Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.
No jogo político, 2018 passa por 2016? Um pouco sim, mas nem tanto
A depender do ângulo que se observa, não e sim
Frase da vez
“Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave”
Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro (1902-1987)
A acirrada disputa das lideranças estaduais pelas 417 prefeituras baianas suscita a pergunta: prefeito influencia na eleição estadual?
Não e sim, a depender do ângulo que se observa. Destrinchando: não na disputa pelo governo, e a experiência baiana é farta em exemplos tais, o mais evidente deles em 2006, quando Jaques Wagner, com o apoio de pouco mais de 70 prefeitos, derrotou Paulo Souto, então governador, com mais de 300.
Mas sim na eleição de deputados federais, os que mais contam para cacifar partidos, e estaduais, já que os candidatos apoiados pelos prefeitos quase sempre acabam como os mais votados.
Salvador e Feira de Santana são casos emblemáticos: desde que o PT se instalou no poder estadual, ganhou todas nos dois. Em compensação, nunca governou nenhum dos dois.
A história tende a se repetir em 2016, pelo menos no plano municipal. A diferença este ano é que no miolo do jogo está ACM Neto, a principal liderança da oposição, disputando a reeleição em Salvador na condição de favorito (o mesmo com Zé Ronaldo, em Feira).
É evidente que para Neto manter-se em Salvador é fundamental, mas isso não significa uma catapulta para o governo. Em 2018, o jogo é outro. De cara, ele tem pela frente Rui Costa, um governador bem avaliado. E também é crucial a questão federal: como estará Temer? E o PT? E vai ter candidatos, favorito absoluto, de um lado ou de outro?
Diferente da pendenga municipal, a questão federal influencia sim. E muito. Mas isso é outra história que adiante falaremos.
Jogo feirense
Feira de Santana tem uma particularidade curiosa. Zé Ronaldo (DEM), o atual prefeito, venceu a primeira em 2000 tendo Colbert Martins (PMDB) como principal adversário, se reelegeu em 2004 contra o mesmo Colbert, tendo o petista Zé Neto estreando, ficando em terceiro bem lá embaixo.
Hoje, o vice de Ronaldo é Colbert. Mas em 2006 e 2010, Jaques Wagner ganhou lá e, em 2014, ganhou Rui Costa.
Fugindo da reeleição
Uma pesquisa feita pela União dos Municípios da Bahia (UPB) no início de julho, antes do início das convenções partidárias, revelou que entre os prefeitos dos 417 municípios baianos, 111 (27%) são reeleitos e 311 (73%) em primeiro mandato, portanto, aptos a disputar a reeleição. Mas, surpreendentemente, 62 (20%), um número alto, já tinham decidido não disputar a reeleição e outros 19 ainda avaliavam a situação.
Eis a questão: por que tanta gente desistiu?
Fala Quitéria
Segunda a presidente da UPB, Maria Quitéria (PSB), também prefeita de Cardeal da Silva, muitos dos que desistiram são pessoas de idoneidade largamente comprovadas. E fugiram da briga por desencanto:
— A questão-chave é a criminalização dos prefeitos. A lei estabelece índices de aplicação de recursos, limita gastos com pessoal, mas os repasses oscilam, nos últimos tempos, sempre para baixo. Aí, as contas são rejeitadas por quem não praticou nenhum ilícito e todos são jogados na vala comum (a dos corruptos).
Quitéria diz que a coisa é bem pior: muitos, não só decidiram não se candidatar, mas também sair da política.
E aí, não disse ela, mas digo eu, abre espaço para quem não liga para a moral.
Exceção da regra
Entre os que desistiram está o advogado Heráclito Arandas, de Jaguaripe, com mais de 80% de aprovação e ainda protagonista de uma raridade. Ele está recebendo uma bolada de R$ 12 milhões de uma causa que ganhou do Fundeb e vai deixar para o sucessor:
— Já dei minha contribuição.
Desvantagem
— Mas nestes tempos de dinheiro curto, o prefeito que disputa a reeleição tem uma imensa vantagem. A deputada Maria Del Carmem (PT), a vice de Alice em Salvador, agora vivendo na pele o drama de enfrentar o poder, se diz contra a reeleição:
— É uma luta muito desigual.
Esperando o milagre
Embora o vereador Antônio Elinaldo (DEM) lidere a disputa pela Prefeitura de Camaçari com folga (48,9%, 20 pontos acima do segundo, diz a pesquisa do Instituto Paraná/Record), o deputado Bira Coroa (PT) diz acreditar na vitória de Luiz Caetano (que tem 28%).
— Elinaldo chegou ao teto. E, além disso está carregando gente de Salvador e Mata de São João para fazer número em seus eventos.
O time de Elinaldo diz que a opinião de Bira é suspeita. E que não vai entrar no já ganhou.
Dois doidos
Tô doido pra votar no doido/doido/doido!…
Você deve estar pensando que aí é o jingle do deputado Sargento Isidório, candidato a prefeito de Salvador pelo PDT, não?
Pois é de Josep Bandeira, ex-prefeito e agora candidato (já liberado pela justiça), outro que também chamam de doido e tal e, tal qual Isidório, assumiu o adjetivo.
Dizem que Isidório e Josep nada têm de doidos, apensas são convenientes. Mas na real, eles são mesmo meio lá, meio cá.
Vedete solitária
Comerciantes da Barra se queixam que estão esquecidos na campanha eleitoral.
O que dizem: a reforma que Neto fez lá, saiu pela culatra para eles (não há estacionamentos) e agora, na campanha, não liga para badalar nem na propaganda. E a outra banda, a da esquerda, já não dá bola para lá por ser tido como bairro de rico.
Enfim, a Barra virou o rico abandonado.
Tumbas e macumbas
A política está literalmente com o pé na cova. Na Bahia, diz Biaggio Talento, que fez a pesquisa, dois coveiros e seis agentes funerários são candidatos a vereador. Em São Paulo, três pais-de-santo também querem.
O poeta Antônio Lins sugere que os mortais eleitores fiquem muito vivos. E em homenagem aos candidatos, mandou o epigrama:
São candidatos das tumbas
Mas, para o paço municipal,
Vão trançando suas macumbas
No programa eleitoral.
Segurança nordestina
Eleito presidente do Conselho de Segurança Pública do Nordeste no fórum de secretários da área, realizado em Fortaleza, o secretário baiano da Segurança, Maurício Barbosa, não tem lá muito a festejar.
O nordeste ostenta os mais altos índices de mortes por armas de fogo do país, puxados por Alagoas, que entre 2002 e 2012, segundo o Mapa da Violência do ano passado, cresceu 54%, assumindo a primeira posição no país. A Bahia, com um crescimento de 36,3%, subiu da 15ª posição para a quarta. Ou seja, trabalho nessa área é o que não falta.
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