Publicado em 31/05/2019 às 13h00.

Bahia tem a maior taxa de infecção por HTLV no país, aponta Fiocruz

Ainda sem cura, o vírus pode causar doenças como leucemia, disfunção erétil e problemas neurológicos; de acordo com a pesquisa, Salvador é o epicentro da infecção

Redação
Foto: Reprodução/Pixabay
Foto: Reprodução/Pixabay

 

O estado da Bahia tem a maior taxa de infecção pelo vírus linfotrópico da célula T humana (HTLV) no Brasil. Uma pesquisa, desenvolvida pela Fiocruz Bahia e coordenada pela pesquisadora Fernanda Grassi, fez uma estimativa a partir de dados fornecidos pelo Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (LACEN-BA).

Os focos principais de infecção foram encontrados em Salvador, Região Metropolitana, Barreiras, Extremo sul e região central. No entanto, cerca de 95% dos municípios do estado relatou pelo menos um resultado positivo. Do total de amostras positivas analisadas, cerca de 92% eram de HTLV-1, cerca de 3% de HTLV-2 e 5% foram positivas para coinfecção pelo dois vírus. 

O vírus

O HTLV é um retrovírus que pertence à mesma família do HIV, que infecta um dos tipos de células humanas de defesa. As principais formas de transmissão são através da relação sexual, aleitamento materno e agulhas de seringas contaminadas.

Diferente do HIV, que destrói o sistema imunológico, o HTLV provoca alterações sistêmicas que prejudicam a qualidade de vida e causa doenças como leucemia, incontinência urinária, disfunção erétil e problemas neurológicos. Ainda não há cura.

Para o estudo, foram analisadas amostras de cerca de 234 mil indivíduos, de 394 municípios, no período de 2004 a 2013. As amostras eram, em sua maioria, de doadores de sangue, gestantes e indivíduos que apresentavam sintomas de doenças infecciosas do sistema público de saúde. 

A média de casos positivos em todo o estado foi de 14,4 por 100 mil habitantes, que representa a prevalência de infecção em 0,84% da população. No trabalho, os pesquisadores salientam que esse número pode estar subestimado.

Também foi observado um aumento no número de casos positivos em todas as microrregiões da Bahia, principalmente após o ano de 2008, no qual foi encontrado cerca de 4 casos de HTLV por 100 mil habitantes, em comparação com, aproximadamente, 10 casos por 100 mil no período final (2009-2013).

Perfil e distribuição geográfica

O Brasil é considerado uma área endêmica para o HTLV, sendo as regiões Norte e Nordeste com a maior prevalência da doença. Segundo os cientistas, Salvador é o epicentro da infecção pelo HTLV, no país, e pertence a uma das três microrregiões que tiveram taxas acima de 20 casos positivos para HTLV por 100 mil habitantes: Barreiras (24,83), Salvador (22,90) e Ilhéus-Itabuna (22,60).

Na maioria das mesorregiões do estado, a pesquisa detectou uma proporção maior de mulheres infectadas pelo HTLV-1. De acordo com os pesquisadores, esse resultado pode ser atribuído às amostras que eram, principalmente, do sexo feminino e, além disso, a transmissão do vírus é conhecida por ser mais eficiente de homens para mulheres.

Ainda no estudo, os autores explicaram que o vírus foi introduzido no país com o tráfico de escravos trazidos da África, principalmente para as cidades do Nordeste. Além disso, os dados apresentados no estudo apontam que as microrregiões com as maiores taxas de infecção da Bahia foram as com predominância de comunidades quilombolas.

Apenas 5,5% dos municípios (com cerca de 260 mil pessoas) não enviaram nenhuma amostra para o LACEN-BA durante o período do estudo.

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