata – Diego Hypolito – São Paulo

Ginástica Artística – prata – Arthur Zanetti – São Paulo

Ginástica Artística – bronze – Artur Nory – São Paulo

Judô – ouro – Rafaela Silva – Rio de Janeiro

Judô – bronze – Mayra Aguiar – Rio Grande do Sul

Judô – bronze – Rafael Silva – Mato Grosso do Sul

Maratona aquática – bronze – Poliana Okimoto – São Paulo

Taekwondo – bronze – Maicon Siqueira – Minas Gerais

Tiro esportivo – prata – Felipe Wu – São Paulo

Vela – Martine Grael – ouro  (Rio de Janeiro) e Kahena Kunze (São Paulo)

Vôlei – ouro

Vôlei de praia – prata –Ágatha Bednarczuk (Paraná) e Bárbara Seixas (Rio de Janeiro)

Vôlei de praia  – ouro – Alison Cerutti (Espírito Santo) e Bruno Oscar Schmidt (Brasília)

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