Publicado em 15/12/2015 às 12h12.

Cunha, o Catilina 2015

Levi Vasconcelos
J. Batista/Câmara dos Deputados
J. Batista/Câmara dos Deputados

 

Pródiga em batizar as suas operações com nomes que simbolizam as intenções do ato, a Polícia Federal se superou nas buscas nas casas de Eduardo Cunha. Nominou as incursões, uma nova etapa da Lava Jato, de Operação Catalinárias, como ficaram conhecidos os discursos do cônsul Marco Túlio Cícero contra as conspirações do colega Catilina, que planejava derrubar a República.

O detalhe – os quatro discursos de Cícero foram proferidos no ano 63 antes de Cristo, portanto há 2098 anos. E sobreviveram no tempo como pérolas da oratória política. E mais que isso, um deles cai como uma luva para traduzir os atos de Eduardo Cunha, o malfadado presidente da Câmara dos Deputados, acusado por Toyo Setal, ex-consultor da Setal, de ter recebido US$ 5 milhões em propinas sobre contratos de aluguel de navios-sonda pela Petrobras.

Mas para além de tais imbricamentos com a Lava Jato, Cunha foi fisgado ao dar um depoimento na CPI da Petrobras, na qual compareceu por livre e espontânea vontade, quando disse que não tinha contas na Suíça.

A PGR e a PF provaram que Cunha tinha e movimentou tais contas. Como o Código de Ética da Câmara prevê que “omitir intencionalmente informação relevante” justifica a perda do mandato, o PSOL e a Rede encabeçaram o pedido de sua cassação no Conselho de Ética.

Aberta e ostensivamente, Cunha manobra para evitar o julgamento. Já conseguiu protelar a decisão do Conselho de Ética sobre o acatamento de sua denúncia seis vezes. E, para se vingar do PT, que o abandonou, aceitou o pedido de impeachment de Dilma.

Agora veja o discurso de Cícero:

Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!

Palmas para a PF.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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