Publicado em 23/06/2018 às 07h07.

Waldir Pires esbanjou os exemplos de dignidade que hoje tanto nos faltam

Waldir Pires está no time dos que entram para a história do nosso tempo como um ícone da ética

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade”

William Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês (1564-1616)

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

Oscar Niemeyer dizia que a vida é assim, cada um vem, dá o seu recado e vai embora. Waldir Pires está no time dos que entram para a história do nosso tempo como um ícone da ética, dos princípios civilizatórios mais elevados, algo tão escasso nos nossos dias, com o tempero de uma imensa cordialidade pessoal (extensiva aos adversários).

Waldir tinha 91 anos de idade e 70 de vida pública, 40 dos quais o jornalista Emiliano José, que semana passada lançou o primeiro volume da biografia dele, compartilhou, diz que a firmeza na defesa dos princípios democráticos, da igualdade social, de gênero e raça, o tornava uma pessoa especial:

— Ele nunca descansou. Vai descansar agora.

Honras e vivas

Waldir, que até o ano passado ia na Lavagem do Bonfim sempre parando para tirar fotos, antigamente, e selfies, mais recentemente, fez sua última aparição pública quinta-feira passada, no Palácio Rio Branco, justamente no lançamento do primeiro volume do livro ‘Waldir Pires’, de Emiliano José.

A casa estava lotada. Cantaram os jingles de campanha dele, bateram palmas, a emoção dominou o ambiente. A jornalista Isabel Santos ouviu ele balbuciar, bem audível:

— Eu amo vocês todos.

Lá de Paramirim, um município seco, o prefeito Gilberto Brito (PSB) acena:

— Lá se foi um homem de bem. Foi ele quem começoua botar água encanada no sertão de Paramirim.

Erro de cálculo

Waldir Pires ainda jovem, lá pelo final dos anos 40, teve tuberculose, conta o jornalista Emiliano José, biógrafo dele. Passou longo período de recuperação, mais de seis meses, em Minas Gerais. No início dos anos 50, uma recaída. Depois teve febre tifo numa época em que muita gente morria por causa disso. Tomou os medicamentos que baixou as estatísticas de mortes ainda nos seus primórdios, um quase cobaia. Por isso ele sempre dizia:

— Acho que vou morrer jovem. Ou se ficar velho, terei uma velhice sofrida.

Ressalva Emiliano:

— Não aconteceu nem uma coisa e nem outra.

Waldir Pires foi a Lavagem do Bonfim a pé, da Conceição a Colina Sagrada até 2016.

Em 1982, candidato ao Senado, estava em Camacã, ao lado de Roberto Santos, candidato ao governo. No meio de uma ladeira Roberto parou. Waldir indagou:

— O que houve?

— Vou dar uma descansadinha.

E Waldir:

— Vamos, Roberto. Candidato não cansa.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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