Publicado em 25/11/2015 às 18h44.

Aprovado projeto que põe bíblia no Dique ao lado dos orixás

De autoria da vereadora Cátia Rodrigues (PHS), projeto causa polêmica, mas ganha votos favoráveis de governistas da Câmara

Hieros Vasconcelos
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Vereadora Cátia Rodrigues, autora do projeto

Com votos da maioria dos vereadores de Salvador, a Câmara Municipal aprovou, na tarde desta quarta-feira (25), o polêmico projeto de indicação 387/2015. De autoria da vereadora Cátia Rodrigues (PHS), a matéria indica ao prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), a instalação de um monumento no Dique do Tororó que represente a Bíblia Sagrada.  Dos 43 edis, apenas os 18 opositores votaram contra.

Segundo a vereadora, o objetivo é dar aos cristãos o mesmo espaço que foi dado aos candomblecistas com a colocação dos principais orixás cultuados pela religião de matriz africana.  “Se fala tanto em intolerância religiosa e existe um grupo nesta Casa que é contra o meu projeto de indicação, que apenas quer igualar o direito de todos. Temos o direito de ver a bíblia no Dique, assim como outros religiosos têm de ver os orixás”, declarou a autora do projeto.

O projeto causou polêmica e o assunto ganhou discurso acalorado do vereador Edvaldo Brito (PTB), candomblecista e ferrenho defensor da religião no Legislativo municipal.  Ao bahia.ba, ele disse se tratar de um equívoco da vereadora e uma demonstração de intolerância. “O equívoco qual é: um projeto de indicação já tem um entendimento que só pode ser para algo que não represente uma realização da execução do serviço pela autoridade a quem se indica”.

Conforme Edvaldo Brito, para que a bíblia seja afirmada, não precisa ser colocada no Dique. “Se ela queria um confronto… deveria fazer com o Alcorão, que é onde está a disputa de saber quem foi primeiro que o anjo Gabriel anunciou a presença de Deus. Se ao profeta Maomé ou a Jesus”.

“Não tem necessidade de uma bíblia do tamanho daquelas estátuas que estão ali. A bíblia tem valor próprio, não precisa que ela tenha um tamanho daquelas imagens. A bíblia é um livro sagrado para os cristãos e não é renegada pelos adeptos das religiões dos orixás, é respeitada”, acrescenta Brito.

Para ele, há desconhecimento da religião por parte da vereadora. “Nenhuma daquelas estátuas exprimem orixás, são figurações tiradas pelo escultor para mostrar como se materializa o ser humano naquelas manifestações da religião.  Porém o símbolo não está aí. Há uma diferença do pepelê (altar), que ficam os símbolos dos orixás, e o altar da religião católica, onde ficam as imagens dos santos.  Todas as imagens procuram retratar o santo”.

Oposicionistas – Outros vereadores da  oposição também se pronunciaram sobre a polêmica.  Um dos discursos, inclusive, ressaltou a necessidade de a Câmara ser fiel ao povo soteropolitano, em sua maioria descendente de africanos. A vereadora Aladilce de Souza (PCdoB), em conversa com o bahia.ba, declarou: “Acho que, para mim, não cabe colocar uma Bíblia junto dos orixás. Acho que a intenção da vereadora foi de confronto”.

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