Publicado em 23/11/2015 às 07h03.

Lula e as vaias da Liberdade

Levi Vasconcelos

Ou Lula (e o PT) ainda não se deu conta do que se passa ou adota o discurso que vem propalando por falta de outro.

Ele vem bradando duas meias verdades.

1 – Que o governo vem sofrendo sistemática perseguição midiática.

2 – Que a crise econômica é resultado da crise mundial.

No primeiro caso, tem isso e muito mais que isso. Mídia não derrota ninguém e ele próprio é um exemplo. Em 2005, sofreu um linchamento midiático tão voraz quanto o de hoje no apogeu do mensalão e, no ano seguinte, surfou nas urnas, se reelegendo com tranqüilidade para a Presidência.

Por que? A economia ia bem e os programas sociais, como o Bolsa Família (pela escala), ainda novos, criavam uma sensação de bem estar para ricos e para pobres.

Hoje é o inverso. Ricos estão fechando empresas e pobres perdendo o emprego. A Lava Jato é tempero forte, mas só ganha a força midiática da qual ele tanto se queixa porque fogo só pega em palha seca. E a palha está seca, cada dia secando mais.

Até pouquíssimo tempo atrás seria inimaginável ver Lula recebendo vaias na Liberdade. Mas foi o que aconteceu sexta passada, justo num evento coordenado pelo Movimento Negro, ao qual ele sempre foi muito ligado, particularmente na Bahia.

O fato foi também emblemático. Lula até arrancou algumas palmas quando lembrou o que fez de bom para o segmento. Mas ali ficou bem visível à vastidão do drama petista: o lado mau, a Lava Jato e a crise econômica, está mais forte e tamponou o lado bom.

Óbvio que Lula só foi lá por achar que iria encontrar um ambiente amigo. A ‘inteligência’ petista falhou. Na véspera, os organizadores da Marcha da Liberdade, um dos eventos importantes do Dia da Consciência Negra, já haviam entrado em briga com os que discordavam.

Perdedores nos bastidores, os do contra Lula chamaram os defensores de ‘capitães do mato’, xingamento maior dos negros, por ser referência aos negros que iam pelo mato caçar escravos fugitivos a serviço dos senhores de engenho, se vingaram em público.

No segundo caso, o de creditar a crise brasileira pelos reflexos da internacional, também não cola. É sabido que Dilma represou os ajustes, que deveriam ser graduais, para ganhar a eleição. E na campanha, disse que tudo estava bem e não era bem assim. Mentiu e o próprio Lula já admitiu isso.

Não custa repetir: o que levanta ou derruba governo é economia. No caso brasileiro, agrava a falta de condições políticas do governo em tocar as soluções do problema, que de resto, foi ele próprio quem criou.

Todos os indicativos são o de que o ciclo petista se exauriu. E a cada dia os sinais ficam mais visíveis. A Liberdade ironicamente foi o mais pujante deles.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

Temas: Lula , crise , Liberdade

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