Publicado em 27/04/2016 às 08h59.

Em Salvador, Dilma faz último apelo. Em Brasília, ninguém ligou

Ela voltou a dizer-se vítima de uma injustiça e que Michel Temer (sem citá-lo) quer sentar na cadeira dela sem voto

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“O poder é violento quando é fraco”

Jaime Balmes, filosófo, teólogo e político espanhol (1810 -1848)

Abraçaço das mulheres em Dilma (Foto Mateus Pereira GOVBA)
Abraçaço das mulheres em Dilma (Foto Mateus Pereira GOVBA)

 

Na visita a Salvador ontem, Dilma estava descontraída. Sentiu-se em casa, ao lado de Rui Costa, recebeu afagos das mulheres e sorridente agradeceu. Mas voltou a dizer-se vítima de uma injustiça e que Michel Temer (sem citá-lo) quer sentar na cadeira dela sem voto. No atacado, se não foi um clima de despedida, também não foi de esperança de manter-se no poder.

Aliás, para ser justo, enquanto a Comissão do Impeachment elegia o seu presidente lá no Senado, marcava o dia 6 de maio para ler o relatório no seu âmbito e o dia 11 para decidir, no plenário, se vota pelo afastamento ou não. Dilma fez um último apelo pela unidade nacional. Não disse como, mas a ideia que visceja entre os governistas é antecipar as eleições.

Lá de Brasília, Michel Temer, bradou:

– É golpe.

Seja como for, a recepção para Dilma em Salvador foi algo tipo, da parte dos baianos, ‘aqui você será sempre bem-vinda’. E nesse ponto, Rui Costa esbanja a dignidade, tipo leal até o fim, dê no que der, algo raro em política.

Beco sem saída

Afonso Florence (PT), o líder do governo na Câmara, admitiu que a situação de Dilma ‘é muito difícil’. Mas também prevê dificuldades para Temer. Impopular, o vice, uma vez na presidência, terá que tomar medidas impopulares.

Tem a vantagem de já ter sido presidente da Câmara, o que, em tese, significa trânsito fácil no cenário que cassou Dilma, mas Florence acha pouco, ‘pela falta de legitimidade’.

Rui e Leão (Foto Ulisses Dumas Divulgação)
Rui e Leão (Foto Ulisses Dumas Divulgação)

Leão amigo

No seu discurso, Rui Costa fez uma analogia entre o vice dele, João Leão, e o de Dilma:

— Esse não é amigo da onça!

Claro. Leão e onça não se bicam.

Os esquecidos

Na solenidade de ontem, Dilma agradeceu aos deputados baianos que votaram ‘não’ ao impeachment. Ou melhor, tentou. Citou os presentes, mas esqueceu de alguns, pediu ajuda a Afonso Florence (PT), líder do governo na Câmara, que por sua vez também esqueceu.

Os esquecidos: Zé Rocha (PR), que estava presente, e Luiz Caetano (PT). Quando já tinha acabado, Florence interveio: ‘Peraí, peraí, peraí…’.

Aí saiu o nome do último esquecido: Félix Mendonça Júnior, do PDT. Em compensação, saudou Cacá Leão e Negromonte Jr, ambos do PP, que se abstiveram de votar.

Epigrama do senador

Eleito por aclamação para presidir a Comissão do Impeachment no Senado, Raimundo Lira (PMDB-PB ), fingiu surpresa e, imediatamente, tirou do bolso o discurso de posse. Antonio Lins tascou o epigrama:

Eu quero ser bem preciso,
O Senado que me perdoe:
A eleição foi de improviso,
Mas o discurso não foi.

 Jorge Solla encaminha profissionais do programa Mais Médicos, para os municípios baianos (Foto: Carla Ornelas/GOVBA)
Jorge Solla encaminha profissionais do programa Mais Médicos, para os municípios baianos (Foto: Carla Ornelas/GOVBA)

Mais médicos

O deputado Jorge Solla (PT) viajou ontem para Brasília sozinho no avião com Dilma e a ministra Miriam Belchior.

Conversou com Dilma sobre a necessidade de resolver o caso dos médicos intercambistas, contratados pelo Mais Médicos em 2013, na primeira fase do programa. Os contratos de três anos vencem no segundo semestre. Para renovar, eles precisariam fazer o Revalida.

Não fizeram.

No Brasil, 1.458 médicos estão nesta situação, sendo que 379 o contrato vence esse ano. Em Salvador, são 13. Vai ter que correr contra o tempo (leia-se Temer).

D.O. digital

Nessa de conter despesas, Marcelo Nilo (PSC), presidente da Assembleia, suspendeu desde o início do mês a publicação impressa do Diário Oficial do Poder Legislativo, que agora só existe na versão digital.

Ele diz que os dividendos são visíveis:

— Vamos poupar em torno de R$ 500 mil.

Faltou diálogo

Leovigildo Souza, presidente do Sindicato da Construção de Itabuna, que junto com Mário Pithon foi expulso da diretoria da Fieb, diz que o motivo do racha foi o presidente Ricardo Alban:

— Ele não nos ouvia mais. Aí, ficou difícil.

Lixo do sufoco

Moradores da Rua Luiz Tarquínio, em Lauro de Freitas, se dizem angustiados com o prefeito Márcio Paiva (PP). Um monte de lixo em frente ao Posto Jóquei, próximo à Unime e ao Condomínio Especiale, vai fazer aniversário.

Agrava a situação o fato de estarmos em plena crise do Aedes aegypti e Márcio ser médico.

pao-de-mandioca/foto reprodução receitadevovo
pao-de-mandioca/foto reprodução receitadevovo

 

Mandioca em pauta

A Assembleia realiza sessão amanhã (9h30) para discutir a cadeia da mandioca, do plantio à industrialização.

O deputado Eduardo Salles (PP), autor da proposta, vai apresentar o projeto de lei que obriga as padarias baianas a usar 10% da fécula de mandioca no trigo do pão, por ele chamado de ‘pãozinho baiano’.

Cartilha da seca

Ex-deputado, ex-prefeito de Paramirim (agora de novo candidato) e apaixonado pelas coisas do sertão, Gilberto Brito acaba de lançar a cartilha ‘Convivência com a seca’.

Dá dicas, para o sertanejo e os governos, de como mitigar o enfrentamento do fenômeno.

Posse na ABL

A professora Alice Marcelino Cardoso toma posse amanhã (20h) na cadeira 28 da Academia de Letras da Bahia.

Assume a vaga da historiadora Consuelo Pondé de Sena.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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