Publicado em 21/03/2017 às 09h35.

Voto em lista fechada vira maldição. Será? Ou a corrupção sugou a razão?

O eleitor não saberia quem elege. Por tabela, os partidos ficariam superpoderosos, donos absolutos de cada mandato, independente das opiniões pessoais dos eleitos

Levi Vasconcelos

Frase da vez

Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave”

Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro (1902-1987)

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

O Brasil entrou em um beco sem saída. Fazer eleição do jeito que foi em 2014, que somou quase R$ 20 bilhões nos 18 mil candidatos no país. É caro e não tem mais Odebrecht e Cia para financiar.

Tem que mudar? Sem dúvida. Como fazer propostas limpas em um Congresso sujo? Ou melhor, uma Câmara e um Senado melados pela Lava Jato têm condições de fazer isso?

A proposta que vinha ganhando força para evitar a gastança era o da instituição do voto em lista. Por ele, o eleitor deixa de votar em pessoas, como sempre foi. Cada partido apresenta sua lista e os eleitos serão os primeiros colocados de cada uma delas, a depender do percentual de votos que obtiveram.

Exemplo: se na Bahia temos 39 deputados federais, um partido que obtivesse 33,3% dos votos elegeria os 13 primeiros, e assim sucessivamente.

A proposta acendeu o pavio. Até a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, levantou-se para dizer que tal modelo pode eternizar no poder os senhores que controlam os partidos, os donos, além de propiciar as condições para garantir os acusados de corrupção de hoje no poder.

O voto em lista baratearia as campanhas, mas carrega ainda outras desvantagens. O eleitor não saberia quem elege. Por tabela os partidos ficariam superpoderosos, donos absolutos de cada mandato, independente das opiniões pessoais dos eleitos.

E nossos partidos, nascidos e nutridos com dinheiro público, muitos deles meramente cartoriais, só para alguns garantir o seu quinhão nas tetas, têm moral para açular tanto poder?

Eis a questão: o Brasil precisa encontrar caminhos para sair do atoleiro moral, mas os atores do processo estão atolados. Estamos nisso.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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