Iphan lança campanha para valorizar ‘Ofício das Baianas de Acarajé’
Iniciativa foi motivada pela Associação das Baianas, que relatou sobre as interferências que afetavam a identidade do bem cultural e a essência da prática tradicional de produção e venda
“No tabuleiro da baiana tem”…. séculos e séculos de tradição, história e referências culturais. O cantor e compositor baiano, Dorival Caymmi, já sabia disso quando apresentou ao Brasil essa e uma outra música bem conhecida: “Todo mundo gosta de acarajé… o trabalho que dá pra fazer que é!”
Agora, em pleno século XXI, toda essa ancestralidade, responsável pela formação cultural brasileira, estará em destaque na campanha de valorização das baianas de acarajé.
A ação de promoção, realizada por meio de uma forte parceria (e sem verbas públicas) foi lançada no dia 17 de dezembro, no Espaço Cultural da Barroquinha, em Salvador.
A pedido da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Ministério da Cultura apoia o movimento que tem como objetivo principal valorizar os saberes, habilidades e conhecimentos relacionados ao Ofício das Baianas de Acarajé, Patrimônio Cultural do Brasil desde 2005.
A iniciativa foi motivada pela Associação das Baianas, que relatou ao Iphan sobre as interferências que afetavam a identidade do bem cultural e a essência da prática tradicional de produção e venda. Entre as observações feitas pelas baianas estavam a produção do bolinho em larga escala realizada por fábricas; a ausência das vestimentas tradicionais; e a mudança no nome africano da comida oferecida aos orixás.
Um ofício sagrado
Os elementos essenciais do Registro do Ofício das Baianas de Acarajé compreendem os rituais envolvidos na produção, na arrumação do tabuleiro e na preparação do lugar onde se instalam, os modos de fazer as comidas de baiana; o uso do tabuleiro para vendas de comida; a comercialização informal e o uso das indumentárias própria das baianas como marca distintiva de sua condição social e religiosa.
A vestimenta, característica dos ritos do candomblé, é composta por turbantes, panos e colares de conta, também constitui um forte elemento de identificação desse ofício. A descaracterização cultural das roupas que vinha ocorrendo em Salvador motivou, em 2015, um decreto municipal que buscou preservar esse ícone cultural. A Lei determinou o uso da vestimenta típica de acordo com a tradição da cultura afro-brasileira quando doexercício de suas atividades em logradouros públicos. A justificativa era a de que a baiana do acarajé é um conjunto de itens, não se tratando apenas da fritura de um quitute.
O trabalho das baianas é considerado uma das profissões femininas mais antigas do país, conta Rita Santos, presidente da ABAM. Só em Salvador, são cerca de 3.500 baianas de acarajé, segundo estimativa da Associação. “Essa iniciativa contribui não somente para manter viva as nossas raízes, mas também fortalece o trabalho que é fonte de geração de renda para as baianas e atrativo turístico para a capital de Salvador”, finaliza.
O Acarajé no Brasil
A preparação do àkàrà je, que significa comer bola de fogo na língua Iorubá, desembarcou no Brasil junto com os escravos oriundos do Golfo do Benim, na África Ocidental. No universo do candomblé, o acarajé é comida sagrada e ritual, ofertada aos orixás, sendo uma das razões pela qual a receita do acarajé se mantém sem muitas alterações.
Transmitida oralmente ao longo dos séculos por sucessivas gerações, o acarajé, bolinho de feião fradinho frito no azeite de dendê, era comercializado no período colonial pelas escravas de ganho ou negras libertas, proporcionando a elas a sobrevivência após a abolição da escravatura. Séculos depois, o ofício ganhou o Dia Nacional da Baiana do Acarajé, comemorado em 25 de novembro e, desde 2017, a profissão foi incluída na lista de Classificação Brasileira de Ocupações.
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