Publicado em 21/03/2019 às 17h21.

Grupo chefiado por Temer tinha ‘conduta típica de máfia’, segundo força-tarefa

Procurador destacou que organização do MDB buscou em outro momento obstruir a Justiça, ao tentar comprar o silêncio do doleiro Lúcio Funaro

Rodrigo Aguiar
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Foto: Reprodução / GloboNews

 

O ex-presidente Michel Temer (MDB) comandou por 40 anos uma organização criminosa com uma “conduta típica de máfia”, afirmou nesta quinta-feira (21) o procurador regional da República José Augusto Vagos, em entrevista coletiva da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

Ao defender a necessidade da prisão preventiva do ex-chefe do Palácio do Planalto, Vagos reafirmou que Temer chefiava um grupo no MDB que buscou em outro momento obstruir a Justiça, ao tentar comprar o silêncio do doleiro Lúcio Funaro.

“Se foram capazes de fazer aquilo, continuam capazes de atos de obstrução de Justiça até hoje”, argumentou.

O procurador citou ainda outros emedebistas presos, que seriam integrantes da organização criminosa, como o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima.

“É inimaginável que você tenha prisões dessas pessoas e aquele indicado como líder possa permanecer solto”, defendeu.

Durante a coletiva, integrantes da força-tarefa reforçaram o papel do coronel Lima no suposto esquema. Segundo Eduardo El Hage, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio, o coronel tinha função de “arrecadar valores espúrios”.

A operação teve como base a delação de José Antunes Sobrinho, dono da Engevix. “A indicação do Othon Luiz Pinheiro Da Silva para a presidência da Eletronuclear foi obra do Michel Temer e, como contrapartida, foi exigida contratação da Argeplan. [A empresa] Foi subcontratada pelo consórcio vencedor para uma tarefa que não tinha a menor capacidade de executar. É uma empresa do coronel Lima que tem histórico de construções de baixa complexidade”, afirmou El Hage.

Conforme o coordenador, o acerto foi comprovado por meio da quebra de sigilo telemático e em e-mails de Othon apreendidos em 2015.

A procuradora Fabiana Schneider destacou que, apesar de passar a integrar somente nos anos 2000 o quadro societário da Argeplan, o coronel Lima já atuava pela empresa desde a década de 80.

A procuradora ainda apontou uma tentativa de transferência suspeita recente. “Foi identificado pelo Coaf uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie na conta da Argeplan. Esse fato ainda precisa ser mais bem investigado, mas de acordo com o que foi registrado pelo Coaf, aconteceu em outubro de 2018, depois da prisão temporária do coronel Lima”, disse.

De acordo com a força-tarefa, o banco não aceitou a operação e o dinheiro está “em circulação”.

O procurador Rodrigo Timóteo comentou duas operações realizadas para lavagem de dinheiro: por meio de uma obra na casa de Maristela Temer, filha do ex-presidente, e depósitos feitos em outra empresa do coronel Lima.

“O dinheiro saiu da caixa da Argeplan, que recebia valores de contratos com a Eletronuclear e acreditamos que outras estatais e órgãos públicos”, apontou.

De acordo com Timóteo, foram identificados depósitos em contratos fictícios da empresa Construbase, administrada por Vanderlei De Natale, que seria “muito próximo ao coronel e a Temer”.

“Foram 58 depósitos, que somam quase R$ 18 milhões a outra empresa do coronel lima, chamada PDA Projetos, por supostas prestações de serviços de engenharia, que não foram realizados. Era uma empresa de gaveta ou de fachada, que ficava ao lado da Argeplan, não tinha nenhum funcionário”, relatou.

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