Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.
Além de deletar um corrupto, queda de Cunha escancara o jogo podre
É como disse ontem, no Face, Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, e inclemente adversário de Cunha: “Hoje o corrupto vai sentir o gosto da trairagem”
Frase da vez
“A sabedoria dos crocodilos consiste em verter lágrimas quando querem devorar”
Francis Bacon, filósofo inglês (1561-1626)
Que Eduardo Cunha seria cassado, era fava contada, Deus e o mundo diziam. Surpreendente foi o placar: 450 votos a favor, 10 contra e nove abstenções.
É como disse ontem, no Face, Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, e inclemente adversário de Cunha: “Hoje o corrupto vai sentir o gosto da trairagem”.
Dizia-se que Cunha tinha mais de 150 deputados comendo no prato, alguns até acresciam mais 100. Sabem-se lá quantos, mas com certeza muito mais do que os 19 que votaram com ele ou se abstiveram.
Isso escancara parte do jogo podre que é a política brasileira. Com Dilma, já se viu o mesmo: um dia – e Gilberto Kassab, o dono do PSD, é exemplo cabal – é ministro de Dilma, no outro, de Temer e, ainda por cima, fechando questão contra o impeachment, como se o partido tivesse algum compromisso com ética e decência.
Curioso foi ver o próprio Cunha queixando-se que o seu destino foi selado quando o governo de Temer fechou com o PT para eleger Rodrigo Maia (DEM-RJ) presidente da Câmara.
Como diz o poeta, é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.
Ou como diz Ciro Gomes, está sentindo o gosto da trairagem.
Página virada
Diz o deputado Afonso Florence, líder do PT na Câmara, que Eduardo Cunha é uma página virada na história.
De fato, em si, a trajetória dele de corrupção, a ascensão e a queda de Dilma, fizeram desse momento uma singular passagem na história do Brasil.
Mas o modelo político que mistura atos de bandidagem com representação popular é página aberta, pelos atores e pelo cenário.
Os atores são os mesmos. O modelo político idem.
Carmem e Meirelles
A ministra Carmem Lúcia nunca usou carro oficial. Sempre circulou nas andanças para o trabalho ou solenidades oficiais no próprio carro, ela mesma dirigindo.
Tomou posse na presidência do STF, a mais alta instância da Justiça no país, e antecipadamente avisou que não queria festa, nem um coquetelzinho. Justificativa: com a crise no país, não há o que festejar.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, completou 71 anos sábado. Fez um festão e bailou com a esposa Eva no Clube Naval, em Brasília, no embalo de Deixe a vida me levar, de Zeca Pagodinho.
Meirelles, o homem que manda apertar o cinto em nome da salvação nacional, deveria mirar-se no exemplo da ministra.
O Brasil precisa de gente como ela.
Bodódromo em Irecê
Um complexo gastronômico ao ar livre, formado por restaurantes especializados em carne de bode, o que, de quebra, irá estimular o desenvolvimento a ovinocaprinocultura na região de Irecê.
É esse o foco do bodódromo que a Codevasf vai instalar em Irecê, ao preço de R$ 1,1 milhão, fruto de emendas parlamentares.
O bodódromo, inspirado no de Petrolina, fica pronto em dezembro.
O teste da zika
Fábio Vilas Boas, secretário da saúde da Bahia, foi ontem a São Paulo participar do encontro dos secretários estaduais de saúde para discutir os estragos da PEC do governo que pretende tirar da União a obrigação de passar ao SUS 13,2% da receita líquida, mas fez sucesso com o teste rápido para a detecção da zika pela Bahiafarma.
— É um avanço e tanto, já que em 20 minutos se obtém o resultado, antes só com exames de laboratório caros e demorados.
O único candidato único
Nestes tempos de campanha eleitoral com dinheiro curto, Teolândia, no baixo sul da Bahia, virou exceção da regra: lá, só os candidatos a vereador gastam algum dinheiro.
Bem avaliado, o prefeito Lázaro de Oliveira (PMDB) disputava a reeleição contra Marcos Pinto (PDT).
E eis que Marcos jogou a toalha, assustado com uma pesquisa que deu 69% contra nove dele. Lázaro virou o único candidato único da Bahia.
Ilhéus, o recorde
Na outra banda, Ilhéus é o município campeoníssimo em número de candidatos. Tem dez, seguido por Itabuna e Entre Rios, ambos com oito cada.
Em Ilhéus, o fenômeno é explicável. O prefeito Jabes Ribeiro (PP) desistiu de disputar a reeleição por problemas de saúde. Se ele estivesse na disputa, todos se uniriam contra. Saíram, todos acham que podem vencer.
Nos grandes
Nos três municípios da Bahia que têm segundo turno, a chuva de candidatos é natural: oito em Vitória da Conquista, sete em Salvador e seis em Feira de Santana.
Do jeito que a coisa vai, tudo indica que só teremos segundo turno em Conquista.
No olho da rua
O professor Edvaldo Brito (PSD), vereador em Salvador tentando a reeleição, estava ontem em pessoa na sinaleira entre a Vasco da Gama e a Garibaldi comandando uma equipe que fazia panfletagem para ele.
Funcionou. As pessoas paravam, cumprimentavam, abraçavam e Edivaldo disse que vai fazer mais em outros pontos:
— Teve um cidadão que se dirigiu a mim de forma tão estabanada que eu pensei que ele me dar uma bofetada. Deu um forte abraço.
Pendenga grapiúna
O indeferimento da candidatura de Fernando Gomes (DEM) agitou Itabuna. Líder nas pesquisas, ele mantém a campanha, mas o tititi corre solto. Dizem que Fernando corre o risco de ganhar e não levar e, se sentir que não pode mesmo, apoiará Capitão Azevedo (PTB).
Lá, os dois governistas, Geraldo Simões (PT) e Davidson Magalhães (PCdoB), emperraram nas pesquisas.
Pagam caro pela crise da água que a cidade vive, creditada ao governo com o atraso na barragem do rio Colônia.
Jogo duplo
A Editora Quarteto vai agitar a sexta-feira que vem no Instituto Geográfico e Histórico lançando (18h) dois livros de uma só penada: O Grande Banquete: Eles e Elas e os Risos do Fado, de Ricardo Ferreira, e O Trem, a Cidade e o Cordel, de Gileno Felix. Os autores estarão lá. Também haverá recital de poesias e o cantor Lazzo, parceiro de Gileno, dará show.
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