Procuradoria-Geral da República tende a considerar legais escutas
Aos assessores mais próximos, Janot disse que vai tratar do assunto "de forma serena" e sem "contágios políticos"
A Procuradoria-Geral da República está inclinada a considerar as escutas das conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como legais. O procurador-geral, Rodrigo Janot, termina neste sábado, dia 19, sua turnê de uma semana pela Europa e, a partir de segunda-feira (21), vai avaliar o caso e um eventual pedido de inquérito contra Lula e a presidente Dilma Rousseff.
Durante a viagem, o chefe do Ministério Público não escondeu de pessoas próximas o fato de estar “inconformado” com a atitude de Lula de dizer que colocaria “medo” nos procuradores da Lava Jato
As gravações realizadas pela Polícia Federal com a autorização do juiz Sérgio Moro têm sido alvo de polêmica. Aos assessores mais próximos, Janot disse que vai tratar do assunto “de forma serena” e sem “contágios políticos”.
Na Europa, Janot já foi questionado por colegas do Velho Continente sobre as interceptações feitas pela Lava Jato e como se justificavam. A explicação é de que as gravações se referiam a “suspeitas de crimes”.
O procurador-geral também deixou claro que nenhuma conversa de “cunho pessoal” havia sido incorporada no processo ou tornada pública. A própria Dilma, em discurso na solenidade de posse de Lula como ministro da Casa Civil, criticou a atitude de Moro e o que costuma chamar de “vazamentos seletivos”.
‘Ingratidão’
Numa das conversas gravadas, Lula se queixa de “ingratidão” de Janot que, apesar de ter sido nomeado em 2013 e 2015 pelo governo Dilma Rousseff, não teria dado a mesma atenção a suspeitas contra o senador tucano Aécio Neves (MG) como a dada pelo Ministério Público a integrantes do PT. “Essa é a gratidão. Essa é a gratidão dele por ele ser procurador”, ironizou Lula ao advogado e ex-deputado pelo PT do Distrito Federal Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, no dia 7 de março.
Janot teria confessado a pessoas próximas a ele que se sentiu “traído” pela forma como Lula agiu ao ironizar sua “gratidão” e ao sugerir que os procuradores devem ser “amedrontados”.
O procurador-geral tem elogiado o fato de que Dilma tenha respeitado a lista de nomes apresentados para a escolha do chefe da procuradoria-geral da República – os governos do PT indicam ao cargo o mais votado pelos procuradores.
A insatisfação com as falas de Lula captadas pelos grampos da Lava Jato já havia motivado uma declaração pública de Janot em resposta à “gratidão” devida pelo cargo. Na quinta-feira, o procurador-geral disse a jornalistas que “cargo público não é presente” e que só tem gratidão à sua família.
‘República de Curitiba’
Em uma das gravações captadas pela Lava Jato, em 28 de fevereiro, Lula disse que “se a nossa bancada tiver animada, ela pode fazer a diferença nesse processo com o Moro, com Lava Jato, com qualquer coisa”, referindo-se a aliados no Congresso.
“Eu acho que eles têm que ter em conta o seguinte, bicho, eles têm que ter medo”, disse. Lula também ataca a força-tarefa da Lava Jato. “Eu estou, sinceramente, estou assustado é com a república de Curitiba porque a partir de um juiz de primeira instância tudo pode acontecer nesse País”, disse.
Janot afirmou a seus aliados que as ameaças e planos de Lula são “inaceitáveis”. Foi por esse motivo que, para mandar um recado de volta e reforçar o trabalho dos procuradores, Janot fez questão de falar com a imprensa na quinta-feira, 17, em Berna para dizer que “não temia ninguém”, que tem “couro grosso” e que “o combate à corrupção continuará firme e forte”.
O que também surpreendeu Janot foi a atitude de menosprezo de Lula com a Justiça. “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado”, disse o ex-presidente, num outro trecho de conversa com Dilma.
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