Publicado em 06/10/2016 às 09h26.

Empresas fora do jogo político abriram espaço para o crime: e aí?

A direita fazia isso dosado. A esquerda no poder, com o PT à frente, perdeu a noção dos limites e enfiou o pé

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Nem as derrotas nem as vitórias são definitivas. Isso dá uma esperança aos derrotados, e deveria dar uma lição de humildade aos vitoriosos

José Saramago, escritor português, Prêmio Nobel de literatura de 1908 (1922-2010)

 

Foto: Divulgação PF
Foto: Divulgação PF

 

O jogo eleitoral, até 2014, era nutrido por doações empresariais da seguinte forma:

1 — As grandes empresas tinham verbas para distribuir a rodo com os políticos, mais para quem estava no poder, mas também um pedaço para os oposicionistas, na base do ‘ninguém sabe o futuro’.

2 — A compensação empresarial era visível. Não havia licitação e sim um jogo combinado: na hora todos botavam um preço, sempre para cima, a compensação das doações, e assim cada um pegava uma obra, conforme o acerto.

3 — Os políticos recebiam as doações pelo caixa 1 ou 2. Nada impedia que um pedaço fosse para o bolso. Assim, muitos ficaram ricos.

A direita fazia isso dosado. A esquerda no poder, com o PT à frente, perdeu a noção dos limites e enfiou o pé. Resultado: veio a Lava Jato e explodiu o esquema.

É isso que leva o juiz Sérgio Moro e procuradores a dizer que a política se tornou um jogo criminoso.

Há um consenso entre os políticos: nada daqui para frente será como antes. A questão: o quê fazer?

A experiência de 2016, de modo geral, foi aprovada, mas criou um subproduto: a saída do empresariado com o jogo ilícito, abriu espaço para outros criminosos, como traficantes, nos casos mais graves, e também agiotas.

Esse é imbróglio que Câmara e Senado tentam desmanchar.

Otto no Senado

Dos 162 candidatos que disputaram as eleições de domingo pelo PSD de Otto Alencar, 83 se elegeram. Ou seja, em matéria de prefeitos, o partido é o maior da Bahia.

Otto diz que isso se deve a um fato:

— Eu conheço a Bahia de ponta a ponta, de Abaré a Mucuri.

Otto se diz satisfeito com o modelo de financiamento adotado este ano, sem doações de empresas, só com a utilização do Fundo Partidário, mas adverte:

— Meu medo é que isso abra espaço para o crime organizado, ou agiotas, como já acontece no Rio. Isso está se tornando uma preocupação generalizada.

Em Simões Filho

Otto diz que o assunto foi discutido no Senado, quando ele se pronunciou, e disse que os traficantes estão cada vez mais se aproximando dos políticos:

— Eu disse que vi uma foto de Dinha, o prefeito eleito de Simões Filho, ao lado de uma pessoa que me disseram ser traficante. Mas não falei que ele foi financiado pelo tráfico, como disseram. Ele ganhou a eleição porque teve mais votos, teve méritos. E não sou que vou tirar esse mérito.

Pioneirismo em Itabuna

Dizem em Itabuna que Fernando Gomes (DEM) já se candidatou a prefeito de caso pensado: se vencesse e não pudesse assumir, haveria nova eleição, conforme a nova lei, caso em que ele apresentaria a mulher, Sandra.

Fernando venceu, mas nega armação. Diz estar confiante que assumirá o mandato. Ele tem duas pendências de contas que a Justiça Eleitoral vai julgar com base na lei ficha limpa. Se resolver, assume. Se não, nova eleição.

A situação de Itabuna é pioneira, conforme a nova legislação.

Ou seja, não existe precedente e muito menos jurisprudência na justiça.

Arerê em Itaquara

Marco Costa, o Marco de Dr. Geo (PSB), de 23 anos, festejado como o mais jovem prefeito eleito da Bahia, já estreia na vida pública enroscado em velhíssimos problemas, um escândalo de compra de votos.

Acionadas a 1h30 do dia 1º para apurar um suposto sequestro, duas guarnições da Cipe (Companhias Independentes de Policiamento Especializado) prenderam os suspeitos num Ford KA com muitas cédulas enroladas em santinhos de Marco, e uma lista com o nome das pessoas.

Agravante

Marco venceu a prefeita Iracema Araújo (PMDB) com 2.572 votos contra 2.535, apenas 36 de frente. Uma S10 Hylux, também envolvida no suposto sequestro, foi apreendida, sem falar que encontraram R$ 17.223, mais diversas folhas de cheques preenchidas com valores diversos e os destinatários.

A carroça que voou

Antônio Alves dos Santos, o Carroça (PP), tem uma história interessante. Era pobre, ganhava a vida transportando laranja da roça para a cidade numa carroça (daí o apelido), se deu bem na vida.

Em 2004, elegeu-se prefeito de Rio Real; em 2008 reelegeu-se; em 2012 não fez o sucessor, perdeu para Orlando do Banco (PSB); mas domingo último retomou a prefeitura, ganhando do próprio Orlando.

— A única coisa que falam de mim é que eu gosto de uns birinaites.

Nilo se aposenta

Após a inesperada derrota de domingo (as pesquisas da véspera apontavam a vitória) na disputa pela Prefeitura de Guanambi, o ex-governador Nilo Coelho anunciou a aposentadoria.

Numa rádio local, agradeceu os correlegionários, a todos que o ajudaram, mas avisou que não mais disputará cargos eletivos.

Disputa apertada

A julgar pelo resultado das urnas, Cabaceiras do Paraguaçu teve uma das eleições mais trincadas do último domingo.

Abel Santos (PTB) venceu Paulo Silva, o Paulinho (PRP) por 4.566 votos contra 4.558. Apenas oito de diferença.

Aposentadorias na gaveta

A Associação dos Analistas Técnicos do Estado da Bahia (Ateba) quer saber se não há mais obrigatoriedade de se cumprir decisão judicial transitada em julgado.

As solicitações de aposentadoria dos seus associados dormem nas gavetas da PGE e na Suprev/Saeb, esperando um procurador dar um parecer.

 E a Yasuna vem?

A prefeita de Una, Diane Rusciolelli (PT), fez campanha tentando a reeleição com a promessa de instalação na cidade de uma montadora de motos da Yasuna, investimento de R$ 62 milhões. Ela perdeu para Tiago de Dejair (PP) e ficou a pergunta: a Yasuna é coisa séria ou blefe?

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.