Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.
Dá até obra literária: no Brasil, corrupção virou brincadeira
No Brasil, está faltando escritor para fazer parceria com Slavutzky em caso análogo
Frase da vez
“A mentira tem pernas curtas, mas o escândalo tem asas”.
Thomas Fuller, historiador britânico das antigas (1608-1661)
Abrão Slavutzky, no seu magistral livro Humor é coisa séria, disseca com refinado uso da inteligência todo o potencial do humor, para divertir com direito a gargalhadas ou para enraivar. Mas no diagnóstico mais profundo do ponto de vista político, dá o recado: “É um antídoto para o desamparo e constante ameaça ao autoritarismo”.
Não é de graça que o jornal satírico francês Charlie Hebdo foi massacrado por terroristas em fevereiro do ano passado.
No Brasil, está faltando escritor para fazer parceria com Slavutzky em caso análogo, o dos políticos, que ganharam o panteão da imunidade, que virou impunidade para todo tipo de trambiques e cambalachos com o dinheiro público, o nosso dinheiro. Dica para o título: Corrupção política no Brasil virou brincadeira.
O enredo
O pedido de prisão que Rodrigo Janot fez contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, o ex-presidente José Sarney, o senador Romero Jucá e o deputado Eduardo Cunha, deu e deixou.
Janot pediu as prisões com base nas gravações feitas por Sérgio Machado, ex-Transpetro, com Jucá, Renan, Sarney e Cia. Algo não tão forte num país de tantos escândalos (de todos os tamanhos), é o que a indignação dos acusados sugere.
Pelo alarido que Sarney fez, dizendo-se indignado e revoltado, e que pensou, por ter sido presidente, merecedor do respeito do MPF, como se ele fosse inimputável.
Renan e Jucá oscilaram entre ficar calado e falar depois. A tranquilidade dos dois talvez se justifique. Eles são imunes (leia-se impunes).
Tia Eron 1
De discreta vereadora em Salvador, Tia Eron partiu em 2014 para a sua primeira empreitada federal e elegeu-se deputada pelo PRB . Agora, está no olho do furacão.
Não, não são apenas os esquerdistas, que demonizam os integrantes da bancada evangélica (e vice-versa) que ela integra. Caiu-lhe no colo decidir o destino de Eduardo Cunha no Conselho de Ética. Num colegiado dividido meio a meio, tem o voto decisivo. Se votar sim no relatório que pede a cassação dele por falta de decoro, ele dança; se não, escapa.
Tia Eron 2
A questão: Tia Eron sempre se declarou amiga de Cunha (como todos os evangélicos lá). Depois se disse empenhada em ajudar a “passar o Brasil a limpo”, que votaria pela preservação da “moral na casa”, mas ontem, na hora do voto, sumiu. Ou melhor, ficou o tempo inteiro na sala da liderança do partido, o PRB. Soltou nota dizendo que cumpriria as suas obrigações. A votação foi adiada.
O voto é aberto e aí está o calvário de Cunha. O PRB tem candidatos a prefeito no Rio (o senador Marcelo Crivela) e em São Paulo (o deputado Celso Russomanno).
Além disso, se diz em Brasília que o PRB, partido dela, fez um acordo com o governo para salvar Temer. E ela virou uma ilha, pressionada por todos os lados.
Votar sim é agradar amigos próximos, votar não é se melar, e por tabela, o PRB .
É esperar para ver como se sairá da sinuca de bico.
Cacoete na estreia
Roberto Muniz (PP) tomou posse ontem no Senado na vaga de Walter Pinheiro.
Para assumir o mandato, deixou a presidência da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), sediada em São Paulo, onde ele estava morando.
No discurso de estreia, disse que saneamento é fundamental para o combate ao Aedes aegypti, transmissor da zika e chikungunya.
Ainda está com o cacoete da Abcon.
Ciúme petista
A presença de Rui Costa anteontem em Irecê deu e deixou. Petistas não gostaram dos mimos que ele dedicou ao prefeito Luizinho Sobral (PTN) e estão esperneando nas redes sociais.
Dizem que sem Luizinho, em 2014, Rui teve mais de 70% dos votos lá.
Em Irecê, os ex-prefeitos e ex-deputados Zé das Virgens e Joaci Dourado, petistas, estão convergindo para apoiar Elmo Vaz (PSB), ex-superintendente da Codevasf.
Mas Luizinho, bem avaliado, é favorito.
O azar do cacau
Nascido em família de cacauicultores, o deputado Sandro Régis (DEM) diz que a seca está fazendo um estrago na região cacaueira de dar dó. A produção caiu em mais de 30%, mas tem gente sofrendo mais:
— E o pessoal se vê assim, como sempre, sem apoio do governo.
Justo agora, quando os produtores festejavam a recuperação da produtividade. É muito azar.
Nome social em questão
A Comissão da Promoção da Igualdade da Assembleia realizou sessão ontem que pôs na mesa a questão do uso oficial do nome social de transexuais.
Paulete Furacão, primeira trans a assumir cargo público (Secretaria da Justiça), em 2012, usa o nome social na frente do crachá e atrás as informações formais.
E como é o seu nome mesmo?
— Nunca pergunte a uma trans o seu nome de registro. É a suprema ofensa.
Na Assembleia tramita um projeto de resolução que permite o uso do nome na casa. O deputado Sargento Isidório (PDT) fez o maior escarcéu, contra.
No geral, há leis esporádicas em alguns estados, mas o que assegura mesmo o uso do nome é sentença transitada em julgado.
Agressão magna
Ednei Souza, o Tché do Sertão, e Nonato Melo, alunos do curso de direito da Faculdade Ages, de Paripiranga, entregaram um abaixo assinado ontem na Assembleia com mais de mil assinaturas contra a instituição. A queixa: provas que estavam marcada para 10 e 11 de junho foram adiadas para 1º e 2 de julho.
Eles acham um desrespeito colocar provas num 2 de Julho, um feriado: “A direção está inflexível. Não está nem aí para a data magna do estado. E nós, estudantes, achamos um desrespeito. A Ages tem lá mais de seis mil alunos.
Festa no HB
O Hospital da Bahia vai festejar os seus 10 anos, segunda próxima, com honras e pompas.
O evento principal é a palestra Perspectivas para a saúde pública no Brasil que o ministro da Saúde, Ricardo Barros (16h30), fará na Associação Bahiana de Medicina (ABM), em Ondina.
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