Publicado em 30/03/2016 às 08h57.

PMDB, a fé no balaio de gatos; Pinheiro, as razões da saída

A desfiliação do senador Walter Pinheiro do PT coincidiu com o mesmo dia em que o PMDB deixou o governo

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“No Brasil, o fundo do poço é apenas uma etapa.”

Luiz Fernando Veríssimo

Escritor brasileiro

 

DF - PMDB/DIRETÓRIO NACIONAL/MOÇÃO - POLÍTICA - O senador Romero Jucá (c), entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (e), e o ex-ministro Eliseu Padilha (d), conduz reunião da Executiva Nacional do PMDB para decidir sobre o desembarque do partido da base aliada do governo Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta terça-feira, 29. A moção foi aprovada por aclamação pela maioria e o PMDB deixa o governo. 29/03/2016 - Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO
Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO

 

O balaio peemedebista

Quem viu na tevê o senador Romero Jucá (RR) bradar a independência do governo em um clima festivo, haverá de pensar que o PMDB deu um exemplo magistral de coesão contra Dilma.

Não é bem assim por vários motivos. Dois deles, um circunstancial, outro histórico.

O circunstancial: a decisão por aclamação, e não votação, foi adotada para explicitar o desejo da maioria justamente para evitar o esperneio no mesmo palco dos dissidentes.

O histórico: o PMDB nunca foi unido, nem na época da ditadura, quando chamava-se MDB e só havia dois partidos: ele na oposição e a Arena pró-governo.

Naquela época dividia-se entre autênticos e adesistas.

É nessa vocação para balaio de gatos do PMDB que o governo confia. Acha que, nem que o comando do partido queira, conseguirá que uma banda continue apoiando-o.

Para começar, três dos sete ministros do partido se recusam a sair. O PMDB ensaia punir os infiéis. Só se for agora. Seria algo inédito.

 

Foto André Corrêa/Liderança do PT no Senado
Foto André Corrêa/Liderança do PT no Senado

 

Pinheiro e as razões da debandada

A desfiliação do senador Walter Pinheiro do PT coincidiu com o mesmo dia em que o PMDB deixou o governo.

Quem acha que a ação foi coordenada e que significa uma debandada orquestrada, está avaliando mal.

Pinheiro deixa claro que o problema é mais com o governo, o governo do partido dele, do que com o próprio PT. E por que? Porquê, embora Dilma tenha sofrido sua maior goleada em São Paulo, são os petistas paulistas quem dão as cartas.

E aí ele passou a comprar brigas homéricas, como a aprovação da lei que distribui o ICMS das compras via internet para os dois estados, o de origem e o de destino. Antes, era só o de origem e aí São Paulo era o grande beneficiário.

Veja alguns pontos de vista de Pinheiro diante da saída:

Sem oposição – “São mais com o governo do que o PT. Eu nunca disse que vou para a oposição a ninguém, estou na minha. Talvez agora eu esteja mais isento para ser compreendido. O governo não nos ouve. E tem maltratado muito a Bahia. Isso é desgastante”.

Novo partido – “É uma decisão para ser pensada com muita calma. Tem que ser algo, em termos de proposta, que eu possa ajudar a construir. Mas nunca cogitei ser candidato a prefeito, como alguns falaram, e muito menos quero ser dono de partido algum. Perguntam: e 2018.? Em 2018 a gente resolve”.

Situação pessoal – “É duro. Eu até hoje só tive um partido, que foi o próprio PT. Nunca me separei de minha mulher, não tenho experiência de separação. É um jogo duro. Não foi uma decisão fácil”.

Velhos amigos – “Tenho muitos amigos no PT e continuarei amigo deles, apoiando-os sempre, como o vereador Gilmar Santiago, o deputado Zé Neto e Orlandinho Peixoto (ex-prefeito de Cruz das Almas). O apreço continua”.

Rui Costa – “Conversei com ele. Expliquei minhas razões e disse que ele sempre contará comigo para ajudar nos pleitos da Bahia. Rui é um bom governador. É uma pena que o governo (de Dilma) não ajude. Agora mesmo está travando os pedidos de empréstimos para a Bahia. E para São Paulo dá tudo”.

 

Foto Max Haack/Agecom
Foto Max Haack/Agecom

 

Guerra anunciada

ACM Neto já previa que teria problemas com os sindicatos dos servidores municipais por conta das dificuldades que teria em dar reajuste este ano. E explicava as razões: “Eles são politicamente contra mim”. Na inauguração da Estação da Lapa ontem, disse em público o que falava reservadamente:
— As viúvas do PT não cobram do governo federal o reajuste zero que ele já anunciou, não cobram do Estado. Estão aqui para fazer baderna política.

Só não sabia que a primeira batalha aconteceria no dia do aniversário de Salvador.

Joseph no SD

Rifado em 2012 pelo PT como candidato a prefeito de Juazeiro, o ex-deputado Joseph Bandeira mudou para o PSD, depois para o PDT e agora mudou de novo: está no Solidariedade, articulação feita pelo ex-deputado Raimundo Sobreira.

Joseph diz a amigos que foge de partido governista como o diabo da cruz.

O fiscal sem fiscal

Sempre se disse que o TCM fiscaliza as prefeituras mas não tinha quem o fiscalizasse. Era um fiscal sem fiscal. Agora tem. Ontem, o TCE julgou (e aprovou), pela primeira vez, as contas do TCM.

Nem por isso deixa de haver o compadrismo, já que TCE e TCM são vizinhos de meia parede e os vícios que permeiam em um, vicejam em outro. Mas já é alguma coisa.

O TCE continua sendo fiscalizado pela Assembleia.

Epigrama da roupa suja

Uma vez o PMDB fora do governo, segundo o poeta Antonio Lins, a ordem é abrir as torneiras, tentar dividir os peemedebistas e distribuir favores aos demais partidos para tentar evitar o impeachment. E ele tascou o epigrama:

Mais uma lavanderia
Sem água na dita cuja,
Dilma diz o que faria
Com toda essa roupa

Sem vergonha

Presidente da Companhia Bahiana de Pesquisas Minerais (CBPM) e brizolista histórico, Alexandre Brust diz que, enquanto a Câmara tenta cassar Dilma sem responsabilidade comprovada, esquece o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), comprovadamente 171.

Aliás, no Congresso já se discute abertamente uma estratégia para livrar Cunha da cadeia. Ele renunciaria à presidência, mas teria o mandato e a imunidade (leia-se impunidade) assegurados. Com Cunha pode, com Lula não. Perderam a vergonha escancaradamente.

 

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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