Publicado em 15/11/2018 às 19h40.

Cidades baianas temem ‘apagão médico’ sem cubanos

Uma delas é Uauá, no sertão baiano, que tem 8 cubanos entre os 10 médicos que atendem no município

Redação
Foto: Rafael Kage / Creative Commons
Foto: Rafael Kage / Creative Commons

 

Municípios do interior da Bahia temem uma espécie de “apagão médico” com a saída de cubanos do Programa Mais Médicos, de acordo com reportagem da Folha desta quinta-feira (15).

Uma delas é a cidade de Uauá, no sertão baiano, que tem 8 cubanos entre os 10 médicos que atendem no município. O local conta com dez postos de saúde e cobertura a 100% de seus 27 mil habitantes.

Por estarem localizados em regiões isoladas e distantes dos grandes centros, as cidades têm dificuldades de contratar médicos brasileiros.

Apenas na Bahia, há mais de 800 cubanos atuando nos municípios do estado. A saída deles deve fazer com que a cobertura de atenção básica no estado caia de 63% para 43%.

“Voltaremos para um patamar de oito anos atrás. São quase 3 milhões de baianos que ficarão sem médico”, afirma Cristiano Soster, diretor de atenção básica da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).

Em Uauá, a maioria dos médicos atuam em áreas rurais isoladas. Na cidade, 44% da população vive na zona urbana e apenas 7% possui emprego formal. Os moradores dependem do atendimento de profissionais de saúde a cubana  Maria Los Angeles, que vive na cidade desde 2013.

Ela contou que há poucos dias recebeu uma carta informando que o contrato seria encerrado e que retornaria para o país caribenho. A médica diz temer pelos seus pacientes, a maioria deles pequenos agricultores.

“Há pessoas que têm doenças crônicas como diabetes, hipertensão e precisam de atendimento continuado. Não dá para parar”, afirma.

A cubana rebate os argumentos do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) de que eles estariam fazendo trabalho escravo. Ela sustenta que o dinheiro que recebe é suficiente para se manter no Brasil e ajudar a mãe e a filha em Cuba. “Para a gente, vale a pena”, diz.

A médica Virgínia Trejok, que atende na cidade de Dias D’Ávila, também lamenta o fim do contrato e contraria as críticas sobre a formação dos médicos cubanos.

“A gente salvou muita vida aqui”, conta a profissional que atua há 25 anos na profissão, sendo os últimos quatro deles no Brasil. Por outro lado, Virgínia afirma que está feliz pela possibilidade de voltar para perto da família.

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