Publicado em 22/01/2016 às 09h44.

A política como conhecemos é sempre jogo sujo

Do que se vê na Lava Jato, só não está no imbróglio quem estava fora do jogo ou quem ainda não teve cacife para entrar na roleta

Levi Vasconcelos

Há quem diga que se a Lava Jato lavar mesmo a alma do jogo político brasileiro e achar alguém moralmente acima de qualquer suspeita é mais ou menos como procurar uma virgem no prostíbulo. E os políticos admitem isso, até porque, negar seria como a velhíssima pretensão de querer tapar o sol com a peneira.

Só para citar dois exemplos, o deputado José Carlos Aleluia (DEM), arauto top da oposição ao governo petista, diz que “o PT organizou a cobrança”. Ou seja, passou a fazer sistematicamente pedidos que eram feitos em larga escala, mas pontuais. E em vez de partido, ficou parecendo que virou quadrilha.

Jaques Wagner, ministro chefe da Casa Civil, diz que o PT se lambuzou, como o gato que nunca comeu azeite, e, quando o fez, se melou todo. Ou seja, um partido de sindicalistas que fez sua trajetória ancorado em sindicatos quando vislumbrou as benesses do poder, ao invés de mudar as regras do jogo, entrou de sola no esquemão.

Jogo sujo – Em suma, na gênese da questão, com o financiamento privado de campanha, o modelo apodreceu. Não de agora, já externava a imensidão da sua deformação quando se via pessoas se elegerem sempre em nome dos interesses coletivos, mas na real, uma vez no mandato, defensores ostensivos dos interesses de quem os financiou. Era, ou é, a República do toma lá, dá cá.

É sempre bom lembrar que Irmã Dulce ganhou a aura de santidade porque seguiu a rigor o fundamento cristão: “Fazei o bem sem olhar a quem e sem esperar compensações”. No jogo político, da forma como o vivenciamos, é o inverso: “Fazei o bem olhando bem a quem e calculando desde logo as vantagens que se pode auferir”.

No jogo político da forma como o Brasil praticava, ou pratica, o toma-lá-dá-cá virou cultura. Aparecem alguns partidos nanicos, geralmente de esquerda, a pregar que eles são diferentes. Ainda aí, a prova estar a ser dada. O PT um dia já foi nanico e moralista. Deu no que deu. Outros, idem, idem.

Deu o locupletemo-nos – É por aí que não nos causa espanto ver o deputado Jutahy Júnior (PSDB) aparecer no noticiário pedindo dinheiro a Leo Pinheiro, da OAS (leia aqui). Do que se vê na Lava Jato, só não está no imbróglio, de uma forma ou de outra, ou quem estava fora do jogo na época dos episódios investigados, e aí não é pregação de bons princípios, e sim sorte, ou quem ainda não teve cacife para entrar na roleta.

Esperamos que disso brote um novo Brasil, uma nova cultura. Lá atrás, no início dos anos 60 do século passado, o jornalista Sérgio Porto, que assinava Stanislaw Ponte Preta, já preconizava com os seus “Pensamentos do Lalau”: “Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”.

Prevaleceu o locupletemo-nos. Até agora, pelo menos.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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