Publicado em 22/02/2016 às 20h30.

‘Acarajé’: Movimento Negro repudia nome da 23ª fase da Lava Jato

O entendimento é de que o nome da operação da Polícia Federal desrespeita a história do Candomblé no Brasil ao utilizar o elemento sagrado para a religião

Redação
Dia Nacional da Baiana de Acarajé Foto: Elói Corrêa/GOVBA
Foto: Elói Corrêa/GOVBA

 

Patrimônio nacional, símbolo da cultura afro e elemento sagrado do candomblé, além de um simples bolinho de feijão frito no dendê, o quitute entrou no centro da polêmica política nesta segunda-feira (22). O “acarajé” – palavra da língua ioruba composta por “akárá” que significa “bola de fogo” e “je” que significa “comer” – foi utilizado para nomear a 23ª fase da operação Lava Jato, desta vez também na Bahia. A utilização do verbete causou indignação geral nas redes sociais, sob alegação de desrespeito às religiões de matrizes africanas e à cultura afrobrasileira, uma vez que foi associada aos casos de corrupção desmembrados com as investigações da Polícia Federal.

Em nota pública, o Coletivo de Entidades Negras, CEN, organização nacional do Movimento Negro que, dentre outros temas, defende as religiões de matrizes africanas, disse repudiar veementemente a ação da PF e exige a imediata alteração do nome. O entendimento é de que a operação desrespeitou a tradição e a história da religião no Brasil.

“Nada justifica a escolha deste nome e exigimos sua imediata alteração. O acarajé é alimento sagrado para as pessoas que, em todo o país cultuam os Orixás. Há pouco tempo, na Bahia, o acarajé foi objeto de disputa jurídica entre o povo-de-santo e os evangélico-pentecostais que queriam rebatizá-lo de bolinho de Jesus para, assim, poder comercializá-lo. O povo-de-santo venceu a pendenga apresentando a sacralidade do alimento que é intimamente relacionado à Orixá Oya”, diz o comunicado do CEN.

Na nota, a instituição acrescenta ainda que “Orixá e o povo-de-santo nada tem com a roubalheira que assola o país. O que repudiamos é ver nossa religiosidade vinculada a uma operação para prender bandidos. Isso, para nós e toda nossa comunidade religiosa, é inaceitável”.

Quitute – O famoso bolinho da culinária baiana foi tombado pelo Iphan em 2014, mesmo ano em que a atividade das “baianas” de acarajé foi reconhecida. O Dia da Baiana do Acarajé também é celebrado em 25 de novembro. Nas redes sociais, a utilização da palavra acarajé, de forma pejorativa, tem aumentado. “e essa operação acarajé? tem é político do PT escorregando na Vatapá”, diz um internauta. Fotos de baianas também acompanham as postagens nas redes sociais.

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