Publicado em 31/08/2016 às 09h10.

Sem carisma e sem encanto, Temer inaugura a era da falta de esperança

Temer chega ao poder pela porta do lado e o PT até tenta carimbá-lo como destruidor das conquistas sociais

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“É urgente eliminarmos da mente humana a ingênua suposição de que seja possível sairmos da grave crise em que estamos mergulhados, usando o mesmo pensamento que a produziu”

Albert Einstein, físico alemão, pai da Teoria da Relatividade (1879-1955)

(Foto: Evandro Derze/PMDB).
(Foto: Evandro Derze/PMDB).

 

Posto que o impeachment de Dilma seja favas contadas, não é que Michel Temer inaugura um fato novo no jogo político pátrio?

Explicando: a história recente do Brasil é marcada por dois biombos maniqueístas entre o bem e o mal no trato da coisa pública, ambos cunhados pela esquerda, ressalte-se.

Na ditadura, o biombo era bem explícito. Quem era a favor do governo, demonizado, quem era contra, santificado. A ditadura caiu, a sociedade civil assumiu o poder, e viu-se que os santos não eram tão santos assim e nem os diabos tão diabólicos.

Instalada a democracia, o festival de desonestidades encruado do jogo político teve como santo salvador o PT, com o novo biombo, a vestal da pureza contra os malditos surrupiadores do dinheiro público.

O PT tomou o poder, deu no que deu. A Lava Jato botando os outros escândalos no chinelo e melando todo mundo.

Temer chega ao poder pela porta do lado e o PT até tenta carimbá-lo como destruidor das conquistas sociais. Ele promete “apenas” recuperar a economia e pacificar o país politicamente.

Nos dois lados, está aí a pretensão de um novo biombo, com anjos e demônios, mas o povo nem tchum. A moral na política naufragou no petrolão.

Talvez Temer traga alguma esperança, não por ele, mas pelo desastre em que o país estava mergulhado, na linha do pior que está, não fica. Mas a meleira da Lava Jato mostrando que há muitos corruptos impunes travestidos de representantes do povo, nos dá a sensação de que só restaram demônios.

Os inocentes

Fernando Collor de Melo, agora senador, ao declarar-se favorável ao impeachment, lembrou que também sofreu impeachment, mas acabou inocentado pelo STF.

Em suma, como Dilma se diz inocente. E pelos processos em si, talvez os dois estejam certos, mas convém fazer duas ressalvas:

1 — Se é que o é, ambos foram condenados pelo conjunto da obra.

2 — À Dilma, nada se imputa do ponto de vista pessoal, nem de trisco. E Collor está atolado até o pescoço na Lava Jato.

Embalo turístico

José Alves, o novo secretário de Turismo do estado, começou a imprimir sua marca. Ele diz que vai conversar com todos os segmentos para construir um projeto para 30 anos, além de resolver as demandas imediatas, e ontem esteve na Câmara de Turismo da Fecomércio para se dizer disposto a trabalhar em parceria com o setor privado.

Avani Duran, coordenadora da Câmara, diz que “o apoio é incondicional”. E Glicério Lemos, da ABIH-Ba, diz que a entidade aposta no êxito das iniciativas conjuntas.

Açúcar na rede

No embalo do impeachment, o deputado baiano Antônio Imbassahy (PSDB) entrou no olho do furacão por uma dessas que as redes sociais, com o seu festival de lixo, conseguem produzir.

Ele estava anteontem no Senado atrás dos senadores Aloísio Nunes e Aécio Neves, quando Dilma falava, sacudindo um saquinho. Alguém postou a imagem dizendo que tinha algum senador com cocaína em plenário. Imbassahy ficou irritadíssimo.

Ameaças

Aliás, por serem favoráveis ao impeachment, ele e Aécio receberam, também pelas redes sociais, ameaças de morte.

Por ser contra, o senador baiano Otto Alencar também recebeu ameaças.

Talvez isto sirva para abrir o debate no Brasil sobre a responsabilização autoral nas redes sociais, como nas outras mídias.

Cultura em festa

A Câmara de Salvador aprovou ontem por unanimidade o projeto que institui o programa Viva a Cultura ou Lei de Incentivo à Cultura na capital. O mundo artístico entrou em festa, e com bons motivos.

O projeto prevê renúncia fiscal de ICMS e IPTU de R$ 60 milhões ao longo de 10 anos, o que dá R$ 6 milhões por ano.

Na real, a nova lei, com o número 166/2016, revoga outra, a 6.800/2005, que estava inativa desde 2010.

Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, diz que o incentivo é mais abrangente, menos burocrático e mais eficiente:

— É uma vitória da classe artística.

Foto amiga

Rui Costa vai estar hoje, a partir das 11h, no Manhattan (Pituba), recebendo os candidatos a prefeito e vereador do PSL, o partido comandado na Bahia por Marcelo Nilo, presidente da Assembleia. É só para sessões de fotos, como ele já vem fazendo com outras agremiações aliadas.

Em tempo de dinheiro pouco, é só o que se dá.

Causa própria

O deputado João Bacelar (PTN) apresentou Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que impõe limites para o foro privilegiado que algumas autoridades, inclusos deputados, gozam.

Curioso: se for aprovado, ele próprio, processado por problemas quando era secretário da Educação em Salvador, cairá na Justiça comum.

Tombo à venda

A Coleção de Livros do Tombo do Mosteiro de São Bento, um conjunto de seis volumes que levaram 10 anos para serem organizados por 37 profissionais (patrocínio da Petrobras), está à venda.

Quem desembolsar R$ 300 leva.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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