Publicado em 07/03/2017 às 07h00.

Crise põe em risco funcionamento do Colégio da Soledade

Com quase três séculos de atuação, instituição vinculada à Ordem das Irmãs Ursulinas atribui parte do desequilíbrio financeiro à inadimplência, que chegou a 17% em 2016

Jaciara Santos
Colegio da soledade (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação

 

Às vésperas de completar 278 anos e com um histórico que se confunde com a própria história da Bahia – naquele 2 de julho de 1823, quando os baianos festejavam a consolidação da Independência, as irmãs Ursulinas confeccionaram as coroas de louro que foram entregues aos heróis pelo padre Antônio José Gonçalves de Figueiredo – o Colégio Nossa Senhora da Soledade está ameaçado de fechar as portas. Com uma inadimplência que chegou a 17% no ano passado e expressivo desequilíbrio entre receita e despesas, a centenária organização, que integra a União Romana da Ordem Santa Úrsula, chegou a cogitar suspender as atividades em 2018.

Em reunião com pais de alunos, ao final do ano passado, a direção avisou que o funcionamento da escola estava nas mãos deles. A diretora Rita Brandão confirmou ao bahia.ba que vinculou a manutenção do estabelecimento de ensino ao fim da inadimplência. “O que eu disse naquela reunião foi exatamente isso: a Soledade funcionará até quando vocês desejarem”. Segundo ela, quem deseja que o colégio continue a funcionar precisa honrar seus compromissos financeiros. Entretanto, a educadora não afirma nem nega que o colégio esteja na iminência de fechar. Diz que “a situação já esteve bem mais difícil”, mas não responde se considera já saneadas as finanças da instituição.

Assumindo uma atitude defensiva, a diretora atribui a informação obtida com exclusividade pelo bahia.ba a pessoas mal intencionadas. “Eu sei de onde estão partindo essas conversas”, reage. Mas, mais uma vez, não nega nem confirma a ameaça de fechamento. Nas entrelinhas, entretanto, deixa transparecer o peso da crise que ronda a instituição.

Por exemplo, quando a reportagem menciona o impacto que representaria o fechamento de um espaço secular como a Soledade, ela nem titubeia: “Essa é uma situação que pode acontecer com qualquer instituição!”. E cita o exemplo do Colégio Dois de Julho que, em 2013, anunciou a suspensão de algumas turmas e passou por um processo de reestruturação para enfrentar a crise.

Descontos – Na Soledade, algumas medidas têm sido implementadas como forma de driblar o momento difícil. O corte de descontos na mensalidade que, em alguns casos, chegam a 80%. Atualmente, apenas filhos de funcionários mantêm esse porcentual, os demais critérios foram revistos, muitos dos quais suprimidos. A diretora confirma a revisão nos benefícios e dispara: “Tinha gente que nem precisava”, diz. “Ganhava o desconto e usava o dinheiro para outras coisas”.

A professora Rita Brandão não quis passar dados mais abrangentes sobre o colégio. Encerrou a conversa, dizendo que só continuaria a falar pessoalmente.

Referência – De acordo com informações no site do estabelecimento, o colégio surgiu com a fundação da Casa Nossa Senhora da Soledade, em 28 de outubro de 1739, pelo Padre Gabriel Malagrida, missionário jesuíta, italiano. Funcionou, a princípio, como um “recolhimento” para jovens e adolescentes do sexo feminino que queriam ingressar na vida religiosa. O trabalho educacional, propriamente, foi iniciado pelas irmãs Ursulinas em 1896.

Localizada no topo da Ladeira da Soledade, região da Liberdade, a instituição ainda infunde respeito no segmento de educação. Por lá passaram personalidades como a escritora Mabel Veloso, do clã dos Veloso, de Santo Amaro. Mas, embora seja uma referência nos meios educacionais, a Soledade corre o risco de sucumbir à crise.

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