Publicado em 08/04/2016 às 09h30.

Lava jato, um festival de fatos inéditos na história da República

O jogo político nacional sempre foi viciado; políticos de todos os lados sempre comeram no prato das empresas e, agora, na era do PT, em uma escala nunca imaginada

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Num país onde os representantes do povo são corruptos, desviar os jovens do mau caminho é tarefa árdua”

Sandra Regina Lamego, poetisa mineira (1962)

 

Foto: Reprodução/ EBC
Foto: Reprodução/ EBC

 

Pelo gigantismo e extensão da operação, a Lava Jato é algo inédito na história do Brasil. O jogo político nacional sempre foi viciado; políticos de todos os lados sempre comeram no prato das empresas e, agora, na era do PT, em uma escala nunca imaginada.

E será que a Lava Jato vai mesmo passar o Brasil a limpo? Provavelmente não mas, com certeza, após o escândalo, o país jamais será o mesmo. Não tem como, até porque, de agora por diante, essa de dar e receber dinheiro virou uma ação temerária para as duas partes.

A Lava Jato traz no seu rastro outro mérito: o de produzir uma sucessão de fatos inéditos nesta longa história do Brasil de tantos corruptos impunes. Veja os principais:

1 – Tamanho

Desde que Cabral aqui chegou nunca houve um escândalo de tamanha dimensão, na extensão da roubalheira e no volume roubado. Tanto dinheiro que R$ 1,5 milhão, o prêmio maior do BBB, virou fichinha.

2 – Estabilidade institucional

Antes, quando o poder central era questionado, a República inteira ficava em risco. Agora, não. O governo está emparedado e justiça, ministério público e polícia funcionam normalmente.

3 – Prisões

Também nunca se viu executivos de grandes empresas presos. Hoje todos estão na cadeia, abrindo o jogo.

4 – Delação premiada

Já existia e Alberto Youssef, o pivô da Lava Jato, já foi beneficiário no escândalo do Banestado, no Paraná. Não parece ter sido eficaz. Agora, pela escala e personagens envolvidos, ganhou outra dimensão.

5 – Nomeação de ministro

Sempre foi ato pessoal do presidente, da mesma forma que nomear secretários é de governadores e prefeitos. Com Dilma, pela primeira vez, tais atos foram judicializados com Wellington Lima e Silva (na Justiça) e com Lula. Em ambos, a eficácia presidencial não prevaleceu até agora.

6 – Ex-presidente ministro

Nunca houve na história um ex-presidente que pretendesse voltar ao poder como ministro. Ou seja, ser índio na tribo em que já foi cacique. Lula topou ser ministro de Dilma e deu rolo. A pendenga está na justiça sob o argumento de desvio de finalidade. Ou melhor, ele estaria pretendendo ganhar o foro privilegiado, que virou sinônimo de impunidade.

7 – Grampos

Nunca se viu um grampo oficialmente autorizado envolvendo o Presidente da República. Dilma esperneia, mas o fato está consumado.

8 – Fidelidade no PMDB

Desde a ditadura, o PMDB, quando ainda era o MDB e só existiam dois partidos – ele e a Arena -, o partido cobrou fidelidade de alguém. Na época, dividia-se entre ‘autênticos’ e ‘adesistas’. Daí por diante, em todos os governos sempre teve um pé na máquina e outro na oposição. Agora cobra fidelidade, ameaçando expulsar dois infiéis, os ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Kátia Abreu (Agricultura).

9 – Senador preso

Também nunca se viu um senador ou deputado federal, no mandato, ser preso por ordem do STF, por isso lá é o foro em que todos querem estar. A prisão de Delcídio Amaral, senador do Mato Grosso do Sul, quebrou a regra.

Osvaldo Barreto (Foto Divulgação GOV/BA)
Osvaldo Barreto (Foto Divulgação GOV/BA)

Barreto pede o boné

Osvaldo Barreto, secretário de Educação da Bahia, está se despedindo da pasta. Já entregou a carta de demissão a Rui Costa e só aguarda a escolha do substituto.
Barreto não confirma e nem desmente, mas é. Ele tem dito a amigos que a Secretaria está toda organizada e a missão está cumprida.

Navio epigramado

O novo navio francês adquirido pelo governo brasileiro para a Marinha, apresentado anteontem em Salvador, com Dilma presente, é o alvo do epigrama de Geraldino Lima.

Primeiro “Minas Gerais”
depois “Bahia” a fragata
de procedências iguais
vem da França outra sucata

Na República Dominicana

Preso no início do ano, o marqueteiro João Santana, o Patinhas, ainda é figura de proa na campanha eleitoral lá (a eleição será 15 de maio). Os adversários do presidente Danilo Medina, para quem ele trabalhava, tudo fazem para associá-lo à corrupção de cá.

Ou seja, a Lava Jato contaminou a campanha lá.

Minha casa Minha Vida em Feira de Santana. (Foto Haroldo Abrantes/SECOM)
Minha casa Minha Vida em Feira de Santana. (Foto Haroldo Abrantes/Secom)

 

Ou a casa ou a vida

Dizem, em Feira de Santana, que os conjuntos do Minha Casa Minha Vida estão se transformando em algo tenebroso, Ou a casa ou a vida. Traficantes chegam e dão o ultimato aos moradores, sem meias palavras.

Anteontem, no conjunto Aviário II, a polícia retomou o apartamento 204 do Bloco 34 (onde achou grande quantidade de drogas) e botou no registro: Livre no tráfico.

Rotina perversa

O coordenador da Polícia Civil, João Uzzum, diz que tais episódios estão se tornando comuns.

Numa das visitas a Salvador, abordada sobre a questão, a presidente Dilma disse ter ciência, mas fez a ressalva:

— Mas o percentual é muito pequeno.

Está crescendo, pelo visto.

Jipeiros na chuva

Os aficcionados do jeep, ou jipeiros, aqueles veículos cujos donos adoram colocar em estradas de chão (de preferência enlameadas) para transitar, fizeram acordo com a Prefeitura de Salvador para atuar junto com a Defesa Civil no período das chuvas.

Vão assinar a adesão com ACM Neto amanhã (9h), na Rua Coronel Pedro Ferrão, na Baixa do Fiscal, área de risco.

Off Road (foto reprodução wikipedia)
Off Road (foto reprodução wikipedia)

Evacuação simulada

Os clubes do Off Road são Free Road, Clube do Wrangler, Jipeiros de Alma, Clube do Tracker, Coligação 4×4, Bahia Expedition, Toyers do Brasil e Clube do Troller.

A assinatura do acordo coincide com uma simulação de evacuação.

Divaldo na luta

O médium Divaldo Franco e os psicólogos Cláudio e Iris Sinoti darão sequência amanhã (16h) na Mansão do Caminho (Pau da Lima) aos Encontros da Série Psicológica Joanna de Ângelis.

Água no ISC

A entrada custa a apresentação de 15 cupons fiscais.

Leo Heller, pesquisador da Fiocruz-MG, professor da UFMG e relator especial do Direito Humano à água e esgoto da ONU, participa hoje da abertura do semestre letivo do Instituto de Saúde Coletiva da UFBa. Falará (10h) sobre o tema água e saneamento como direito humano.

Congresso da UFBa

O Congresso da UFBa, que vai acontecer em julho, para marcar os 70 anos da instituição, está bombando. Mais de dois meses antes, tinha até ontem 1.078 inscritos, 702 estudantes, 135 docentes, 121 servidores, 21 terceirizados e 99 visitantes.

O Congresso da UFBa será um mega evento acadêmico. Até o momento, já há 156 propostas de apresentação de trabalhos, 80 já submetidas e 76 em processo de finalização pelos autores.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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