Publicado em 11/11/2016 às 09h13.

Enfim, a privatização do jogo está prestes a cair. O bicho legal vem aí

A Caixa Econômica administra um turbilhão de loterias e o governo esforça-se para manter a reserva de mercado criminalizando outras práticas igualmente tradicionais

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Las Vegas é o único lugar onde o dinheiro realmente fala. Ele diz: ‘adeus’”

Frank Sinatra, cantor e ator norte-americano, referindo-se à terra dos cassinos (1915-1998).

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O Movimento Brasil sem Azar (contrapondo-se ao Instituto Brasil Jogo Legal) evoca a Organização Mundial da Saúde para lembrar que o vício do jogo é tão nocivo como álcool e cocaína. Respeita-se. Os seus integrantes são contra qualquer tipo de jogo. Mas eis a questão: ele existe e é praticado em larga escala, oficial ou clandestinamente.

Não é o caso, seguramente, do Estado brasileiro. A Caixa Econômica administra um turbilhão de loterias e o governo esforça-se para manter a reserva de mercado criminalizando outras práticas igualmente tradicionais, como o jogo do bicho. Então, por que não legalizar?

Só não venham me dizer que a jogatina é papel de Estado. Seja lá quem for o patrono, o grande ganhador é sempre a banca e a União come no prato sem concorrência oficial há muito. Sem sucesso. O bicho, o mais tradicional dos clandestinos, com larga credibilidade, atrai multidões, muito mais que os suspeitos caça-níqueis, onde muito se gasta e nunca se ganha.

O bicho, cassinos e caça-níqueis estão a um passo da legalização.

É questão de dias. Ainda em 2016, garantem senadores e deputados.

Dois projetos

Há dois projetos engatilhados, um do Senado e outro da Câmara. Adiante, as duas Casas vão fundir ambos num só. Ou deixar prevalecer o que for aprovado primeiro.

O da Câmara, mais completo, que teve como relator o baiano Elmar Nascimento (DEM), está prontinho e carimbado para votação. Deve ir a plenário ainda este ano. O do Senado, que não depende de tantas comissões para ir ao voto, também.

Olho gordo 1

Ficou definido que estados com população de até 15 milhões de habitantes terão direito a um cassino, de 15 a 25 milhões, casos de Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dois e acima disso (só São Paulo), três.

O governo pretende arrecadar R$ 30 bilhões no primeiro ano e R$ 60 bilhões a partir do quinto.

Elmar diz que, além dos impostos, haverá ganhos adicionais, como no caso dos estados que terão cassinos: vão abrir as portas para um turismo internacional que hoje não existe.

— Eu particularmente defendo que, dos dois da Bahia, um fique em Salvador e outro em Ilhéus, para revitalizar aquela parte da Bahia, muito sofrida após a pane do cacau

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Há grupos interessados na Bahia. Elmar diz ter sido procurado por representantes do Las Vegas Sand Corporation, do magnata Sheldon Adelson, e do grupo que controla o Monticello Grand Casino, o maior do Chile.

Jogo do bicho

Os interessados vão se credenciar no governo federal e depois nas Secretarias de Segurança, fundar empresas, apresentar garantias financeiras, buscar alvarás nas prefeituras e fixar os seus pontos. Vão pagar impostos normais, além de uma taxa.

Em síntese, vão funcionar como uma empresa qualquer, prestando contas à Caixa Econômica

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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