Publicado em 14/06/2016 às 09h11.

Tia Eron dá a volta por cima e manda Cunha às favas

Deputada começou bradando que "ninguém manda nessa nega aqui", dando a entender que diria não, mas cravou sim na hora do voto

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“O poder não corrompe o homem. É o homem quem corrompe o poder. O homem é o grande poluidor”

Ulysses Guimarães, político brasileiro (1916-1992)

(Foto: Reprodução/Facebook Tia Eron).

 

A deputada Tia Eron (PRB) surpreendeu a mídia e o mundo político ao votar nesta terça-feira no Conselho de Ética. Dez entre dez jornalistas e deputados davam como certo que ela diria não ao relatório que pede a cassação de Eduardo Cunha. Ela começou bradando que “ninguém manda nessa nega aqui” e, na hora do voto, cravou sim.

Tia Eron disse mais. Que não estava ali para atender políticos de Rio e São Paulo, referindo-se ao senador Marcelo Crivela, candidato a prefeito do Rio, e ao deputado Celso Russumanno, prefeiturável em São Paulo, ambos do partido dela, que sairiam prejudicados num eventual voto em favor de Cunha, que na opinião pública, virou sinônimo de sujeira.

Ela própria, convenhamos, contribuiu para gerar todo esse falatório. Primeiro, não foi à sessão de quinta (9), quando o relatório seria votado. Depois, trancou a boca e a ninguém revelou o voto, o que vitaminou as especulações.

Pressionada por todos os lados, com intenso bombardeio nas redes sociais, os que querem ver Cunha cassado diziam que não adiantava ela “se queimar” no Conselho de Ética se em plenário a coisa não passaria.

Bom. Lá atrás, Tia Eron disse que iria contribuir para ajudar a passar o Brasil a limpo. E por aí mandou Cunha para o cadafalso. A cassação dele em plenário é dada como favas contadas.

E daí, cairá nos braços de Sérgio Moro, em Curitiba. Ou seja, vai para a cadeia.

Cunha dançou, mas Tia Eron saiu maior dessa história. Era uma ilustre desconhecida. Agora já nem tanto.

 

(Foto: Jane de Araújo/Agência Senado).

 

Vexame e corrupção

Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, não foi aos EUA ver o vexame da Seleção na Copa América. Sabe por quê? Todos sabem. Se fosse, não voltava. Ficava lá preso. Precisamente pelas falcatruas internacionais do futebol, com ele no meio.

Óbvio que tal situação em si já é um vexame moral que se traduz dentro de campo. Fora do Brasil, Del Nero é fugitivo. Aqui, é dirigente máximo do esporte mais popular dos brasileiros, ex-orgulho nacional.

Óbvio que isso não pode dar certo.

Roubou e perdão

O vexame diante do Peru é emblemático, pelas circunstâncias e pelos atores.

As circunstâncias: o Brasil vive um momento de faxina ética na política e a derrota calamitosa do escrete canarinho foi boa para lembrarmo-nos do futebol, que anda esquecido.

Os atores: por acaso, o juiz uruguaio que deixou de marcar um pênalti e validou o gol de mão do Peru chama-se Andres Cunha. De resto, se Del Nero é representante do Brasil, Ruidiáz, o jogador peruano do tal gol, ganhou 100 anos de perdão.

Alvo errado

Na festa dos 10 anos do Hospital da Bahia, ontem na Associação Bahiana de Medicina, em Ondina, um grupo organizado se prostrou na porta para chamar o ministro Ricardo Barros (Saúde), de “golpista”.

Ocorre que o primeiro a chegar foi o secretário da Saúde de Rui Costa, Fábio Vilas Boas, no carro oficial. O grito do grupo ecoou:

— Golpista! Fora golpista!

Pela culatra

Aliás, Ricardo Barros deve ter decepcionado as entidades médicas baianas. Ferrenhas adversárias do programa Mais Médicos e de novas faculdades de medicina, ouviram o que não queriam:

— Sabe quanto custa um médico do Mais Médicos? R$ 10 mil e pouco. Para os brasileiros, os prefeitos pagam R$ 30 mil e não tem quem queira ir. E sobre as faculdades, qual é a proposta de vocês?

Luislinda…

Embora tenha desmentido na semana passada, quando foi citada, a desembargadora aposentada Luislinda Valois vai mesmo para a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça. A nomeação saiu do Diário Oficial de ontem.

Ela foi a primeira juíza negra do Brasil.

… E Erivaldo

Também saiu no D.O., a nomeação do economista Erivaldo Oliveira da Silva, que é professor da Ufba, para a presidência da Fundação Palmares. São os novos baianos do movimento negro em Brasília.

As duas nomeações foram uma ação articulada, com o DNA de Geddel. A oposição baiana queixa-se de que a presença dela no movimento negro é pouca.

(Foto: Divulgação).

 

Robério na briga

Marido da prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira (PSD), que vai tentar a reeleição, o deputado Robério Oliveira (PSD) diz que a candidatura dele a prefeito de Eunápolis, município que ele já governou de 2005 a 2012, é quase irreversível.

— O caminho está sendo esse. Os eleitores querem e eu vou topar.

Ele diz que não vê maiores entraves fazer duas campanhas, a dele e a da esposa:

— Cláudia está bem em Porto. E eu em Eunápolis. Está tudo sob controle.

O MP e o caixa 2

O procurador eleitoral da Bahia, Ruy Mello, está recomendado aos promotores que redobrem os cuidados nas eleições deste ano. E tudo indica, trabalho é que não vai faltar para o Ministério Público. Com a proibição do financiamento privado de campanhas, todos dizem que 2016 é o ano do “caixa 2”. É só ir atrás e conferir.

Em tempo: a previsão é que as eleições deste ano sejam as mais judicializadas de todos os tempos.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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