Publicado em 22/08/2016 às 09h40.

E será que há legado olímpico para a Lava Jato? Esperamos que não, mas…

Ainda é cedo para avaliar a vastidão do feito, mas já dá para dizer que ficou algo de bom e de ruim para o esporte e para a imagem do país

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“O slogan da Rio 2016 é Um Novo Mundo. Mas do lado de fora do Parque Olímpico, esse novo mundo não tem lugar para os pobres”

Dominic Phillips, correspondente do Washington Post, jornal dos EUA, no Brasil

(Foto: Divulgação/Rio 2016).
(Foto: Divulgação/Rio 2016).

 

Fim da Rio 2016, a pergunta: e qual o legado da festa de gala bancada por um país tão carente de coisas primárias?

Óbvio, ainda é cedo para avaliar a vastidão do feito, mas já dá para dizer que ficou algo de bom e de ruim para o esporte e para a imagem do país.

A festa

Na abertura e no encerramento, o Brasil mostrou ao mundo que sabe fazer festa com todos os requintes de beleza que um dos mais importantes eventos do mundo requer. Os espetáculos em si, dez. Os organizadores carregarão isso no currículo e vão brilhar ao longo do tempo. Medalha de ouro para eles.

Isaquias e nós

Palmas para os nossos medalhistas na Rio 2016. São uns heróis. Neymar e Cia no futebol e a turma do vôlei, são profissionais, venceram e também merecem. Proporcionaram um desfecho de muita alegria.

Mas os demais, além das alegrias, prestaram dois grandes serviços à nação: mostraram com absoluta clareza que a vitória, no embalo de uma torcida apaixonada, foi mais méritos pessoais.

Ou melhor: quão o Brasil se esquece de olhar para as ruas, para os nossos jovens.

O recorde de medalhas não foi fruto de um investimento extracampo. O ouro de Martine Grael e Kahena Kunze, na vela, vem do DNA. Já nasceram nisso. Lars Grael tem sete medalhas.

Tal e qual elas, Robson Conceição (boxe), este um humilde cidadão de um baixo periférico de Salvador que encontrou no esporte a luz do caminho da civilidade, e Rafaela Silva (judô), idem, idem. Nenhum dos dois, com esporte de rico ou de pobre, foi produto de uma política de estado.

O baiano Isaquias Queiroz, com duas de prata e uma de bronze, emerge nesse cenário com um emblema dessa cena: muito antes do Brasil ser Brasil, índios já circulavam por nossos rios em canoas. Os portugueses também. Mas usar a canoa em competição aqui é coisa chique. Não há qualquer estímulo. Daí, por mais esdrúxulo que pareça, ele tornou-se único.

Carimba a tese o atletismo. Com tanto espaço para correr, pular, brincar e rodopiar, o Brasil é um lástima. Imagine você que Wagner Domingos, o Montanha, fez história só porque conseguiu ir a final do lançamento de martelo. Não foi pouca coisa. O antecessor dele foi Carmine di Giorgi, que terminou em 13º nos Jogos de Los Angeles 1932.

Lava Jato

Festas e competições à parte, perguntar não ofende: e foi tudo tão bonitinho assim?

A festa custou, segundo a Matriz de Responsabilidade Olímpica, R$ 38.26 bilhões, R$ 1,6 bilhão a mais do que o previsto em 2014.

Grande parte das obras e serviços foi contratada depois que a Lava Jato já estava em andamento, mas a mídia internacional bateu forte: diziam que os jogos aconteciam num contexto em que os “brasilionários”, senhores das empreiteiras e das poderosas famílias que as controlam, estão no olho do furacão de recentes escândalos de corrupção.

Como o Brasil pegou a medalha de ouro em corrupção e parece que vai demorar muito a perder o pódio, ninguém duvida.

Não seria a Olimpíada que iria mudar nossa cultura maldita como num salto com vara.

Primeiro Ibope

A dupla Ibope-TV Bahia fecha hoje a primeira pesquisa do Ibope das eleições 2016 em Salvador.

Deve ser divulgada amanhã. Nela estarão os sete candidatos oficialmente registrados.

Fundef em debate

Está aí um caso que vai dar muito o quê falar (e cadeia para alguns). É que 190 dos 417 municípios baianos ganharam na justiça uma causa em que questionavam diferenças nos repasses pelo governo federal do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef, atual Fundeb).

O pagamento começou agora, em plena campanha eleitoral, valores que oscilam entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões.

No interior, a farra está rolando. Os aquinhoados gastam como querem e entendem.

Carta branca

As prefeituras engordaram o caixa e suscitou uma questão: como esse dinheiro deve ser gasto? O Ministério Público de Contas do Tribunal de Contas dos Municípios recomendou que o órgão determinasse a obrigatoriedade dos recursos serem aplicados em educação. Óbvio, dinheiro do Fundef é para educação.

O projeto foi à votação quinta passada e adivinhe o que aconteceu? O MPC perdeu.

Chico Neto, o presidente do TCM, está viajando, presidiu a sessão o vice, Fernando Vita. Como presidente só vota em caso de empate (para desempatar), Paolo Marconi e Plínio Carneiro votaram a favor e Mário Negromonte, João Alfredo Dias e Raimundo Moreira contra. Placar final: 3 a 2.

Vai dar um bom rolo. Do jeito que está, ficou o vale tudo.

MPF de olho

O Ministério Público Federal (MPF) está de olho na aplicação dos recursos. E pelo visto, trabalho não vai faltar. Já circula a notícia de que o prefeito de Queimadas, Tarcísio Pedreira (PR), lá atrás negociou o repasse com um escritório de advocacia com deságio de 50%.

Um dos pontos que o MPF está fazendo nas suas observações é justamente o dos honorários advocatícios, que giram em torno de 20%, o que equivale a, no mínimo, R$ 1 milhão. O MPF acha os processos “pouco complexos”.

Sem mistérios 1

Veja essa futrica, como este caso de Esplanada. Lá, o prefeito Rodrigo Lima (PTN) era amigão de ACM Neto na juventude. Brigaram, tornaram-se inimigões.

Rodrigo, o prefeito desgastado, Neto abençoou o ex-prefeito Aldemir da Cruz (PRB), muito popular, mas com a ficha suja, condenado pela justiça federal a partir do TCU.

No meio da briguinha, entrou dinheiro.

Sem mistérios 2

No fim de maio, no apagar das luzes do prazo permitido para prefeituras contratarem obras, Rodrigo recebeu uma bolada de R$ 12 milhões por conta de uma antiga pendenga do município contra os repasses de royalties da Petrobras. E um empréstimo de R$ 5 milhões que ele pediu no Desenbahia. Está calçando o município todo.  É a briga do endinheirado contra o ficha suja popular.

Ânimo tucano

O deputado Antônio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara, foi um dos convivas do jantar que Temer deu anteontem para a cúpula tucana, quando puxaram a orelha do presidente.

—Alertamo-lo sobre a necessidade de medidas para recuperar a economia. Pior do que medidas impopulares é o desemprego.

Imbassahy diz que o ponto um é a aprovação do limite de gastos pela União. “Ou faz ou o país quebra. Foi ele mesmo quem falou em remédios amargos. Saímos de lá animados”.

Mara Luquet e Tatau

Mara Luquet, colunista da rádio CBN e do Jornal da Globo, vai fazer a palestra Investimentos em época de crise na próxima quinta (19h) no Foyer do CEO Salvador (Caminho das Árvores). O evento marca os 20 anos da Winners Engenharia Financeira.

Tatau encerra a festa.

Terceira via

Marcelo Junqueira Ayres Filho, juiz ouvidor do TRE-Ba, disse a um jornalista anteontem, na sede da ABI, que com a proibição da doação de campanhas por empresas, só vai restar aos candidatos duas saídas: as redes sociais e a internet.

Tem a terceira via, Dr. Marcelo, é o caixa 2. É como diz a música Maluco Beleza, de Raul Seixas:

Este caminho que eu mesmo escolhi/É tão fácil seguir/Por não ter onde ir.

Bola na Assembleia

Dizem na Assembleia que bola e deputado andarem perto, é perigo, por sempre um jogo que dá liga fluir bem.

A TV Assembleia resolveu lançar nos próximos dias um programa de esportes, e a história da bola entrou na rádio corredor.

Aliás, nos planos de expansão de Marcelo Nilo, o presidente, está jogar a TV Assembleia nos quatro cantos da Bahia, via satélite.

O projeto engasgou na crise: o preço do satélite fica entre R$ 70 e R$ 80 mil/ano.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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