Publicado em 24/03/2017 às 10h03.

Partidos, no modelo do Brasil, são gol contra. Povo paga para apanhar

Uma nova legenda que nascer agora, sem nunca ter recebido um voto, já estreia levando a bolada de pouco mais de R$ 1 milhão por ano

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“O PT é, de fato, um partido interessante. Começou com presos políticos e vai terminar com políticos presos

Joelmir Betting, jornalista brasileiro (1936-2012)

Foto: Reprodução/Agência Brasil
Foto: Reprodução/Agência Brasil

 

Não raras vezes você está no aconchego do lar vendo tevê quando aparece algum ilustre desconhecido ancorado em algumas letrinhas e começa a estrilar ideias para salvar o Brasil. Anteontem, durante uma dessas, uma surpresa grande: o personagem em apreço, Roberto Jefferson, surgiu na tela pregando a reforma tributária como um dos fatores para a redenção nacional.

Para lembrar: ele foi o pivô do mensalão, escândalo que detonou a vida de petistas notáveis como José Dirceu. Com o detalhe: ele confessou que recebia a mesada (daí o nome “mensalão”). Réu confesso, portanto. Foi condenado a 7 anos e 14 dias. Cumpriu parte e está solto. E livre para nos ensinar como fazer um Brasil melhor. Dá para acreditar?

Isso acontece porque ele é o dono do partido, o PTB. No Brasil é assim. Alguém funda o partido, não elege os diretórios (o que institui mandatos), forma comissões provisórias que eles deletam na hora que quiserem, e reina absoluto, como um soberano.

O pior: quem paga as aparições na tevê e a manutenção de tais partidos somos nós. Nas inserções comerciais, as tevês ganham créditos abatidos em impostos. Os partidos nos custam R$ 869 milhões por ano do Fundo Partidário. São 35 partidos, outros 20 no prelo. Virou um negoção fazer um.

Um partido novo, que nascer agora, sem nunca ter recebido um voto, já estreia levando a bolada de pouco mais de um milhão por ano.

Ora, partidos na sua concepção saudável devem ser o agrupamento de pessoas com ideias afins. No Brasil, na quase totalidade, é ajuntamento de quem se predispõe a assinar uma ficha sem nem saber para que.

Daí é que, ao opinar contra o voto em lista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso soltou:

— Mas o povo nem sabe os nomes dos partidos. Não são partidos, a maioria são legendas…

Tal cenário nos revela uma das boas contribuições para nossa desmoralização política.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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