Publicado em 23/04/2017 às 07h30.

Lula ajudou liderança da Braskem ao tirar Petrobras da concorrência, diz Odebrecht

Em depoimento à Operação Lava Jato, Emílio Odebrecht falou das negociações para evitar a reestatização do setor

Redação
Foto: Paulo Giandalia / Estadão Conteúdo
Foto: Paulo Giandalia / Estadão Conteúdo

 

O depoimento de Emílio Odebrecht, presidente do conselho do grupo Odebrecht, à Operação Lava Jato, revelou que a subida da Braskem à liderança da indústria petroquímica no Brasil envolveu negociações entre o grupo e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de Emílio, quem também depôs no acordo de delação premiada e confirmou a versão foi Carlos Fadigas, ex-presidente da Braskem.

Segundo eles, o grupo Odebrecht recorreu a Lula para resolver impasses na relação com a Petrobras e evitar que a empresa se tornasse concorrente da Braskem. Divulgados após o ministro Luiz Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a Procuradoria-Geral da República (PGR) a investigar políticos brasileiros, os relatos mostram como a Braskem, empresa criada em 2002, se tornou um dos negócios mais relevantes do grupo Odebrecht.

A empresa produz petroquímicos, que são a base para diferentes plásticos e resinas. Com quase R$ 50 bilhões de faturamento anual, a Braskem responde por cerca de 40% da receita do grupo Odebrecht. Emílio disse que participou de uma reunião com Lula logo no início do seu primeiro mandato para cobrar um “compromisso de governo com um setor petroquímico” feito durante sua campanha, que era de que a Petrobras não entraria nesse setor e que não ocorreria uma “reestatização” da indústria petroquímica.

Ele afirma que Lula firmou um compromisso, durante sua campanha, de não estatizar o setor petroquímico, mas que parte dos ministros do primeiro mandato e da diretoria da Petrobras vinham boicotando o projeto. Emílio Odebrecht diz ainda que pediu uma reunião com Lula e com os ministros da Fazenda e de Minas e Energia para falar do projeto – na época Antônio Palocci e Dilma Rousseff. Ele queria ter “uma discussão definitiva” sobre o assunto.

“Ele aceitou e convocou essa reunião. (…) Nós preparamos um material de exposição e apresentamos tudo nessa reunião, e mostramos exatamente a todos, que os estudos da Petrobras eram estatizantes nisso, nisso, nisso, naquilo e o que nós queríamos como investidores, pra gente saber se continuava ou não investindo no setor, era saber qual a posição do governo, já que o governo já tinha se posicionado que não haveria a reestatização do setor”, disse.

“Houve uma série de discussões e o presidente tomou uma atitude. ‘Olha, a posição do governo é esta, e encarregou a Dilma ou o Palocci, não me lembro bem qual foi que ele deu maior ascendência, para que fizesse com que a Petrobras, via o Dutra (José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras) e sua diretoria, realmente procedesse dessa forma daí pra frente. Então essa reunião foi quase que um freio de arrumação [no setor]”, conta Emílio Odebrecht.

Ele disse ainda que o tema da reestatização “morreu” após essa reunião. Nos anos seguintes, a Braskem avançou no setor petroquímico e fez 10 aquisições de empresas em 10 anos.

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