Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.
Temer, governo novo com sabor de velho (e bota velho nisso)
Ele não entrou no palácio para assumir a faixa presidencial pela porta da frente, foi pelo lado. E o Brasil entrou num buraco que requer medidas amargas
Frase da vez
“Um patriota deve sempre estar pronto para defender seu país contra seu governo”
Edward Abbey, escritor norte-americano (1927-1989)
Recorrendo àquela expressão do folclore linguístico pátrio, “haja o que hajar”, Michel Temer está fadado a acabar o governo em 2018 ostentando altos índices de impopularidade.
Simples. Ele não entrou no palácio para assumir a faixa presidencial pela porta da frente, foi pelo lado. E o Brasil entrou num buraco que requer medidas amargas. Ou seja, Temer já não tem capital de popularidade para queimar e vai ter que adotar medidas impopulares.
Na tentativa de manter-se no poder, começou mal, acenando com o reajuste do judiciário, por exemplo, que só agora percebeu o óbvio, não ser possível conciliar o discurso de distribuir bondades para alguns segmentos e para outros, pedir sacrifício.
Vai desagradar, e tornar-se mais impopular ainda. Como ele se diz satisfeito com a política por chegar aonde chegou (mesmo do jeito que chegou), talvez até lá só tenha mesmo que preservar a integridade física.
Governos novos, seja qual for a dimensão da governança, dos pequenos municípios ao país, sempre significam esperança temperada com algo de encanto. Quase sempre resulta em frustração, mas nem ao encanto Temer teve direito.
Já começa assim, com o sabor do velho. E a julgar pelas figuras que o apoiam, dentro e fora do PMDB, bota velho nisso.
Ele só tem uma vantagem: Dilma foi tão mal, tão ruim, que nem Temer, com toda a sua falta de carisma pessoal e de acenos simpáticos, consegue provocar saudades dela.
Olha lá para não matar… 1
José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, traçou ontem um cenário desalentador para o SUS na abertura do XII Encontro Nacional de Economia e Saúde, que se realiza no Vila Galé, em Salvador.
O governo tem a obrigação de aplicar 13,2% da receita líquida em saúde, mas a equipe de Temer apresentou um projeto de emenda constitucional que retira a obrigatoriedade. A União cumpriria um valor mínimo, ainda não especificado:
— Isso pode significar cortes em torno de R$ 44 bilhões a R$ 65 bilhões.
Em suma, a saúde pública que já deixa a desejar, pode degringolar de vez. E o pior: se o cenário for como traça Temporão, teremos mortes em massa como política de estado.
Olha lá para não matar… 2
No encontro, promovido pela Associação Nacional de Economia e Saúde, em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, Temporão disse que, se a intenção se configurar, será uma tragédia. O orçamento previsto para 2016 é de R$ 118 bilhões e já é tido como pouco.
Muitos filantrópicos, já à beira da falência, vão fechar, vão faltar remédios, vacinas e afins.
Enfim, repetindo: vai morrer gente que pode viver tranquilamente, se tivesse uma assistência mínima, que está ameaçada de faltar.
Debates na tevê
Rogério Da Luz, candidato do PSDC a prefeito de Salvador, está coletando assinaturas dos outros cinco prefeituráveis, e alguns, a exemplo de Alice Portugal (PCdoB) e Fábio Nogueira (PSOL), já assinaram para denunciar uma suposta articulação de ACM Neto para não haver debates este ano.
Nada a ver. Pode ser que não haja os quatro debates como sempre acontece, mas por razões outras, especialmente contenção de gastos. Cada evento desses custa no mínimo R$ 100 mil entre cenário e organização, dinheiro que ninguém quer gastar em tempos de crise, que também atingiu os meios de comunicação de cabo a rabo.
Conversamos com os diretores das quatro principais emissoras de televisão de Salvador e todos negaram categoricamente qualquer ingerência política.
A Band não fará debates, a TV Itapoan/Record e TV Aratu ainda analisam o assunto, e a TV Bahia, dirigida pelo pai de Neto, ACM Júnior, confirma que vai ter sim, como sempre, o último da série, na quinta-feira da semana da eleição (29 de setembro). Veja o que disse cada um deles:
ACM Júnior – TV Bahia
— Só não definimos as regras ainda, mas com certeza faremos.
Fábio Trucilho – TV Itapoan/Record
— Nossa data é 25 de setembro, à meia noite, de um dia de domingo. Estamos analisando se convém tecnicamente ou não.
Ney Bandeira – TV Aratu
— Em princípio, a disposição é fazer, mas estamos avaliando. A questão está em aberto.
Cláudio Nogueira – TV Band
— Algumas emissoras da Band decidiram não fazer, como nós. Optamos por fazer entrevistas com todos os candidatos.
Adeus Jonga
Lideranças ligadas a Rui Costa avaliam que a adesão do deputado federal João Carlos Paolilo Bacelar (PR) a ACM Neto não fedeu e nem cheirou, já era esperada. Na real, o entorno de Rui nunca confiou em Jonga, como chamam João Carlos. Em 2014, ele tomou o PR das mãos do deputado José Rocha, que havia nomeado Pedro Galvão para a Secretaria de Turismo.
Jonga ensaiou indicar o sucessor de Pedro, sem sucesso. O cargo ficou com Nelson Pelegrino até José Carlos Araújo tomar o partido e nomear José Alves.
Com Cunha
No impeachment de Dilma, Jonga Bacelar até votou contra, fazendo uma gracinha para os governistas.
Mas nem assim passou a gozar da confiança dos governistas baianos. Ele sempre foi carimbado como aliado de Eduardo Cunha. E no Conselho de Ética, apoiou Cunha.
Mulheres em cena
A Comissão de Direitos da Mulher e o Memorial da Câmara de Salvador vão inaugurar hoje (16h) uma exposição bastante interessante: Vereadoras de Salvador 1936-2016. A mostra vai trazer o perfil de cada uma das 28 vereadoras que atuaram lá durante esse período.
Convenhamos, para o esforço que se faz a fim de estimular as mulheres a participar da política, inclusive com propaganda oficial da justiça eleitoral, é pouca gente.
Mas a vereadora Aladilce Souza (PCdoB), presidente da Comissão, diz que a relevância da participação não se expressa em números.
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