Neto acomoda aliados em reforma e mudanças sinalizam para 2018
Cientista político afirma que prefeito reforçou parte de gestão e política para possível candidatura ao governo do Estado
Pouca gente lembra, mas quando o democrata ACM Neto foi empossado prefeito de Salvador em 2013, tinha ao lado 12 secretários. Quatro anos depois, quando for repetir o ato, no próximo domingo (1º), terá 17.
Com poucos aliados no início da sua primeira gestão, o gestor soteropolitano tinha a metade da equipe formada por uma cota pessoal e os outros espaços foram destinados a apenas cincos partidos: PV, PTN, Pros, PMDB e PSDB. Mas, ao longo do tempo, o mapa político foi alterado.
O prefeito perdeu o PTN e o Pros para o governador Rui Costa (PT), mas ganhou outras legendas, que foram contempladas no seu segundo governo com cargos no primeiro escalão. Na próxima gestão, que se inicia no domingo, Neto reduz sua cota pessoal e abre a prefeitura para outras siglas – PRB, PTB e Solidariedade –, além daquelas que permanecem desde 2013.
O PRB e PSDB mereceram especial atenção do prefeito na reforma administrativa. Ambos duelaram com o PMDB pela vaga de vice na chapa, no entanto os peemedebistas triunfaram e indicaram Bruno Reis. Na época, em contrapartida, o democrata prometeu na composição do secretariado aos republicanos e aos tucanos pastas com destaque. Dito e feito.
A legenda tucana indicou os novos titulares da Secretaria de Educação, Paloma Modesto, e Ordem Pública, Marcus Passos, enquanto a sigla ligada à Igreja Universal ficou com a Promoção Social e Combate à Pobreza, com Tia Eron, e Manutenção, com Marcílio Bastos. Juntas, as agremiações vão gerir R$ 2,3 bilhões dos quase R$ 6,7 bi, sem contar o orçamento da chefia de Gabinete, comandada por João Roma, também do PRB.
O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas Neto, observa que, na reforma, o prefeito reforçou dois campos – gestão e política –, já na estratégia para sua possível candidatura ao Palácio de Ondina em 2018. A parte administrativa, sobretudo, com o retorno de Guilherme Bellintani (DEM), agora em uma pasta central.
“A Secretaria de Urbanismo e Desenvolvimento Econômico está fortalecida e tem como objetivo a retomada de uma tradição que já houve lá atrás, que é a de planejamento urbano da cidade. Bellintani já demonstrou ser um quadro de gestão muito eficiente. Já foi secretário de Cultura e Educação. Bellintani é um homem que vem do setor privado. Portanto, está afastado de qualquer hipótese de uma orientação hostil da iniciativa privada contra ele. Muito pelo contrário. Então, deverá ter uma gestão que valorize o setor privado nas questão da cidade, mas ao mesmo tempo traçando diretrizes claras para não permitir que a prefeitura seja conduzida pelo setor privado”, afirmou o especialista ao bahia.ba.
O segundo aspecto da reforma administrativa de Neto, que traça sua estratégia para 2018, é a extinção da Secretaria de Relações Institucionais. O futuro vice-prefeito Bruno Reis (PMDB) assumirá a função. “Se existe a possibilidade dele se desincompatibilizar daqui a dois anos para a candidatura ao governo, essa reforma teria que dar um passo no sentido de naturalizar a transição de gestão. Ao extinguir a secretaria, ele mostra intenção ou pretensão de que o vice-prefeito assuma o papel político da administração. Na verdade, está se armando o jogo em que você vai ter uma figura central na gestão, que será Bellintani, e do lado disso paulatinamente Bruno Reis assumindo funções mais claras no território político”, ponderou o cientista político.
Paulo Fábio Dantas ressalta ainda que, na função de articulador político, Bruno Reis terá um contato maior com vários atores. “Não apenas negociando com a Câmara, mas também com todos os atores sociais que se envolvem na questão da discussão da Câmara. Quando vai votar o projeto na Câmara, não é só apenas o vereador que se envolve, mas outros atores sociais, interesses empresariais e segmentos da sociedade, a depender de qual seja. Isso vai colocar o vice-prefeito em contato com o mundo real”, observou.
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